Mãe passou anticorpos contra a Covid-19 ao bebê pela amamentação em SC

Foto: Divulgação

Por: Elissandro Sutil

30/06/2021 - 13:06 - Atualizada em: 30/06/2021 - 13:50

Uma criança de dois anos recebeu anticorpos contra a Covid-19 através da amamentação, em Tubarão, no Sul de Santa Catarina. Um exame de anticorpos neutralizantes confirmou o diagnóstico. A mãe, Maryucha Miranda de Oliveira, tomou as duas doses da vacina Astrazeneca e continuou amamentando o filho Joaquim.

Por ser fisioterapeuta, ela recebeu a primeira dose em março, e a segunda, no dia 24 de maio, no grupo dos profissionais da saúde. Ao saber da possibilidade de transmitir anticorpos para o filho através do aleitamento, ela continuou amamentando por mais 20 dias, após receber a segunda dose.

Joaquim não teve nenhum efeito colateral ou sintoma após ingerir o leite materno.

No exame indicado, o valor de referência de anticorpos é 19%. Joaquim possui 20% para as variantes de África do sul, Brasil e Japão, e 14,7% para a variante delta (indiana). Um infectologista confirmou à família que os anticorpos foram passados ao filho pelo leite da mãe.

Foto: Maryucha Miranda.

O secretário de Saúde de Tubarão, Daisson Trevisol, acompanha o caso e ficou feliz com a confirmação de que os anticorpos contra a Covid-19 possam ser transmitidos ao bebê pelo leite materno.

“É o primeiro caso confirmado da nossa região. Não é incomum, mas é interessante a gente saber dessa confirmação que os anticorpos passam da mãe para o filho”, comemora.

Maryucha conta que Joaquim tem uma doença autoimune, a Púrpura Trombocitopenica Idiopática e, por isso, costuma ter uma imunidade mais frágil. A mãe está agradecida com a conquista e ressalta a importância do aleitamento materno.

“Mães e lactantes devem continuar amamentando depois da segunda dose. A mãe precisa ficar imune para a criança ganhar a imunidade contra a Covid-19 — incentiva Maryucha”, lembra a fisioterapeuta.

Vacinação de lactantes no Estado

No dia 18 de junho, Santa Catarina iniciou a imunização em lactantes. Para receberem a vacina, é necessário apresentar prescrição ou declaração médica que ateste a sua condição. Esse grupo está sendo vacinado com as vacinas da Sinovac/Butantan e da Pfizer.

Em março, três meses antes da autorização, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) já havia publicado um documento em que recomendava a vacinação de mulheres que estavam amamentando.

Além disso, um estudo publicado neste mês pela Universidade de São Paulo (USP), realizado pelo Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, indicou a presença de anticorpos no leite de colaboradoras lactantes da unidade hospitalar, que haviam sido imunizadas com a Coronavac, vacina do Instituto Butantan.

Outros estudos realizados em países como Israel, EUA e Espanha, com o uso das vacinas da Pfizer, Moderna e Astrazeneca, tiveram resultados semelhantes.

Inclusive, o aleitamento materno é a principal via de compartilhamento de anticorpos da mãe para o bebê, como explica o pediatra e professor da Univille, Tarcisio Crocomo. E, por isso, é importante amamentar o bebê única e exclusivamente com o leite materno até os seis meses de vida e, se possível, manter a prática até o bebê completar ao menos dois anos.

“Muitos anticorpos são transmitidos através do leite materno, isso já é uma coisa consagrada, e que a gente recomenda e reforça a sua importância. Ainda mais agora que os estudos estão mostrando que as mães que foram vacinadas estão transferindo anticorpos que podem proteger o bebê”, salienta o especialista.