“Estamos começando a atender pessoas no corredor”, informa Hospital São José

Imagem: Reprodução/Prefeitura de Jaraguá do Sul

Por: Elissandro Sutil

04/06/2021 - 19:06 - Atualizada em: 04/06/2021 - 20:31

O Comitê de Combate à Covid-19 de Jaraguá do Sul realizou uma live na noite desta sexta-feira (4) para explicar a situação crítica dos hospitais no município. A presidente do comitê, Emanuella Wolf, disse que é importante que todos saibam a situação do sistema de saúde jaraguaense neste momento e que somente com menos gente circulando será possível diminuir a contaminação.

Conforme o último boletim, desde o começo da pandemia Jaraguá do Sul registrou 323 mortes em decorrência das complicações causadas pelo coronavírus. Foram registradas mais três mortes nas últimas 48 horas e 213 novos casos durante o período. Com 923 pessoas em tratamento da doença, os hospitais locais estão com 100% de ocupação nos leitos destinados à Covid-19 . São 46 leitos de UTI e 76 de enfermaria, todos ocupados.

“Estamos com esse volume de ocupação desde o mês de fevereiro. […] A situação se agrava ainda mais neste momento, porque além dos leitos exclusivos, criados para suporte do Covid-19, os outros setores dos hospitais também estão cheios, principalmente pelo fato da flexibilização da maioria das atividades”, explicou Emanuella.

Segundo o secretário municipal de Saúde, Alceu Gilmar Moretti, outras doenças também vão pressionar o sistema de saúde com a chegada do inverno. “Temos que entender que estamos entrando no inverno, onde as doenças respiratórias costumam se acentuar, e vivemos um momento de muita apreensão na questão hospitalar. Precisamos conter o avanço do vírus, fazer com que as pessoas entendam que somente diminuindo a circulação de pessoas, se cuidando, com máscara, distanciamento social, higienização das mãos e sair de casa somente quando, de fato, precisa, para que possamos controlar e dar condições de que nossos profissionais possam atender dignamente nos hospitais”, disse Alceu.

“Estamos atendendo pessoas nos corredores, que não é a realidade de Jaraguá do Sul. Não estamos acostumados a ser atendidos dessa forma. Os hospitais estão cheios e precisamos efetivamente da participação da comunidade”, alertou o secretário.

A enfermeira do Hospital São José, Fabia Regina Schaefer, reforçou que o número de pacientes aumentou este ano e que os hospitais estão em situação crítica. Ela ainda explicou que o vírus está mais agressivo do que no ano passado. Segundo ela, os pacientes estão tendo 80% a 90% dos pulmões comprometidos em menos de 12 horas e estudos comprovam que é transmitida uma carga viral maior do que quando a pessoa sofreu contágio.

“Os pacientes chegam muito mais graves e precisam ser intubados imediatamente, porque não conseguem ficar só com o oxigênio. Ano passado, com uma ou duas horas no oxigênio se recuperavam. Hoje precisa ser intubado e precisa de um leito de UTI. As outras coisas continuam acontecendo, acidentes de trânsito, AVC, infarto, o Pronto Socorro está começando a ficar lotado”, disse Fabia. “Estamos realmente começando a atender pessoas no corredor”, complementa a enfermeira.

A preocupação aumenta porque as doenças de inverno, segundo a enfermeira, têm seus picos de internações hospitalares entre junho e setembro. “Então imaginem agora, com o Covid, a situação que vai ficar o hospital”, alerta. “As vacinas contribuem muito, mas mesmo assim, o inverno sempre foi um momento mais crítico para idosos e para crianças. As pessoas precisam começar a se cuidar. […] A vacina vai chegar, tenho certeza que vai ser a solução, mas precisamos ter uma pouco de paciência”, emenda.

A esperança na vacina foi ressaltada também pelo secretário, que disse que a vacinação dos grupos de risco já surtiu efeito. Segundo a Prefeitura, o Município já recebeu 55.372 doses da vacina e distribuiu 91% delas. Até agora, 14.154 jaraguaenses (7,81% da população) já receberam as duas doses e outros 22.097 receberam a primeira dose. Conforme dados do Município, compilados pela Secretaria de Estado da Saúde, 91,92% dos grupos prioritários em Jaraguá do Sul já tomaram a primeira dose e 34,73% a segunda.

No entanto, a enfermeira reforçou que a vacina não garante que você não pegue a Covid-19, mas evita a evolução para quadros mais graves da doença. Ainda assim, segundo ela, o ideal é evitar o contágio, porque quem contrai o vírus pode ter sequelas permanentes, independente da idade. Conforme a enfermeira, também aumentaram os casos de trombose e problemas cardíacos de pacientes que se curaram da doença.

A presidente do comitê reforçou as regras do decreto municipal, em vigor desde esta quinta-feira (3) e informou que equipes da Prefeitura isolaram praças e outros locais públicos para evitar aglomerações.

“São tempos difíceis, mas contamos com a compreensão de toda população. O nosso sistema de saúde é exemplar e conseguiu dar assistência a toda nossa região. O que não podemos permitir é perder vidas por falta de capacidade de atendimento”, disse Emanuella.

“Nos ajude nesse momento. Precisamos realmente baixar a taxa de ocupação hospitalar para poder atender a todos com dignidade. […] Quando estive no hospital na quarta-feira, onde tinha local para botar um prego tinha um soro pendurado. Absurdo isso, parece uma concentração de guerra, de tanta gente em cadeiras e macas na busca de um atendimento”, contou o secretário.

A partir do anúncio da retomada da vacinação por idade em Santa Catarina, a expectativa da Secretaria de Saúde é liberar a vacinação nos próximos dias para novos públicos.

“A vacinação está avançando, com certeza vamos vencer, mas precisamos da participação de todos. Junho, julho e agosto estaremos em 40+ ou abaixo disso ainda. Se isso acontecer, com certeza vamos estar com as taxas de ocupação menor nos nossos hospitais. Mas neste momento, não conseguimos mandar paciente nenhum, para lugar nenhum, porque todos os leitos estão ocupados em Santa Catarina. Falta leito de UTI em Santa Catarina”, finalizou Alceu Moretti.