Intervenção policial antes de ação social é a estratégia adotada pelo Estado

Por: Schirlei Alves

16/04/2018 - 14:04 - Atualizada em: 18/04/2018 - 10:18

A estratégia do governo do Estado para frear o crescimento da violência é investir em intervenções policiais nas comunidades vulneráveis antes de entrar com o trabalho da assistência social. O planejamento conduzido pelo secretário de Segurança Pública, Alceu de Oliveira Pinto Júnior, não tem prazos previamente estabelecidos e depende do andamento das operações em cada uma das comunidades.

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Segundo o comandante-geral da Polícia Militar, Araújo Gomes, responsável pela atuação da corporação nesse processo, o objetivo é reduzir o domínio do tráfico para, só então, com o espaço dominado, promover a inclusão social.

“Nessas comunidades que são de forte influência do tráfico, você tem 90% de intervenção policial pura para 10% de ação social. O desafio da próxima etapa é ser protagonista na transição e reversão. Fazendo com que tenha 90% de social e estrutura e 10% policial, lidando com a exceção do fato criminoso”, disse o coronel.

A Vila União, é uma das comunidades que foi alvo das operações ostensivas da polícia. O resultado é reconhecido pelos moradores, embora não concordem com a forma como as abordagens são conduzidas. Porém, chegou a vez de a assistência social ser protagonista.

A Secretária Municipal de Assistência Social, Katherine Schreiner, alinhada com o discurso do Estado, concorda que a comunidade está apta a receber os serviços. Porém, a implementação deles pode não ser tão rápida quanto deveria.

Nos próximos meses, as atividades sociais de contraturno escolar devem ficar restritas às quatro paredes de duas salas cedidas pela Creche Vila União, uma vez que os outros equipamentos públicos dependem de reforma, processos de licitação e investimento em infraestrutura – sem prazos definidos.

“A comunidade estava em forte eminência da criminalidade, não conseguia entrar com projetos sociais. Mas, as polícias conseguiram pacificar o espaço. Agora, a gente vai entrar com a força de assistência social”, prometeu Katherine.

Cozinha do Centro Comunitário está desativada (Foto: Schirlei Alves)

 

O presidente da Associação Nacional dos Praças (Anaspra) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Elisandro Lotin, concorda com a ordem do planejamento, mas adverte que a intervenção social deveria ser mais ágil, além de contínua. Do contrário, o investimento da segurança pública pode não ter o resultado esperado como ocorreu no Rio de Janeiro com a falência das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).

“Nós temos muitas áreas controladas pelo crime organizado, não tem outro jeito de retomar. Mas, depois disso é que vem o problema: é preciso que os outros órgãos se envolvam. O Município, o Estado, o Poder Judiciário, O Ministério Público, a Defensoria Pública, a associação de moradores e a comunidade já deveriam estar lá dentro da Vila União fazendo trabalho de orientação, prevenção, discutindo políticas de drogas e ocupando o espaço”, ressaltou Lotin.

Já a defensora pública Fernanda Mambrini Rudolfo, que atua no Tribunal do Júri da Capital, não concorda com a ordem do planejamento. Na avaliação da especialista, sem o investimento social, o tráfico tende a tomar conta do espaço e os traficantes acabam tornando-se referência em vez de o exemplo ser balizado pelos profissionais do esporte, da cultura e da educação.

“As organizações criminosas surgiram em decorrência de violações estatais, porque pessoas se uniram para combater a violência do Estado. Não estou dizendo que é uma ação legítima, porque fazem isso através da prática de crimes, mas o Estado fomentou essas organizações e o aumento delas é em decorrência da ausência do poder público. O Estado só aparece para meter o pé na porta em vez de estar presente o tempo todo por meio de serviços sociais, educação e saúde”, criticou a defensora.

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Muro que separa a quadra de esportes da creche corre o risco de desabar (Foto: Schirlei Alves)

Centro Comunitário está abandonado (Foto: Schirlei Alves)