Mais de 15 mil bebês nasceram sob os cuidados da dona Loni

Por: Elissandro Sutil

07/03/2018 - 08:03 - Atualizada em: 09/03/2018 - 17:22

Dona Loni não lembra ao certo quantos partos chegou a fazer, mas calcula que mais de 15 mil bebês tenham nascido enquanto exercia o trabalho de parteira nos hospitais de Jaraguá do Sul, entre os anos de 1965 e 1997.

Leoni Krawulski, como foi registrada no cartório de Campo Alegre há 75 anos, especializou-se em enfermagem obstétrica em Florianópolis e logo depois se mudou para Jaraguá, onde vive até hoje.

Naquela época, eram as enfermeiras que faziam os partos e acompanhavam toda a gestação das pacientes | Foto Arquivo pessoal

Dos “31 anos, 11 meses e 15 dias” como parteira, ela guarda memórias, fotos e amor pela profissão. Já faz muitos anos, mas Loni ainda se recorda do momento em que decidiu que trabalharia auxiliando novas vidas a chegar a este mundo.

“Minha mãe estava grávida e foi internada, fui visitá-la e vi as enfermeiras trabalhando com as crianças. Quando cheguei em casa disse que queria ser como a mulher que tinha visto”, conta Loni. Anos depois, já formada, a profissional descobriu que sua avó materna também tinha sido parteira.

Enfermeiras faziam os partos e acompanhavam toda a gestação

Naquela época, eram as enfermeiras que faziam os partos e acompanhavam toda a gestação das pacientes. “Isso facilitava meu trabalho na hora do nascimento, porque elas confiavam em mim e ficavam mais tranquilas”, destaca Loni. Em casos de complicações ou de parto por cesárea, a equipe de médicos era chamada.

Loni tem orgulho de ter participado do nascimento de tantos jaraguaenses | Foto Eduardo Montecino

Loni tem orgulho de ter participado do nascimento de tantos jaraguaenses | Foto Eduardo Montecino/ OCP News

Loni atendeu tanto no hospital São José como no Jaraguá. No São José, ela lembra que no primeiro mês realizou 16 partos e, no segundo, 32. “Cheguei a trabalhar 60 horas direto, sem intervalo”, observa. Ela comenta que a capacitação em obstetrícia deixava as enfermeiras preparadas para todas as situações que poderiam ocorrer durante o parto.

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O caso mais difícil, segundo Loni, foi quando uma gestante do Rio Grande do Sul, que foi orientada pelos médicos a não engravidar, iniciou o trabalho de parto em Jaraguá. “O pré e durante foi tranquilo, mas quando o bebê nasceu, ela enfartou. Foi um choque muito grande, os médicos tentaram reanimá-la, mas não adiantou”, lamenta.

Como até o ano de 1988 não existia Sistema Único de Saúde (SUS), Loni chegou a fazer um convênio com a Prefeitura para atender as gestantes que não tinham condições financeiras para o atendimento médico.

“Fazer parto era realmente minha vocação, só parei pelo tempo de serviço e também para dar oportunidade aos novos profissionais que estavam se formando”, enfatiza.

Parteira: uma profissão árdua, mas gratificante

Para Loni, a melhor coisa em ser parteira é “poder levar o bebê até os braços da mãe e escutar o primeiro choro da criança”. “É uma profissão muito árdua, mas ao mesmo tempo gratificante”, acredita. Como a parte mais difícil do trabalho, Loni enfatiza a importância de tranquilizar a gestante e orientá-la.

Dona Loni relembra os mais de 15 mil bebês que nasceram sob seus cuidados | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Dona Loni relembra os mais de 15 mil bebês que nasceram sob seus cuidados | Foto Eduardo Montecino/OCP News

“Antigamente quase todos os bebês nasciam por parto normal, eu sempre conversava com as mulheres sobre o assunto”, lembra. Além de presenciar os primeiros sinais de vida da criança, Loni também é reconhecida pelo trabalho anos depois.

“Uma vez, um rapaz veio aqui em casa dizendo que queria conhecer a dona Loni. Me olhou e falou ‘você não me conhece, sou filho de fulana de tal’. Ele também disse que achava que eu fosse bem mais velha”, brinca.

A enfermeira ainda fez partos de familiares, como cunhadas e sobrinhas. Loni trabalha como massoterapeuta há 20 anos, após ter se aposentado como parteira, mas as recordações dos bebês que ajudou a trazer ao mundo sempre a acompanham.

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