Por Adrieli Evarini

“A ficha não caiu ainda. Ele faz muita falta, era uma pessoa muito presente na família. Ele caminhava todos os dias com a minha mãe. A forma que encontramos de superar tudo isso é um dando apoio ao outro na família. Na família e com os amigos. Os amigos dele apoiam muito a gente.” O desabafo de Fernanda Souza reflete a saudade que a família e os amigos sentem de Altamir Ricardo de Souza. O jornalista e fotógrafo de 44 anos, conhecido como Sabonete, é irmão de Fernanda. Ele morreu em 16 de dezembro de 2013, em um grave acidente de carro em Jaraguá do Sul, a poucos metros de sua casa.

O caso provocou grande comoção em toda a cidade, pois tanto a vítima como o motorista suspeito de provocar o acidente eram rapazes bastante conhecidos. Agora, a história deve ter um desfecho na próxima terça-feira (27). É neste dia, às 9h, no Fórum de Jaraguá do Sul, que o réu no processo, o motorista Willian Pierre Galvan, será julgado pelo Tribunal do Júri.

Galvan responde pelo crime de homicídio simples. Inicialmente, ele havia sido indiciado por homicídio qualificado, mas em recurso de segundo grau, a defesa conseguiu fazer com que a qualificadora fosse excluída do processo. Embora caiba recurso da acusação, o júri será conduzido para julgar o crime de homicídio simples.

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Fernanda com a foto do irmão, Altamir: expectativa de que seja feita justiça com a condenação

“A expectativa é que ele seja condenado, que a justiça seja feita”, destaca a irmã de Altamir, revelando o desejo da família e de seus amigos. Para o advogado Rodrigo Novelli, que atua como assistente de acusação e representa os pais de Altamir, a expectativa é uma só: justiça. “O eventual uso de veículo de forma inapropriada faz com que ele se torne uma arma e quem atua de forma indevida merece ser responsabilizado”, ressalta.

O advogado explica ainda que a família busca a justiça e entende que a condenação, conforme determina a lei, será reflexo dessa justiça. “Eu fico honrado em participar de um processo onde a população de Jaraguá pode aplicar a lei, conforme ela foi estabelecida. De fazer justiça”, completa.

Filho mais velho de uma família com outros dois irmãos, Altamir era solteiro, não tinha filhos e tinha acabado de construir um apartamento em anexo à casa da família. Para a irmã, Fernanda, apesar de ser um momento muito esperado, o julgamento também traz lembranças tristes da noite em que Altamir morreu. “É um momento que faz a gente reviver tudo que aconteceu e por isso é tão pesado. A gente se apoia muito em Deus, uns nos outros e nos amigos dele”, lamenta.

Defesa do acusado aposta na legalidade, e não na emoção

Para a defesa do acusado, o julgamento deve caminhar dentro da legalidade e não levar em consideração a emoção. “A expectativa é uma só, que se julgue não com a emoção. Que se julgue dentro dos princípios que determinam a norma legal”, afirma o advogado Jeremias Felsky.

O advogado explica que seguindo orientações da própria defesa Galvan não falará com a imprensa antes do julgamento. “O direito penal não está a serviço das partes, de nenhuma delas. Nem da vítima nem do acusado. Não se pode fazer um julgamento genérico, nem para aclamar dores de partes privadas e sim ao interesse público. Tenho certeza que irá ocorrer, pois já participei de muitos júris na cidade, que mais uma vez Jaraguá saiba fazer justiça sem se ater a emoções”, finaliza.

A advogada Ediléia Buzzi explica que o processo ainda tem recursos pendentes de julgamento, mas que a princípio o réu será julgado por homicídio simples, com dolo eventual. “Há muitos pormenores nos autos do processo que não foram divulgados. A defesa objetiva esclarecer os fatos aos jurados e conseguir o melhor resultado para Willian, que certamente é merecedor. Casos como este, onde o fato decorreu de um acidente, são mais passíveis de fazer nos colocarmos no lugar do outro. A defesa confia na sociedade de Jaraguá do Sul”, enfatiza.

 

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Relembre o caso:

No final da noite do dia 16 de dezembro de 2013, o jornalista Altamir Ricardo de Souza dirigia um veículo CrosFox quando na esquina das ruas Barão do Rio Branco e Reinoldo Rau, no Centro de Jaraguá do Sul, foi atingido na lateral pelo carro de Willian Pierre Galvan. ]

Com o impacto, Altamir foi arremessado para fora do veículo e bateu a cabeça no meio-fio da calçada. O jornalista chegou a ser socorrido e encaminhado ao Hospital São José, mas não resistiu.

Segundo a decisão da juíza Anna Finke Suszek, que determina o julgamento pelo Tribunal do Júri, Willian Galvan estava embriagado no momento do acidente, conforme teste de bafômetro realizado pela Polícia Militar.

Além disso, ele estaria acima do limite de velocidade, dirigindo a 84 km/h em uma via que permite 60 km/h. Outro fator determinante foi confirmado por testemunhas ouvidas durante o processo. De acordo com elas, Willian teria ultrapassado o sinal vermelho no momento em que atingiu o carro dirigido pelo jornalista.