Até agora, 2020 mostrou ser um ano difícil e cheio de obstáculos. São tantas perdas, sejam de pessoas queridas, que morreram por conta do coronavírus, ou, perdas materiais, com o forte ciclone que atingiu recentemente o Sul do país.
Conforme o psicólogo clínico, Francisco Hertel Maiochi, perder algo ou alguém ou passar por uma experiência traumatizante é um momento extremo na vida de alguém e aqueles que estão por perto não devem tentar “aconselhar”, dizendo para o enlutado “fazer isso ou aquilo” para se sentir melhor.
“O importante é não cobrar nada da pessoa, ela não precisa fazer X ou Y, ela não precisa sentir o luto de uma forma que outra pessoa acha ser o certo”, adverte.
“Mesmo com as perdas materiais, nos referimos como um processo de luto, que é esse jeito como lidamos com as perdas, além disso, quanto mais importante era o objeto ou coisa perdida, mais dói”, explica.
“Perder o telhado de uma casa que foi muito difícil de construir, foi um esforço muito grande e foram anos e anos de trabalho, isso pode ser tão sofrido quanto perder alguém da família”, exemplifica Francisco.
Ele comenta que cada pessoa vai reagir de uma forma e que por mais que seja dolorido é necessário sentir esta dor, da melhor forma encontrada por cada indivíduo.
“Uma coisa que é importante é ter apoio, seja de família, amigos, pessoas que não façam pouco daquilo que a pessoa esta sentindo”, explica Maiochi.
Segundo o psicólogo, cada um precisa encontrar a própria forma de entender e absorver aquilo que aconteceu e identificar a melhor forma de superar. Segundo ele, todos têm o direito de sofrer e de se sentir mal por perder algo ou alguém.
No entanto, se esse sofrimento se tornar muito prolongado, talvez seja o momento de buscar ajuda externa, como um psicólogo ou terapeuta.
O especialista conta que quando a psicologia começou a ser desenvolvida o tempo normal de luto era de dois anos, mas hoje, por conta da velocidade com que nos desenvolvemos, existe uma pressão de que a perda seja superada em apenas alguns meses.
Algumas pessoas realmente conseguem absorver as coisas rapidamente, mas isso não deve ser regra. “É como se a gente cobrasse que pessoas comuns corressem como maratonistas”, compara Maiochi.
Perdas durante a pandemia
Apesar de ser considerada pelos estudiosos como uma doença de baixa mortalidade, a Covid-19 causou a morte de milhares de pessoas e seu alto nível de contaminação fez com que as cerimônias de despedida dessas vítimas fossem modificadas.
Quando é permitido fazer um velório antes do sepultamento, apenas dez pessoas podem participar, o que acaba deixando muitos amigos e familiares de fora deste adeus. Francisco defende que é de extrema importância respeitar esses limites.
“Eu até cheguei a ouvir casos de familiares que fizeram o velório grande e depois mais pessoas contraíram o vírus e depois disso, mais pessoas morreram”, comenta.
O psicólogo acrescenta que não ter a despedida tradicional dificulta o luto, porém, considera que “é preferível um único luto difícil do que vários lutos”.
Maiochi dá algumas dicas para recriar o ritual de passagem. “Os enlutados podem escrever cartas ou fazer uma ligação com a família toda e contar histórias que recordem o ente falecido, que são coisas que já costumam acontecer no velório e nos dias que seguem”, aconselha.
Segundo o especialista, manter o contato familiar também é importante.
“É possível usar ferramentas como WhatsApp, Facebook ou outro para reunir depoimentos da família, para que os parentes mais próximos possam ler, compartilhar, sentir que estão acolhidos e que podem contar com o apoio de outras pessoas”, ensina.
Como ajudar alguém?
Para quem olha de fora e quer de alguma forma ajudar quem está passando por um momento difícil, deve primeiramente se atentar às próprias palavras.
“É importante ter empatia, saber que o silêncio é melhor que uma palavra meio torta, às vezes, só estar ali perto e à disposição, claro que com o coronavírus tem que tomar cuidado, mas estar perto é mais importante do que dizer coisas”, destaca Francisco.
Ele acrescenta que pequenos gestos, como perguntar como foi o dia da pessoa ou chamar para dar um passeio com o cachorro, podem ajudar a minimizar o sofrimento.
Outra forma de prestar apoio é agilizar a parte prática. Caso a pessoa esteja muito abalada, você pode entrar em contato com funerária, seguradores, entre outros, tudo depende da situação.
“Mas a parte dos sentimentos tem que deixar a pessoa sentir”, comenta Maiochi.
A terapia é sempre necessária nesses casos?
Como já dito por Francisco, quando o luto se torna muito prolongado e que impede a pessoa se seguir com a própria vida, pode ser sim o momento de buscar ajuda profissional, no entanto, quem está passando por esse luto é quem deve decidir se quer ou não essa ajuda.
“Não penso que em uma circunstância de luto, alguém forçar a pessoa a fazer terapia vai ajudar muita coisa”, comenta o psicólogo.
Dicas simples para lidar com o isolamento social e outros momentos difíceis
- Mantenha uma rotina de hábitos saudáveis
- Invista em cuidados pessoais que vão trazer bem-estar
- Evite notícias sobre números de mortos, por exemplo, se isso tem te afetado
- Foque mais na vida cotidiana e procure reduzir a ansiedade
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