Ensino médio integral já é realidade em duas escolas jaraguaenses

Por: Elissandro Sutil

24/02/2018 - 06:02 - Atualizada em: 25/02/2018 - 10:21

“Nós precisamos ouvir de alguém que essa pessoa acredita na gente. Isso nos faz ter mais confiança em nós mesmos”. Aos 15 anos a cabeça da adolescente Luana Caroline de Souza já está voltada para o futuro e, embora ainda não tenha escolhido com certeza qual caminho deverá trilhar, uma coisa é certa: a formação no ensino médio tem feito a diferença. Para ela, que iniciou o calendário escolar do 2º ano do ensino médio nesta semana, a rotina se transformou por completo desde que o ensino integral passou a ser realidade. E foi a partir desta mudança que ela passou a ouvir a frase que tem dado mais confiança à adolescente. “Nós não estamos sendo preparados apenas para passar no vestibular, estamos sendo preparados para a vida”, diz.

Para o diretor da Escola Estadual Professor Heleodoro Borges, Leopoldo Diehl Filho, é justamente essa mudança de pensamento acerca da educação que faz o projeto ser um sucesso e alcançar índices até então inimagináveis. No primeiro ano de projeto, em 2017, o índice de reprovação foi de zero. Isso mesmo, nenhuma reprovação nas turmas do 1º ano do ensino médio. O sucesso vai além dos dados que envolvem notas e reprovação. No ano passado foram efetivadas 90 matrículas no início do calendário escolar e ao fechar o ano letivo, 76 alunos foram aprovados com louvor no ensino médio em tempo integral. Neste ano, além das duas turmas remanescentes – que agora partem para o 2º ano – outros 60 alunos aderiram ao projeto, criando assim duas turmas de 1º ano. “Infelizmente ainda perdemos para o mercado de trabalho. Este é o nosso desafio agora, o mercado de trabalho”, avalia.

O orgulho está estampado no rosto do diretor e da coordenadora do projeto, Giovana Bassi Costa, que afirma ver neste momento, uma mudança de percepção e, mais do que isso, uma transformação na educação do país. “O que estamos vendo aqui é a esperança. Estamos vendo a educação acontecer de uma maneira que não imaginávamos mais que aconteceria. Ficamos até emocionados porque não achávamos que veríamos uma educação de qualidade novamente e, além disso, proporcionando o amadurecimento aos adolescentes”, ressalta.

Estudantes exaltam sistema que tem como foco o protagonismo juvenil | Foto Eduardo Montecino/OCP

O amadurecimento proporcionado por uma educação de qualidade só é possível, afirma Leopoldo, graças à mudança de paradigma, à mudança de visão sobre o papel da educação e sobre a maneira como ela deve ser conduzida. Para ele, o protagonismo é a chave para a mudança de comportamento e para o amadurecimento pessoal e em relação ao futuro. “Nessa nova metodologia o aluno é o protagonista. E com isso é ele quem está fazendo a nova escola. O resultado que a gente tem tido, além do aumento de rendimento, é desse aluno como um ser humano incrível que além de pensar o seu futuro, de amadurecer, ainda faz isso coletivamente”, destaca.

A coletividade e o protagonismo não são apenas discursos. Com a experiência de um ano no ensino médio integral, a aluna Alice Vieira, de 15 anos, reforça a importância deste protagonismo da evolução e no preparo dos adolescentes para o mercado de trabalho e para a vida em sociedade. “É uma experiência completamente enriquecedora e inovadora. A gente tem aqui muito mais do que o ensino regular, temos o protagonismo da nossa educação. Somos nós que corremos atrás e não recebemos tudo apenas para decorar e passar em uma prova e esse protagonismo vai além da sala de aula, ele nos ensina a como conduzir a vida”, conta.

Colega de turma, Emeli Alves, de 16 anos, exalta a nova forma de ensino, baseada na coletividade e que dá aos alunos as rédeas e confia no que eles pensam e sabem sobre o que querem para o futuro. “Aqui a relação vai além da relação aluno-professor, nós os vemos de outro modo porque não estamos sendo preparados apenas para provas e vestibulares, estamos sendo preparados para a sociedade”, diz.

Também no 2º ano do ensino médio integral, a adolescente Aline Bugs, de 15 anos, destaca a mudança de comportamento dos alunos, o amadurecimento e o respeito com a posição alheia. Para ela, ao dar o protagonismo ao aluno e adolescente, ele passa a se ver como parte do processo e a ouvir a opinião dos demais. “A gente sabe respeitar a opinião do outro. Claro que ninguém sai mudando de opinião, mas respeita”, afirma.

Além das disciplinas da grade curricular regular, os alunos do ensino médio integral desenvolvem inúmeras atividades extras, como projeto científico, projeto de vida e intervenções.

Novo modelo de educação

Além da Escola Professor Heleodoro Borges, neste ano a Escola Holando Marcelino Gonçalves também passou a contar com turmas do ensino médio integral. De acordo com a gerente regional de educação, Cristiana Potroniere Ziehelsdorff, são 67 alunos matriculados nesta primeira experiência na escola. Para ela, o ensino em tempo integral é a possibilidade de se obter um novo modelo de educação, mais dinâmico, moderno e motivador tanto para o aluno quanto para o professor.

O ensino em tempo integral é, portanto, a possibilidade de renovar a educação, mas a gerente admite que a apreensão surgiu quando o desafio de implantar o novo modelo na primeira escola foi lançado. O principal receio era a aceitação da comunidade em relação à nova forma de ensino. “Hoje, quando observamos a evolução desses alunos, tanto no aspecto cognitivo, quanto de relacionamento interpessoal, temos a certeza de que esta é a maneira ideal de trabalharmos a Educação. Acreditamos que o resultado não é apenas imediato, mas refletirá na vida desses sujeitos em longo prazo de forma muito positiva”, avalia. Cristiana acredita que a aceitação da educação em tempo integral passa por um processo de mudança cultural, mas acredita também que com os resultados sendo observados, aos poucos essa aceitação irá se ampliar.

O desejo da gerente é de que todas as escolas possam se adequar ao novo modelo, mas ela admite que não se pode permitir a implantação sem que exista a estrutura e condições mínimas exigidas. Ainda de acordo com ela, existe um estudo para a implantação do ensino médio integral na escola Darcy Frank Welk, quando o prédio novo estiver abrigando os alunos e também a viabilidade de implantação na Escola Lino Floriani. Além disso, Cristiana garante que o foco da gerência é estudar pelo menos uma escola de Guaramirim que possa fazer parte do programa.

O programa do ensino médio integral é uma parceria entre Secretaria de Estado da Educação e Instituto Ayrton Senna. A instituição possibilita toda a formação e acompanhamento e a gerente elogia tanto a formatação do ensino que concede inúmeras possibilidades aos adolescentes, quanto o trabalho do instituto que desenvolve o programa. “A escola em tempo integral sempre foi uma das minhas bandeiras e, felizmente, estou tendo a possibilidade de vivenciar isto na rede estadual. Há muitos ganhos aos adolescentes, muitas oportunidades que não são evidenciadas no ensino regular. Há muitas críticas, muito concepção distorcida sobre essa modalidade. Talvez, porque vários outros modelos testados não deram certo, tanto em redes estaduais, como municipais, mas, tenho a plena convicção de que, nesses casos, a falha esteve no acompanhamento. Uma escola em tempo integral não serve para ampliar apenas o tempo do estudante na escola, serve para disseminar o conhecimento, a pesquisa, a interação, o protagonista juvenil.  Nisso, o Estado de Sana Catarina foi certeiro, quando trouxe o instituto Ayrton Senna para entrar em cena. Não pelo “nome” do instituto, mas pela maneira séria e comprometida com que acompanham as escolas, os planejamentos dos professores, aceitação dos alunos. E, surpreendentemente, o amadurecimento percebido nesses alunos, nessa faixa etária, é encantador. Muitos tiveram oportunidades de trabalho em 2017, mas o gosto pelo curso falou mais alto e, os fizeram permanecer”, enfatiza.

A gerente ressalta ainda que é necessário viabilizar, em curto prazo, a adoção de mais escolas a este modelo, mas chama a atenção para a responsabilidade dos gestores públicos em desenvolver modelos de educação em tempo integral. “Torço pra que em curto prazo tenhamos mais escolas neste modelo, mas também, para que os gestores públicos pensem, a longo e médio prazo, modelos coerentes de tempo integral, desde o primeiro ano do ensino fundamental, pois quando a base já vem estruturada, o sucesso é inevitavelmente o resultado final. E não tenho dúvidas, de que esse é o caminho para a educação de qualidade e para uma nova sociedade”, finaliza.