Médico de Jaraguá do Sul explica: terapia usada pelo ator Paulo Gustavo não é indicada para todos os pacientes com covid

Foto: Divulgação.

Por: Elissandro Sutil

28/04/2021 - 18:04 - Atualizada em: 28/04/2021 - 18:13

Muitas pessoas possuem algum familiar, amigo, vizinho ou conhecido lutando para se recuperar das complicações trazidas pela Covid-19. E nesse processo, cada relato de sucesso é um alívio, uma dose de força e esperança para acalentar quem vive à espera da notícia de uma alta hospitalar.

A melhora no quadro de saúde do ator Paulo Gustavo, internado há várias semanas em virtude de complicações trazidas pelo novo coronavírus, tem comovido muitas famílias e despertado o interesse pelo uso do mesmo tratamento em seus entes internados.

A terapia que vem sendo adotada para a recuperação do artista faz uso do ECMO (oxigenação por membrana extracorpórea), um equipamento que funciona como uma espécie de órgão artificial, geralmente utilizado em pacientes com disfunções cardíacas ou pulmonares.

O médico Dr. Thales Cantelle Baggio, cirurgião cardíaco e intensivista que trabalha na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital e Maternidade Jaraguá, em Jaraguá do Sul, esclarece que a tecnologia tem sido muito divulgada atualmente por conta da Covid-19, mas é um recurso utilizado há bastante tempo na medicina.

“Dependendo da forma como for instalado, o aparelho pode servir para substituir o pulmão ou o coração ou, ainda, os dois órgãos ao mesmo tempo. Ele realiza um desvio de sangue por fora do corpo, conhecido como circulação extracorpórea, oxigenando o sangue por meio de uma membrana.

Deste modo, ele pode fazer o papel dos pulmões ou do coração até o paciente se recuperar”, conta.
Embora seja útil no tratamento de casos de disfunções pulmonares como pneumonia ou síndrome respiratória grave, complicações que podem ser causadas por Covid-19, o equipamento serve apenas para dar mais tempo de recuperação ao organismo do paciente.

Por isso, o médico enfatiza que a ECMO não é capaz de tratar uma doença pulmonar ou cardiopatia e nem pode ser aplicada em todos os pacientes internados em decorrência da Covid-19.

“O aparelho funciona como uma terapia de ponte. É importante as famílias saberem que não é um tratamento tão definitivo, pois depende de uma série de fatores que o paciente terá que superar. No caso de disfunção pulmonar, por exemplo, o resultado também depende da recuperação dos pulmões, já que o aparelho não é capaz de fazer o trabalho sozinho”, observa.

De acordo com o profissional, a terapia não é recomendada para pessoas muito idosas ou que tenham alguma doença hematológica que altere a coagulação do sangue, nem para pacientes imunossuprimidos. Além de exigir uma série de cuidados e monitoramento em tempo integral da equipe de UTI, trata-se de uma técnica extremamente invasiva e, por esses motivos, torna-se inviável para muitos casos.

Há vários meses atuando diretamente no tratamento de pacientes de Covid-19 o médico esclarece que a indicação é somente para pacientes muito graves, pois existem riscos até mesmo na instalação do aparelho.

“Para drenar e oxigenar o sangue, precisamos instalar cânulas dentro de veias ou artérias. O tratamento também exige uso de anticoagulantes em doses maiores. Como a Covid-19 pode aumentar a incidência de tromboses e embolias, torna-se muito arriscado, pois pode provocar hemorragias graves”, alerta.