Jaraguá do Sul registra queda nas coberturas vacinais

Por: Elissandro Sutil

13/12/2017 - 06:12 - Atualizada em: 14/12/2017 - 20:12

Há aproximadamente quatro anos, a cobertura de vacinação para doenças como sarampo, caxumba e rubéola vem caindo no Brasil. Em 2013, devido à forte queda, os estados de Pernambuco e Ceará passaram por um surto de sarampo, o que não acontecia desde o ano 2000 no país. No ano passado, a imunização contra a poliomielite, doença erradicada no Brasil, mas que ainda afeta alguns países, obteve a menor taxa em 12 anos, com índice inferior a 85%. Esses números, segundo o Ministério da Saúde, geram apreensão, já que a redução de pessoas vacinadas poderá criar bolsões de indivíduos suscetíveis a doenças antigas e controladas no território nacional. Nesse caso, uma pessoa infectada poderia desencadear um surto de grande proporção.

Em Jaraguá do Sul, o ano fecha com números abaixo da meta nacional, que é de 95% de adesão. Até o dia 12 de dezembro, a faixa de cobertura estava em aproximadamente de 87%. De acordo com a supervisora de Imunização da Secretaria Municipal de Saúde, Ana Cristina Kneipp, até o ano passado, o município mantinha a cobertura um pouco melhor do que em 2017. “Não fechamos o ano e, embora tenhamos mais alguns dias, já sabemos que não vamos atingir o preconizado, que é no mínimo 95% para a grande maioria das vacinas que o Ministério da Saúde oferece. Até novembro, Jaraguá do Sul deveria estar com uma média geral de 93% de cobertura, mas muitas estão entre 85% e 87%”, explica.

Supervisora de Imunização da Secretaria Municipal de Saúde, Ana Cristina Kneipp | Foto Eduardo Montecino/OCP

Entre as coberturas mais baixas está a rotavírus humano, com 78,24% e a pentavalente para crianças de um ano, que atingiu 80%. Em setembro, houve a campanha multivacinação, onde a Saúde busca colocar as carteiras de vacinação em dia, o que ajudou a melhorar o cenário local. Logo após, foi feito o monitoramento rápido, com amostragens e verificação de carteiras. “Mesmo depois de uma campanha, nós encontramos crianças e adolescentes não vacinados”, ressalta a supervisora.

Ana ressalta que o grau de proteção à criança e ao adolescente ainda acontece devido à obrigatoriedade da vacinação no Brasil. Entretanto, cada família que opta por não imunizar seus filhos aumenta o risco de diversas doenças se espalharem. “A gente usa o termo bolsões vacinais para as pessoas não vacinadas, que são as que ficam suscetíveis para transmitir doenças. Quem não se vacina está colocando os demais em risco. A imunização pública visa a proteção coletiva e o grande medo é haver o ressurgimento de doenças que estavam mais controladas e até erradicadas”, ressalta.

A poliomielite, por exemplo, ainda é endêmica em dois países: Afeganistão e Paquistão. “A pólio é uma paralisia, não tem cura, só prevenção. A varicela, que é uma doença considerada não tão grave pelas pessoas, pode evoluir para uma infecção bacteriana, pois as lesões ficam abertas. E é uma doença de fácil transmissão”, alerta.

No caso da influenza, cuja vacinação começou em abril, a rede pública de saúde precisou ofertar a vacina a um público maior devido à baixa adesão. Em 2016, a demanda foi elevada porque houve óbito em março. Neste ano, o fato de não haver morte em razão da doença no início da campanha pode ter sido um dos fatores que levaram as pessoas a não se vacinarem. Mesmo assim, Jaraguá do Sul registrou três óbitos em 2017, de pessoas que tinham direito à vacinação e não se imunizaram.

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A enfermeira Juliane Schünke Simas Dressel explica que a proteção contra a gripe ocorre da seguinte forma: em uma empresa de 30 funcionários, 25 de vacinam. Na cidade, a meta de proteção de 95% é atingida, tanto do público-alvo quanto os demais. Aqueles cinco da empresa que não se vacinaram estão protegidos, porque os imunizados os protegem. Isso acontece porque há menos circulação de vírus. “Em 2017, os índices não foram atingidos e o grupo que não se vacina não conseguiu ser protegido. Imunizando a maior parte da população, é possível fazer a chamada proteção de rebanho, o que não aconteceu”, pontua.

Juliane Schünke Simas Dressel, enfermeira | Foto Eduardo Montecino/OCP

É preciso conscientizar a população

O Brasil é reconhecido internacionalmente por seu amplo programa de imunização, que disponibiliza vacinas gratuitamente à população por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Criado em 1973, o Programa Nacional de Imunização (PNI) teve início com quatro tipos de vacina e hoje oferece 27 à população, sem qualquer custo. Mesmo assim, os números estão ficando abaixo do esperado.

Existem diversos fatores apontados como causa da baixa adesão à vacinação. Um deles é o fato de que muitas doenças estão erradicadas ou controladas no Brasil há bastante tempo. A supervisora de Imunização Ana Kneipp evidencia que, como os pais dessa geração não vivenciaram muitas das doenças que protegidas através de vacinação, acabam não se preocupando em cumprir o calendário. “Sarampo, rubéola, a própria poliomielite, que desde 1989 que a gente não tem, essa geração não sabe o que é. Isso está gerando certo distanciamento das salas de vacina. Então, convencer a vacinar contra aquilo que você não enxerga é mais complicado. Só que as pessoas precisam ter consciência de que estamos tendo controle de sarampo e rubéola aqui, na Europa está tendo surto. Basta você entrar lá sem se vacinar, trazer para cá e passar para pessoas suscetíveis… o sarampo é a doença mais rápida de disseminação. Um caso pode levar a mil casos”, argumenta a supervisora.

Por concordar com a importância da imunização, a avó Lúcia Salomon acompanhou os netos Pedro, de quatro anos, e Enzo, de um ano, para receberem as doses. O menor foi se proteger contra o sarampo, caxumba e rubéola, meningite C e pneumonia, enquanto o mais velho recebia a da pólio e a DPT (tétano, difteria e coqueluche). “Tenho dois filhos que sempre foram vacinados e nunca tiveram doenças. Acho importante que os pequenos também sejam protegidos. É um chorinho que vale a pena”, diz.

A favor da proteção, avó levou o pequeno Enzo, de um ano, para receber as doses contra sarampo, caxumba e rubéola | Foto Eduardo Montecino/OCP

Mesmo que muitas famílias sejam conscientes da importância da vacinação, o movimento antivacinas também está ganhando força, embora sempre tenha existido. Em parte, essa expansão se deve à facilidade de disseminar notícias pela internet. Muitos acreditam que se o filho é saudável é possível escolher a vacina que ele vai receber ou até mesmo não vaciná-lo. Casos que aconteceram no passado, sem embasamento científico (como o que ligava a tríplice viral ao autismo) e que foram até mesmo punidos, voltam à tona e viralizam novamente na internet. O resultado é que mais pessoas na imunização por meio das vacinas. Ou, na dúvida, optam por não tomar as doses.

“As vacinas são produzidas com o próprio agente antiológico, elas precisam fazer com que o teu organismo, entre aspas, pense que está sendo acometido pela doença, crie anticorpos de defesa para que quando você entrar em contato, poder se defender. Então, ela precisa ter características desse vírus, dessa bactéria modificada dentro do laboratório. E as pessoas têm muito medo desses eventos adversos, que são muito irrelevantes perto do que ela pode nos proporcionar de proteção”, enfatiza Ana Kneipp.

A supervisora afirma que a HPV é uma das vacinas mais importantes que temos dentro do calendário vacinal. Mas, como envolve questões sexuais, ainda há um tabu. “A faixa etária dos nove anos foi escolhida justamente porque uma pesquisa no país apontou que é a idade na qual os adolescentes não iniciaram suas relações sexuais e é a idade onde há uma soroconversão, uma proteção muito maior da vacina. A adesão dos meninos parece mais fácil do que a das meninas, sem muitos questionamentos”, comenta.

Outro impedimento, segundo a supervisora, diz respeito a questões religiosas, especialmente nas escolas. O desabastecimento também impede o oferecimento adequado do serviço e a paralização dos servidores públicos neste ano foi citada como fator relevante para que a meta nacional não tenha sido atingida.

Vacinação – mitos e verdades

A enfermeira Juliane Schünke Simas Dressel esclarece alguns pontos sobre a imunização.

Reação à vacina da gripe

“Depois de me vacinar contra a gripe, tive uma gripe terrível e nunca mais me vacinei.” Esta é a justificativa mais utilizada para deixar de fazer a imunização. Entretanto, existem mais de 100 vírus da gripe e a população toma vacina para três (triviral) ou quatro deles (tetraviral). Elas protegem contra os mais graves. Portanto, é possível contrair as formas menos graves de gripe, embora elas tenham os sintomas padrão.

Principais reações a qualquer vacina

Dor local, porque a agulha entra no músculo, algum mal-estar mínimo, talvez um pouco de dor de cabeça. Em crianças, pode causar febre. Existem vacinas oferecidas na rede privada, contra certos tipos de meningite que são mais reatogênicas.

Estudos e pesquisas

A vacina contra a meningite B (o tipo de meningite que evolui mais rápido, em cerca de três horas) levou 25 anos para ser desenvolvida e custa R$ 600,00 na rede privada. São anos de estudos para comprovar a eficácia de uma vacina. Seu efeito a longo prazo precisa ser analisado, além da necessidade de dose de reforço, entre outros aspectos.

Evolução das doenças

Muitas doenças evoluíram. Hoje, temos altos índices de internação hospitalar por varicela. A coqueluche (ou tosse comprida) era uma doença considerada erradicada. Mas há alguns anos começaram a aparecer casos no Brasil, especialmente em recém-nascidos. Os bebês morrem de coqueluche. Estudos mostraram que a nossa vacina lá da infância não tinha mais efeito. O governo então passou a oferecer a vacina às gestantes, no intuito da mãe mandar a proteção para o bebê. Mais ou menos 30% das gestantes tomam a vacina no Brasil, os outros 70% não tomam.

Proteção aos recém-nascidos

Ao nascer, o bebê recebe duas vacinas, a BCG (tuberculose) e a Hepatite B. Depois, receberá aos dois meses de idade e até lá a janela imunológica está aberta. Às vezes, a gente vê no mercado aqueles bebês circulando no meio de todo mundo, onde a doença também circula, na maioria das vezes transmitida por gotículas. Portanto, a para protegê-la, é preciso vacinar quem está a sua volta, especialmente os avós, que quase não receberam vacina ao longo da vida, os cuidadores, os pais, para fazer proteção de fora para dentro. O idoso, por exemplo, é considerado um dos maiores transmissores de doença para criança pequena.

O que é preciso para colocar a carteira de vacinação em dia?

Caso os pais identifiquem que está faltando alguma vacina ou não tenham certeza se cumpriram todo o calendário de vacinação, devem procurar um posto de vacinação para se informar. “O calendário muda muito, ou com introdução de uma vacina nova, ou com a alteração de data de uma delas. No caso da febre amarela, eram doses a cada dez anos, depois passou para duas e agora é dose única, isso muda muito rápido. E às vezes os pais não acompanham isso, então é só trazer a carteira de vacinação que a gente avalia e coloca em dia”.

Para que os adultos coloquem as vacinas em dia, é necessário que procurem o posto de vacinação e revelem seu histórico. Se a pessoa não tem comprovante vacinal e histórico nenhum, ela é considerada não vacinada. Nesse caso, o calendário é recomeçado. “O risco é uma reação local às vezes um pouco mais intensa, porque o organismo já possui um pouco de anticorpos. No entanto, na população adulta, a maior dificuldade é que completem o esquema de imunização. Toda a vacina que te exige calendário, por exemplo, são três doses, a proteção só vai ocorrer após a terceira dose.”

 

 

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Elissandro Sutil

Jornalista e redator no OCP