Explosão da fábrica de pólvora: Jaraguá do Sul vivia uma de suas piores tragédias há 66 anos

Por: Leonardo Koch

06/11/2019 - 10:11 - Atualizada em: 06/11/2019 - 10:52

Eram exatamente 9h34 de 6 de novembro de 1953, quando três explosões seguidas foram ouvidas até por quem estava há quilômetros de distância.

O céu azul da cidade foi tomado por aspirais de fumaça e cinzas e o que seria outro dia tranquilo se tornou a data de uma das maiores tragédias de Jaraguá do Sul.

Há 66 anos, centenas de estabelecimentos, escolas e 105 prédios tiveram suas estruturas abaladas nas proximidades da Pernambuco Powder Factury.

A explosão da fábrica, conhecida na década de 1950 por produzir diariamente cerca de 100 quilos de pólvora, foi responsável por deixar a cidade em luto por dias.

A tragédia deixou dez mortos e oito feridos, entre jovens de 18 a 30 anos que trabalhavam no local.

Fábrica ficou destruída após a explosão | Foto Arquivo Histórico

Desde que foi criada no ano de 1912, a empresa localizada no bairro Czerniewicz, já havia sofrido dois abalos. Entretanto, o terceiro e mais devastador foi responsável por deixar marcas profundas na população.

Os efeitos do acidente deixaram 460 vidros quebrados e centenas de paredes rachadas nas edificações ao redor.

As lembranças daquele dia de desespero ainda estão na memória de Leonida Krutsmacher.

Naquela sexta-feira, o badalar do sino do colégio Divina Providência localizado a 1,7 km do acidente foi substituído pelo barulho da explosão.

A jaraguaense lembra que as vidraças da sala de aula se racharam ao meio. O choque de realidade veio à tona quando ela chegou em casa e descobriu que a fábrica de pólvora havia explodido.

Três de seus amigos haviam perdido a vida na tragédia.

Assim como Leonida, Adelaide Dornbusch, também carrega consigo o choque que viveu no dia do acidente.

Ambas tinham 13 anos na época. Hoje, com a fala arrastada devido à idade avançada, Adelaide tenta relembrar o momento de pânico que a cidade sofreu. Durante o estrondo, ela ajudava a mãe no trabalho da roça.

Foto Arquivo Histórico

Após a explosão, muitos familiares dos 22 funcionários que estavam no interior da fábrica se dirigiram ao local para obter notícias.

Entre as pessoas que ajudaram na retirada dos corpos e no tratamento dos feridos, estavam o prefeito da época, Arthur Muller, o delegado Isidoro Copi, e o famoso radialista Athayde Machado. Ele era vizinho da fábrica e se solidarizou com a situação de pesar.

“Aqui no sul da nação, existia uma fábrica produzindo munição. Com 22 empregados, tinha boa produção e teve um fim muito triste”, relembra o radialista, que, anos mais tarde, compôs uma música em homenagem aos mortos.

“Pensei que fosse o fim do mundo”

Naquela manhã de sol escaldante, a aposentada Adelaide Dornbusch ajudava sua mãe no plantio. A jaraguaense relembra que o milho da pequena plantação chegou a se curvar devido à explosão.

Embora não tenha perdido nenhum familiar, ela ficou muito comovida com a cena.

“Pensei que fosse o fim do mundo. Eu e mamãe ficamos muito nervosas. Não se falava em outra coisa naquele dia. Uma tristeza”, descreve. Pela primeira vez na vida, ela teve noção da morte.

Jovens entre 18 e 30 anos ficaram perderam a vida na tragédia | Foto Arquivo Histórico

Na opinião de Adelaide, os estragos que a tragédia deixou para a cidade foram inúmeros e têm um grande significado para Jaraguá do Sul.

A vida da aposentada pode ser classificada como de fortes emoções. Oito anos antes do trágico acidente, Adelaide também presenciar outro momento histórico.

Embora tivesse apenas cinco anos, e sem noção das mudanças políticas e sociais do mundo, ela pode ouvir seus pais comemorando o fim da Segunda Grande Guerra Mundial, noticiado pelo rádio.

Foi às vésperas de seu aniversário e somente anos mais tarde ela teria noção do que presenciara.

Inquérito Policial

Em 7 de novembro, um dia depois do acidente, a polícia abriu uma investigação para entender os motivos da explosão. Uma tragédia sem nenhuma explicação, porém, não surpreendente já que a empresa fabricava material explosivo.

Mesmo assim, as desconfianças de um possível ato criminoso não podiam ser descartadas, visto que, em 1918 a fábrica já havia sido alvo de um crime assim. Naquele ano, acreditava-se que a explosão tinha sido um ato de sabotagem.

As prensas e peças metálicas que não tinham sofrido danos foram depositadas na propriedade do subdelegado do distrito, Augusto Mielke.

Confira o local exato da explosão:

 

Ele havia interditado a empresa durante a 1ª Guerra Mundial. E, mesmo após a interdição militar, a explosão ocorreu destruindo a fábrica parcialmente.

Durante as investigações, foi constatado que quatro dependências da fábrica estavam destruídas e doze danificadas. Em depoimento à polícia, o gerente da fábrica, Guilherme Spengler, 61, relembra que não estava lá no momento do abalo.

Spengler não soube precisar os motivos da explosão. Porém, ele relembra que estavam em produção cerca de 2 mil quilos de pólvora, sendo que nos depósitos que não explodiram existiam mais 10 mil quilos do produto.

Lembranças e homenagens

Em 2013, as vítimas da explosão da fábrica de pólvora foram homenageadas em um monumento no cemitério municipal do Centro, perto da Kuchen Haus.

Foto Divulgação

A homenagem é uma cruz de sete metros de altura, ela está cercada por 10 cruzes emparelhadas, representando os 10 homens que perderam a vida na tragédia.

 

Receba as notícias do OCP no seu aplicativo de mensagens favorito:

WhatsApp

Telegram

Facebook Messenger