Exposição relembra as noivas pomeranas, vestidos pretos e a cultura alemã na região

Foto: Divulgação/PMJS.

Por: Elissandro Sutil

09/09/2021 - 14:09

Resultado de projeto contemplado pelo Edital de Apoio Cultural 005/2018 com verba pública, a exposição Noivas Pomeranas e seus vestidos pretos, instalada no Museu Histórico Emílio da Silva, pode ser conferida nas redes sociais da exposição.

A pesquisa sobre o uso da cor nos casamentos pomeranos ocorreu por meio de literatura histórica impressa, outras fontes escritas e pela história oral de moradores dos bairros Barra do Rio Cerro, Rio da Luz e Garibaldi, em Jaraguá do Sul, Pomerode e Blumenau. São 10 fotografias originais, uma delas da Alemanha, além de raro exemplar de vestido de casamento na cor preta.

Foto: Divulgação/PMJS.

O autor do projeto, Silvio Nazir Wiltuschnig, explica que o objetivo principal foi difundir a tradição do uso da cor preta que sobreviveu em poucos lugares.

Os pomeranos têm origem em um povo oriundo de uma faixa de terra junto ao Mar Báltico, entre a Alemanha e a Polônia. A região sofreu sucessivas ocupações de russos, alemães e poloneses, tendo a população expulsa e dizimada. O dialeto e muitas tradições daquele povo quase desapareceram, mas o ritual do casamento pomerano chegou a ser registrado na região.

Existem várias interpretações a respeito do uso do vestido preto, as mais expressivas são:

  • Representação de luto, pelo risco que o parto pode representar, interligando, casamento, maternidade e morte; o preto representa a morte social da noiva e sua separação da família.
  • Era a cor mais acessível da época, que não parecia estar suja ou que absorvia mais calor.
  • O costume feudal sobre a primeira noite de núpcias que cabia, por direito, ao senhor feudal e não ao noivo.
  • Maneira de protesto contra o Governo da Província, que não oferecia assistência.
  • O mesmo vestido era utilizado, também, em outras ocasiões como Natal, pentecostes, Páscoa, batizados, enterros, fotografias familiares e durante os primeiros anos dos filhos, já que, em geral, era abotoado na frente, facilitando o ato de amamentar.

Por volta do século XIV, a moda da cor preta na vestimenta das mulheres se faz presente nos palácios da Antuérpia e da Holanda, chegando à nobreza espanhola nos séculos XV e XVI. A rainha Maria I (1542 – 1587), da Escócia, leva o costume para a Irlanda e Inglaterra e, mais tarde, para a Pomerânia. O véu branco representava a pureza da noiva e a fita verde a fertilidade.

Antes do século XIX eram comuns noivas de preto, vermelho, azul e cinza. O vestido branco foi utilizado pela primeira vez em 1840, com a rainha Victória, da Inglaterra. Em 1940, o Papa Pio IX proclamou que as noivas deveriam demonstrar, por meio do traje branco, a Imaculada Conceição, passando a ser entendido como o símbolo da pureza.

Foto: Divulgação/PMJS.

O casamento ao estilo pomerano era um dos eventos mais representativos do início da vida familiar.

“As tradições foram passadas verbalmente entre as gerações e, em dados momentos, foram transpassados por outros elementos culturais, seja por influência e diálogos com outras culturas ou por adaptações ao longo do tempo, o que explica diferenças entre os ritos conforme a região”, explica.

O período ideal para os casamentos era o mês de maio “hochtijdsmanat”. Os casamentos eram evitados durante a quaresma e em agosto, no período das 12 noites e nos anos bissextos. Quando nestes anos, ocorriam, preferencialmente, em janeiro ou, no mais tardar, no início de fevereiro. O culto dominical (afbar) anunciava publicamente o futuro casal à comunidade.

Cabia ao irmão caçula solteiro convidar as famílias para o evento. É o hochtijdsbirer, ou convidador. Ele segue de casa em casa com roupa de domingo, às vezes terno. Na vestimenta, um ramo, chapéu de feltro preto ou marrom e um pingente de fitas coloridas de cetim. Com uma fala ritual, oferece um gole de bebida destilada aos convidados. Dos convidados, leva um lenço novo e colorido preso a sua vestimenta por uma das pontas, além de gorjeta, o que é sinal de comparecimento.

Foto: Divulgação/PMJS.

As festividades duravam até três dias e tinham início na quinta-feira.

Entre os alimentos preparados pelas cozinheiras (koiksche) constavam o milhabroth (pão de milho, batata doce, cará, aipim) kasekuchen (bolo de queijo); streuskuchen (bolo de farofa), estrudel, biscoitos caseiros, carnes e comidas salgadas. As bebidas eram resfriadas em rios. Um mastro com bandeira nas cores da Pomerânia ou com as iniciais dos noivos marcava o local da festa.

À noite, a comida servida era uma sopa com miúdos de galinha que, pelo fato de ciscar para trás, impediria de chegar aos noivos o que pudesse atrapalhar a união. Um ritual de quebra-louças afugentava os maus olhares. Já ao som do bandoneon, cabia aos noivos a varredura dos cacos para fora do salão, enquanto os convidados faziam o caminho inverso.

O ato de juntar os cacos simbolizava que as decisões familiares seriam tomadas por ambos. As louças intactas eram guardadas como símbolo de segurança. Em busca de bênçãos, e seguindo o ditado de que os cacos trazem sorte (Stücke bringen Glück), os noivos guardavam os cacos sob a casa ou rancho, abrigados da luz do sol e da lua.

Foto: Divulgação/PMJS.

Na sexta-feira inicia propriamente o casamento com um cortejo de carroças de passeio decoradas com flores até o cartório para o casamento civil (thoupsrijwen) e, depois, à igreja para a cerimônia religiosa (truug). Os recém-casados são recebidos na casa dos pais da noiva com gritos dos convidados e ao som do bandoneon.

O banquete nupcial é servido e os noivos só se levantam depois que todos os convidados estejam alimentados. Há a marcha da cozinha (küchenmarsch), momento em que os ajudantes da cozinha saem para o salão e dançam levando consigo utensílios. Antes da chapa do forno esfriar completamente, os irmãos solteiros sentavam sobre a superfície, num lembrete de que deveriam procurar um relacionamento e casar-se o quanto antes.

Na dança da grinalda (kranzaffdanza) noiva e noivo dançam com todos os convidados como sinal de sorte. Neste momento, há a oferta de dinheiro, charutos e gratificações ao noivo. No fim da valsa, grinalda, véu e flores da lapela do noivo são colocadas na Caixa de Casamento (hochzeitskiske), que também contém uma carta, outro objeto ou fio de cabelo, fechada com tampa de vidro. O que está lá fica até a morte de um dos dois, ocasião em que é aberta.

Foto: Divulgação/PMJS.

No último dia de comemorações os convidados se reúnem para visitar os recém-casados, comer e beber o que sobrou do dia anterior. Há, em geral, um pequeno desfile com carroça onde estão os presentes. Uma garrafa com dinheiro colocada no mastro que anunciava o local da festa é disputada a tiros pelos homens. Cabe ao noivo derrubar o mastro com golpes de machado, anunciando oficialmente o fim da festa.