Jaraguá do Sul 144 anos: Deficiência não é sinônimo de limite

O que fazer quando você descobre que seu filho é diagnosticado com uma doença no cérebro? Os primeiros passos sempre são difíceis e alguns pais simplesmente não aceitam aquela notícia dolorosa. Mas outros ganham força e parecem terem nascido de novo com uma única missão – fazer o possível para que seu filho tenha uma vida normal.

No dia 2 de março de 1998, Muriell da Silva Siqueira nascia em Jaraguá do Sul. A alegria de Elisabete Martins da Silva e Antônio Siqueira era indescritível. O filho deles nascia do jeitinho que eles planejaram: saudável.

Os anos foram passando e o amor da mãe e do pai pelo filho só aumentava. Mas o garoto completou três anos e sequer uma palavra havia saído de sua boca, causando preocupações à família. Das primeiras consultas com especialistas não houve um diagnóstico e aos cinco anos Muriell continuava com dificuldades na fala e raciocínio.

Foi apenas em 2004 que um médico de Curitiba (PR) descobriu o que acontecia com o garoto – Muriell tinha um problema no processador auditivo do cérebro, ou seja, quando recebia uma informação, seu cérebro processa de forma lenta ou nem chega a esse ponto.

Sem limites

Dezesseis anos de passaram e agora o jovem está com 22 anos. Vai para a academia depois de um dia árduo de trabalho em uma das maiores empresas do Brasil – a WEG. Ele também se prepara para fazer o teste psicotécnico e tirar a Carteira Nacional de Habilitação.

O homem que está trabalhando e vivendo a vida normalmente é o mesmo que foi diagnosticado com uma doença no cérebro há quase duas décadas. Isso só foi possível porque ele tem uma família bem estruturada, que lutou muito para que ele alcançasse o que tem atualmente.

Quando Muriell ingressou na Escola de Educação Básica Ataíde Machado, as pessoas com deficiência intelectual eram obrigadas a avançar de ano, mesmo sem obter notas suficientes.

Sofrer bullyng era recorrente na vida do garoto. Mesmo depois que o médico ter dito que nenhuma pessoa que ele tratou com o mesmo problema de Muriell sabia ler e escrever, a mãe Elizabete não ficou conformada até ver seu filho conseguir isso. “Eu achava um absurdo ele ir para o segundo ano sem saber ler e escrever”, comenta a mãe Elizabete.

Sua persistência foi decisiva para que ela ganhasse na justiça o direito de seu filho voltar para o primeiro ano para aprender a ler e escrever. Com apoio da Prefeitura de Jaraguá do Sul e suporte da família, Muriell conseguiu ser alfabetizado. “A Prefeitura nos deu respaldo com fonoaudiólogo e psicopedagoga. Foi uma luta”, destaca a mãe do garoto.

Em busca de trabalho e da CNH

A próxima etapa era conseguir se inserir no mercado de trabalho. Para isso, Muriell passou cinco anos no programa Educação no Trabalho, da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Jaraguá do Sul. Quando conseguiu um emprego na WEG, em 2018, Muriell não escondeu a sua alegria. “Sentimento de felicidade. Eu sempre sonhei em trabalhar na WEG”, conta o jovem.

Desde então, a rotina de Muriell é ir para o trabalho logo cedo e realizar suas atividades na linha de montagem da empresa para ganhar o salário no fim do mês. Nada o diferencia dos outros funcionários. O jaraguaense também tem outro cantinho que gosta de estar: “Eu gosto de fazer de fazer academia. Vou todos os dias”, expõe. Ele está frequentando a academia há um ano e quatro meses.

O próximo passo é conseguir tirar a CNH e Muriell já vai para a terceira prova do psicotécnico, mas desistir não passa nem perto de ser uma opção.

“Eu luto por ele, nada é impossível. Se ele quer algo, ele pode conseguir. Não deixo meu filho perder a esperança, ele tem que lutar e vencer os próprios limites. A vida é uma superação”, relata Elizabete.

Muriell nunca foi revoltado com a vida, pelo contrário, sempre foi um garoto tranquilo que entende sua deficiência. “Aceitei bem minha deficiência e vivo bem assim”, completa Muriell.

 

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