Entenda o que está sendo discutido sobre a mobilidade urbana integrada da Grande Florianópolis

Foto: Vicente Schmitt/Agência AL

Por: Thomas Madrigano

23/02/2022 - 10:02 - Atualizada em: 23/02/2022 - 10:53

Os municípios da Grande Florianópolis vão se reunir no dia 15 de março, para discutir a mobilidade urbana na região.

O encaminhamento surgiu durante audiência pública na Comissão de Transportes e Desenvolvimento Urbano da Assembleia Legislativa, na manhã de terça-feira (22).

 

 

A deputada Luciane Carminatti destacou que o tema não é novo. Segundo ela, os moradores e as pessoas que transitam pela Grande Florianópolis convivem com a necessidade da integração dos vários modais.

“É fundamental que os governos conversem, mas infelizmente eles não têm conversado. Como se pode pensar em um plano diretor integrado sem diálogo?”, indagou.

O deputado Neodi Saretta citou a preocupação dos moradores de Palhoça, especialmente do bairro Aririú.

“O contorno deve separar o trecho entre a avenida Bom Jesus de Nazaré com a avenida São Cristóvão. Vai dificultar para as pessoas conseguirem transitar, vai isolar igreja, comércios, vai haver prejuízos. É uma questão que já foi bastante falada, mas as obras estão em andamento e não há um encaminhamento sobre isso”, criticou.

Para a deputada Marlene Fengler o tema não envolve municípios separados. “É uma região metropolitana e os problemas e soluções não são de um município ou de outro. São de todos. É fundamental que qualquer iniciativa seja feita de modo conjunto. São debates como esse que a gente consegue trazer soluções e encaminhamentos importantes”, avaliou.

O coordenador regional da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Gilmar Cardoso, afirmou que a obra é complexa, com mais de mil unidades desapropriadas, além de gerar 2,3 mil empregos diretos. “Nossa expectativa é que, dentro do prazo definido, a obra vai estar disponível para a comunidade e para todos nós da Grande Florianópolis”, disse.

Cardoso, por outro lado, reconheceu a relevância da audiência. “Precisamos ter como norte que o contorno permaneça com a função de escoamento do tráfego rodoviário na região. E que possamos integrá-lo com as demais rodovias de uma forma que ele não passe a ter o mesmo problema que levou à necessidade de ter o contorno daqui alguns anos”, contou.

O que diz o Estado

O secretário de Estado da Infraestrutura e Mobilidade, Tiago Vieira, que participou da audiência por videoconferência, garantiu que o governo do Estado sabe da importância da situação para a Grande Florianópolis.

“Todos têm procurado trabalhar neste assunto. Falta de nossa parte, de todos os envolvidos, colocar todos os projetos na mesa para fazer um grande plano de desenvolvimento para a região metropolitana”, reconheceu.

Segundo ele, a mobilidade é um tema caro. “Por isso criamos o SC + Mobilidade, que foi lançado para dar mais transparência, para que qualquer pessoa possa acompanhar por um website o planejamento macro do governo do Estado para a Grande Florianópolis. Uma das ações é a integração das cidades da região. Além disso, temos procurado fazer implantação de rodovias que permitam facilitar a mobilidade. Um exemplo é a SC-281, de São Pedro de Alcântara a Angelina. Outro exemplo é a ponte do Rio Cubatão, que cria uma rota alternativa para quem quer acessar a BR-101 vindo da BR-282”, relatou.

Municípios

O prefeito de Biguaçu, Salmir da Silva, também falou sobre a necessidade de se discutir efetivamente uma integração por completo.

“Se não [houver a discussão] a gente só vai jogando o problema para o vizinho. E a gente vê que isso em vários momentos acaba acontecendo. Com a terceira pista na BR-101 na região da Palhoça hoje a gente vê que as filas estão lá na ponte ou quase lá na Polícia Rodoviária de Biguaçu”, exemplificou.

Na opinião dele, a questão do contorno viário acaba trazendo sérios problemas para os municípios. “Não só na sobrecarga que traz para o município na educação, na saúde, na infraestrutura local, com a vida de vários profissionais envolvidos, mas também com os transtornos provocados nas rodovias e acessos municipais. Isso simplesmente fica a cargo do município para dar a atenção necessária para que a população que está ao entorno tenha o menor impacto possível”, comentou.

O prefeito lembrou ainda que, além de um “planejamento de início, meio e fim”, é preciso evoluir na questão do transporte coletivo, da Beira-Mar Continental e da Avenida das Torres como outras vias alternativas sem sobrecarregar as rodovias federais, além do impasse sobre o transporte marítimo precisar evoluir de forma organizada e planejada.

Representando a Capital, o secretário de Mobilidade Urbana de Florianópolis, Michel de Andrado Mittmann, assegurou que o município tem trabalhado em cooperação com o governo do Estado nas ações de mobilidade.

“Entre elas a questão do transporte náutico, que tem evoluído. Florianópolis, diferente das demais cidades, não está no eixo da BR, mas é receptora de viagens urbanas também. Temos uma rodovia federal que acessa as pontes e ali a gente tem uma mistura de trânsitos e falta prioridade para o transporte coletivo auxiliar na mobilidade urbana. Tem que rever, além disso, o papel das rodovias estaduais intraurbanas, Florianópolis é um caso típico disso. Elas fazem parte do dia a dia da cidade, como a SC-401”, avaliou.

Para o prefeito de Palhoça, Eduardo Freccia, existe preocupação com as interferências do contorno viário no município.

“Tivemos já grandes ganhos com a execução da terceira pista. Temos esse diálogo muito grande com a Autopista e a ANTT e estamos avançando. Mas gostaria de chamar a atenção para que se possa novamente reunir todas as partes. Sei que a concessionária já tem projetos para melhorar o entroncamento entre a Avenida São Cristóvão e o Contorno, para que a gente possa trazer alternativas àquela população, de um bairro tradicional cujos moradores vão ficar exclusos de todo o restante do bairro”, lamentou.

Maria de Fátima Medeiros, da Associação dos Moradores do Aririú, trouxe a realidade dos moradores que vivem entre as avenidas Bom Jesus Nazaré e São Cristóvão.

“O túnel que pedimos está previsto em lei municipal. É uma estrada mais antiga que o próprio município e vamos ficar com mais de cinco mil moradores segregados de tudo, do acesso à farmácia, ao posto de saúde. E mais 50 comércios que vão fechar as propostas, pois não haverá mais trânsito”, reclamou. De acordo com ela, até uma escola municipal que atende mais de 600 crianças ficará isolada.

O secretário de Segurança e Defesa Social e de Trânsito de São José, Vanio Luiz Dalmanco, alegou que a situação local é bastante complicada.

“A cidade precisa desta alça de contorno, que seja concluída o mais rápido possível, mas precisa que a SC-281 seja melhorada, pois o movimento vai aumentar muito quando tudo estiver funcionando. E também precisa se resolver a questão do transporte coletivo e integrado para a região metropolitana o mais breve possível”, afirmou.

Diálogo

O diretor de Operações Sul da Arteris, Antonio César Ribas Sass, explicou que “o bom relacionamento” com a Prefeitura de Palhoça para o andamento da terceira pista já provocou uma redução de mais de 50% no número de acidentes.

“Estamos com vários projetos em andamento, um deles é a ligação da marginal de Biguaçu no sentido Norte com a construção de uma ponte. São mais de 600 metros e a ligação. Entendemos que a BR-101 precisa de uma ampliação de capacidade contínua frente ao crescimento que ela tem demonstrado”, citou.

Por outro lado, o diretor também concordou que é necessário que cada setor coloque os próprios projetos para que uma solução conjunta seja tomada.

“Sobre a avenida São Cristóvão, temos um projeto de uma alça que passa sobre o contorno, mas estamos estudando outras alternativas. Estamos atentos aos anseios de todos e mantemos o diálogo sempre aberto”, garantiu.

Presente na audiência, a ex-senadora Ideli Salvatti, criticou a ausência do Dnit no encontro. “A Grande Florianópolis tem duas rodovias federais de alto movimento e o Dnit não comparece aqui na audiência pública”, apontou.

Ela questionou também a situação das rodovias estaduais SC-108, entre Santa Rosa de Lima e Angelina e de lá até Major Gercino, e a SC-281, de Angelina a São Pedro de Alcântara. “Estão um caos, mas nós estamos dando recursos para obra federal. Então por que não se aplica aqui nas nossas SCs que são necessárias para o desenvolvimento da região?”, questionou.

A vereadora de Florianópolis Carla Ayres citou que a região está há alguns anos sem ter um órgão responsável para reunir as partes envolvidas.

“Então a Bancada e esta Casa tomarem a responsabilidade para si é extremamente importante, pois estamos vivendo um retrocesso de pensares e de pensar a cidade. Aprovamos a discussão integrada na Câmara junto com a Assembleia, mas infelizmente a Câmara Municipal de Florianópolis se negou a aprovar uma audiência pública sobre a questão da Beira-Mar Continental e como impactará os demais municípios”, relatou.

Fonte: Alesc