Um paciente de 37 anos, que há cerca de um ano descobriu um câncer de intestino, passou por uma cirurgia extremamente rara no Hospital São José, de Criciúma.
Ao descobrir o câncer no intestino grosso, o paciente precisou de uma cirurgia de urgência para desobstruir o trânsito intestinal e, nos meses seguintes, passou por quimioterapia e uma segunda cirurgia para retirada definitiva do tumor do intestino.
Mesmo com a quimioterapia, um ano após o diagnóstico, foram encontradas diversas metástases desse câncer no fígado do paciente.
“O paciente apresentava diversas metástases em seis dos oito segmentos em que o fígado é dividido. Cerca de 75% do órgão estava acometido. Caso retirássemos toda parte afetada, o paciente sofreria uma insuficiência hepática pós-operatória e poderia não sobreviver”, relata o cirurgião hepatobiliopancreático do HSJosé, Dr. Fabrício Souza Bitencourt.
De acordo com o cirurgião, neste caso específico do paciente, as opções ficaram tecnicamente restritas.
“Precisávamos fazer os segmentos VI e VII do fígado crescer para que então pudéssemos retirar os demais segmentos com segurança. Indicamos então a realização de um procedimento chamado ALPPS (Associating Liver Partition and Portal vein Ligation for Staged hepatectomy), em que realizamos duas cirurgias no paciente: na primeira, partimos o fígado separando a parte saudável da parte com metástases, sem retirar nada e, com um fio cirúrgico, amarramos a veia que nutre o lado do fígado acometido pelo tumor, chamada de veia porta esquerda”, explica o cirurgião.
“A cirurgia então é encerrada e o paciente fica internado por 10 dias. Nesse período, o lado saudável do fígado cresce, porque recebe o dobro de sangue, já que amarramos a veia que nutria o outro lado.
"Dez dias depois da primeira cirurgia, levamos o paciente de volta ao centro cirúrgico e aí sim retiramos o lado do fígado que continha as lesões. Nessa segunda cirurgia, evidenciamos que os segmentos VI e VII do fígado cresceram consideravelmente, permitindo então o que chamamos de trissegmentectomia hepática esquerda, sem que o paciente sofresse de insuficiência hepática no pós-operatório”, complementa Dr. Felipe Antônio Cacciatori, médico residente que acompanhou o caso.
Segundo o chefe do serviço de cirurgia geral do HSJosé, Dr. Nehad Yusuf Nimer, poucos foram os registros desta cirurgia em todo o mundo.
“A cirurgia de ALPPS surgiu há menos de 10 anos na Alemanha e os registros internacionais dão conta de cerca de mil cirurgias realizadas desde então ao redor do mundo. Essa foi a terceira vez que nossa equipe realizou este procedimento”, enaltece o cirurgião.
Após mais de um mês da cirurgia, o paciente está de alta e segue em tratamento clínico na Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) do HSJosé.