Na primeira vez em que os irmãos Alaís Cristina, 15 anos, e Danrlei Dräger, 17 anos, pisaram na capital catarinense, nem imaginaram que iriam sair de lá tão felizes quanto chegaram. Além da admiração pelas paisagens, e até mesmo pela ponte e túnel que compõe a parte urbana da ilha, os alunos fizeram história representando a escola Professor José Duarte Magalhães.
Ao lado do professor de biologia Elcio Paulo Matkevicz, os estudantes cravaram seus nomes conquistando pela primeira vez nos 11 anos da Feira Estadual de Ciências e Tecnologia uma nota máxima. Com 270 pontos, a maior pontuação possível de ser obtida com cada um dos jurados, Alaís e Danrlei ficaram com o primeiro lugar no nível ensino médio. Além deles, as estudantes jaraguaenses Shaiane Rayssa da Silva e Estefani Alves Vieira Maria Witthoeft, da escola Heleodoro Borges, ficaram na primeira colocação entre os trabalhos de educação profissional.
Com o imenso sorriso no rosto e olhos brilhando de alegria, os irmãos não seguravam a felicidade por terem vivido experiências, até então, inéditas em suas vidas. Eles apresentaram o projeto “A Importância dos Microrganismos Eficientes”, uma experiência prática com um composto orgânico que possibilita a substituição do uso de agrotóxicos no campo. Com a conquista em mãos, os dois se preparam para representar Santa Catarina na feira nacional, que deve ocorrer no próximo ano em Pernambuco.

Por estarem há cerca de um ano trabalhando no projeto – desde o surgimento da ideia, embasamento teórico até a aplicação prática – Alaís e Danrlei acreditavam em uma boa pontuação. “Estávamos bem confiantes porque conseguimos um projeto bem completo, tanto que foi isso que destacaram na hora de dizer quem era o vencedor”, lembra Danrlei, que cursa o terceiro ano do ensino médio. Para Alaís, esse é o momento em que a “educação está abrindo portas” para os dois. “Tanto para conhecermos novas ideias, projetos e novas pessoas. A troca de experiências e contato com outras pessoas durante esses dois dias de feira foi algo muito rico, acho que o mais legal de tudo”, completa.
O professor Elcio, que orientou e acompanhou os estudantes, reforçou a importância de dar o suporte necessário para os alunos desenvolverem projetos científicos já no ensino regular. “No caso deles foi muito tranquilo porque já vieram com o projeto basicamente pronto, já tinham certeza do que queriam fazer. É preciso estimular e dar apoio a esse tipo de iniciativa”, defende. Ele lembra que a escola já teve outras duas participações na feira estadual.
Impacto dos agrotóxicos inspirou os estudantes
Morando no interior do bairro Rio da Luz e vindo de uma família de agricultores, Alaís Cristina e Danrlei Dräger se inspiraram em uma situação delicada vivida pela família para criar o projeto. O avô dos estudantes contraiu uma doença causada pelo excesso do uso de agrotóxicos, composto utilizado por ele durante grande parte da vida.
A partir disso, eles decidiram descobrir maneiras de evitar o uso de implementos químicos na agricultura. Também perceberam os impactos que este tipo de cultivo leva à mesa da população. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o brasileiro consome em média um galão de cinco litros de agrotóxico por ano através da alimentação.
Após muitas pesquisas, tanto teóricas quanto experimentos práticos, utilizando o solo da propriedade da família como meio de análise, eles descobriram a importância e eficiência dos chamados microrganismos eficientes no cultivo orgânico.
Cultura que preserva o meio ambiente
Alaís e Danrlei começaram com uma pesquisa para descobrir de que maneira poderiam substituir o uso dos agrotóxicos no plantio, levando em conta que é preciso elevar a produtividade de alimentos de maneira proporcional ao aumento da população, preservar o meio ambiente e a saúde das pessoas.
Com isso, descobriram os microrganismos eficientes. “Eles tem a mesma função do agrotóxico, mas não fazem mal nem ao ser humano nem ao solo. Ajudam no crescimento e até no controle de pragas”, afirma Alaís. Ela lembra que poucos dias antes da feira, duas caixas do experimento, uma com microrganismos eficientes e outra sem, acabaram sendo atingidas por pragas. Naquela que havia o composto orgânico, a epidemia foi controlada.
Os irmãos explicam que os microrganismos eficientes são bactérias que existem no meio ambiente. Quando captadas e ativadas possuem capacidade fertilizadora, diminuindo o tempo de desenvolvimento da planta, proporcionando maior resistência às pragas e ainda mantendo o valor nutritivo.
Primeiro a experiência foi aplicada no plantio de alface. Agora, os estudantes planejam dar continuidade ao estudo aplicando em uma plantação de tomates e até na bananicultura. “Muitas pessoas que moram perto de nós souberam do projeto e estão nos procurando para saber como os microorganismos eficientes funcionam e como podem usar. Nossos pais também, aos poucos, estão deixando de lado os agrotóxicos e dando uma atenção maior aos orgânicos”, conta Danrlei.