“Eu queria vestir o mundo”

Por: OCP News Jaraguá do Sul

14/05/2016 - 04:05 - Atualizada em: 17/05/2016 - 14:24

Conhecida por sua dedicação e visão de mercado, a empresária Cecília Menegotti será homenageada, no dia 20 deste mês, com a Ordem do Mérito Industrial de Santa Catarina, pela Federação das Indústrias do Estado. Considerado o mais alto prêmio da indústria no Estado, a homenagem é o reconhecimento aos mais de 35 anos de trabalho dela à frente da Menegotti Malhas, uma das principais indústrias têxteis do sul do Brasil.

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Triton é outra marca da Menegotti que faz sucesso no mundo
da moda e das revistas especializadas

Ao lado do marido Ademar Menegotti, e dos filhos, Alexandre e Margarete, a empresária construiu um verdadeiro império da moda, sempre em busca de qualidade e inovação. Hoje, a Menegotti Malhas é responsável pela produção de 1,1 mil toneladas de malhas mensalmente, e direciona 90% de sua produção para pequenas, médias e grandes confecções do Brasil e de toda a América. A empresa também detém marcas de renome internacional, como Colcci, Fórum, Triton, Tuffi Duek e Sommer e as licenciadas como Coca-Cola, Mormai e Chili Beans.

Em entrevista exclusiva para o jornal OCP, a empresária fala sobre a sua trajetória de sucesso, os desafios e as motivações que a guiaram pelo mundo do empreendedorismo.

De onde surgiu o desejo de empreender?

Eu fui professora por dez anos e sonhava em ter o meu negócio. Vislumbrei o negócio vendo as dificuldades das confecções da região de Jaraguá do Sul de encontrar matéria prima na região. Elas precisavam se direcionar a empresas de cidades vizinhas. E quando eu notei isso, comprei fio, mandei tecer, tingir, tudo terceirizado, e abri o comércio para vender estas malhas. Atendia primeiro as confecções da redondeza, era pequena a nossa cidade lá em 1980. Tínhamos algumas confecções fortes, mas as pequenas confecções não tinham vez. Então, eu atendia este pessoal, fornecia a malha e os acessórios para o trabalho destas confecções, algumas delas se tornaram grandes empresas. Além disso, eu via a possibilidade de trabalhar e ficar junto com os filhos, que era um grande objetivo. Desde o começo, eu sempre tive ambições grandes, imaginava vestir com as minhas malhas o mundo. Eu queria vestir o mundo. Hoje, eu sempre digo que moda é o ar que respiramos!

O que é importante para que um negócio alcance o sucesso?

Temos o desafio constante de satisfazer o nosso cliente, de surpreendê-lo com o nosso produto. Sempre tive a ideologia de que é necessário prezar pela qualidade e pela confiança do cliente. É uma relação de troca. Meus parceiros sempre podiam contar comigo e isso fazia com que eles procurassem pelos nossos serviços, pois sabiam que haveria uma retribuição. Outro fator importante é a constante busca pela inovação. O empreendedor precisa sempre ir atrás de coisas novas, por meio de pesquisas e referências, trazer algo de novo para o seu negócio. Eu sempre acreditei que é preciso ver além, enxergar o que o outro não vê, encontrar uma necessidade e daquilo criar um diferencial para o mercado, fazer acontecer. É preciso muita dedicação e trabalho.

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A top número 1 do mundo, Gisele Bündchen ajudou a Colcci a ganhar fama internacional 

Como a senhora vê a contribuição do empresariado para a cidade?

O empresário jaraguaense é muito ousado, ele é sábio, acredita e faz acontecer. Nas dificuldades, ele mostra confiança no gigante que é o Brasil, mesmo sabendo que a nossa Jaraguá do Sul é uma pequena que desponta em meio a tudo que o Brasil possui. Eu me sinto orgulhosa porque fiz parte disto, peguei esta trilha que abriu a cidade para a imensidão que é hoje. Mas nós empresários não fizemos isso sozinhos, contamos com o apoio de nossos parceiros colaboradores.

É esta visão coletiva que cria um diferencial para a cidade?

Exatamente, o nosso diferencial são as pessoas unidas por uma mesma causa, um mesmo ideal. O empreendedor não pode empreender sozinho, ele precisa de pessoas, colaboradores, de alma. Pessoas que se doem. E aqui podemos sentir que isso acontece. Precisamos entender que não se trata de máquinas, mas sim das pessoas que estão por trás das máquinas. Santa Catarina em geral tem esta visão e este espírito muito forte.

O que é preciso para o município avançar mais?

O que falta por aqui é investir em infraestrutura, que ainda é muito precária. Também precisamos trabalhar na nossa representatividade na política nacional, ainda somos muito fracos em termos de visibilidade, temos que fazer acontecer lá no “fervo”, dizer quem nós somos, fazer com que os outros nos vejam.
Como foi empreender em uma época em que a mulher pouco participava do universo empresarial?

No início da minha carreira, percebia que os homens olhavam as mulheres do ramo empresarial com desconfiança, pois eram poucas as mulheres empreendedoras. Julgavam sua capacidade de forma diferente do que julgavam a de outros homens. Mas, em compensação, quando eles viam o teu trabalho e conheciam os teus anseios dentro daquele ambiente, eles te respeitavam. Passavam a considerar a mulher como igual, ou até melhor, por ter vencido duas vezes, uma a barreira da desconfiança e outra a da desigualdade. Também dependia muito de a mulher sentir-se como igual.

E qual é o papel da mulher hoje em dia?

A mulher se mostrou e se posicionou no mundo corporativo de maneira muito firme. Vemos que elas estão encontrando o seu espaço, cada vez mais ocupando postos de liderança e assumindo sua importância nas empresas. Aqui em Jaraguá do Sul não é diferente, a representatividade da mulher está crescendo muito. Eu acredito que, mostrando a sua capacidade, a mulher tem o seu espaço e é respeitada pelo trabalho que realiza. Ainda mais porque a mulher tem uma visão mais dinâmica, que passa por suas diferentes tarefas, os filhos, a casa, sua profissão, sua vida social. Esta capacidade também faz com que a mulher tenha qualidades diferenciadas.

Como tem sido esta trajetória de mais de 35 anos á frente da empresa?

Sou a sócia fundadora do grupo e atualmente atuo como conselheira. A empresa passou por grandes desafios e nunca perdeu a energia e a vontade de inovar. Temos orgulho de nosso passado e um olhar sempre voltado para o futuro no segmento da indústria de moda e têxtil.

Que conselho a senhora dá para os novos empreendedores?

O meu conselho é acreditar em si mesmo, no seu potencial, e aprender a ver o potencial das pessoas que estão a tua volta, colocando todas as suas forças. Não basta dinheiro, tem que colocar toda a tua vontade. E, claro, conhecer o seu mercado, entender o que acontece à sua volta e as necessidades das pessoas. O mercado muda muito rápido. É uma vida de dedicação.

Como é receber o reconhecimento do setor empresarial?

Fico extremamente feliz e realizada com esta homenagem. Ser escolhida pela Ordem do Mérito Industrial de Santa Catarina, após esta longa caminhada, que deixou muitas marcas, é algo indescritível. A Fiesc representa a força da nossa indústria. Este reconhecimento me deixa honrada, não só por mim, mas por todos que fizerem parte desta trajetória.