Dona Loni não lembra ao certo quantos partos chegou a fazer, mas calcula que mais de 15 mil bebês tenham nascido enquanto exercia o trabalho de parteira nos hospitais de Jaraguá do Sul, entre os anos de 1965 e 1997.
Leoni Krawulski, como foi registrada no cartório de Campo Alegre há 75 anos, especializou-se em enfermagem obstétrica em Florianópolis e logo depois se mudou para Jaraguá, onde vive até hoje.
Dos “31 anos, 11 meses e 15 dias” como parteira, ela guarda memórias, fotos e amor pela profissão. Já faz muitos anos, mas Loni ainda se recorda do momento em que decidiu que trabalharia auxiliando novas vidas a chegar a este mundo.
“Minha mãe estava grávida e foi internada, fui visitá-la e vi as enfermeiras trabalhando com as crianças. Quando cheguei em casa disse que queria ser como a mulher que tinha visto”, conta Loni. Anos depois, já formada, a profissional descobriu que sua avó materna também tinha sido parteira.
Enfermeiras faziam os partos e acompanhavam toda a gestação
Naquela época, eram as enfermeiras que faziam os partos e acompanhavam toda a gestação das pacientes. “Isso facilitava meu trabalho na hora do nascimento, porque elas confiavam em mim e ficavam mais tranquilas”, destaca Loni. Em casos de complicações ou de parto por cesárea, a equipe de médicos era chamada.
Loni atendeu tanto no hospital São José como no Jaraguá. No São José, ela lembra que no primeiro mês realizou 16 partos e, no segundo, 32. “Cheguei a trabalhar 60 horas direto, sem intervalo”, observa. Ela comenta que a capacitação em obstetrícia deixava as enfermeiras preparadas para todas as situações que poderiam ocorrer durante o parto.
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O caso mais difícil, segundo Loni, foi quando uma gestante do Rio Grande do Sul, que foi orientada pelos médicos a não engravidar, iniciou o trabalho de parto em Jaraguá. “O pré e durante foi tranquilo, mas quando o bebê nasceu, ela enfartou. Foi um choque muito grande, os médicos tentaram reanimá-la, mas não adiantou”, lamenta.
Como até o ano de 1988 não existia Sistema Único de Saúde (SUS), Loni chegou a fazer um convênio com a Prefeitura para atender as gestantes que não tinham condições financeiras para o atendimento médico.
“Fazer parto era realmente minha vocação, só parei pelo tempo de serviço e também para dar oportunidade aos novos profissionais que estavam se formando”, enfatiza.
Parteira: uma profissão árdua, mas gratificante
Para Loni, a melhor coisa em ser parteira é “poder levar o bebê até os braços da mãe e escutar o primeiro choro da criança”. “É uma profissão muito árdua, mas ao mesmo tempo gratificante”, acredita. Como a parte mais difícil do trabalho, Loni enfatiza a importância de tranquilizar a gestante e orientá-la.
“Antigamente quase todos os bebês nasciam por parto normal, eu sempre conversava com as mulheres sobre o assunto”, lembra. Além de presenciar os primeiros sinais de vida da criança, Loni também é reconhecida pelo trabalho anos depois.
“Uma vez, um rapaz veio aqui em casa dizendo que queria conhecer a dona Loni. Me olhou e falou ‘você não me conhece, sou filho de fulana de tal’. Ele também disse que achava que eu fosse bem mais velha”, brinca.
A enfermeira ainda fez partos de familiares, como cunhadas e sobrinhas. Loni trabalha como massoterapeuta há 20 anos, após ter se aposentado como parteira, mas as recordações dos bebês que ajudou a trazer ao mundo sempre a acompanham.
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