Crianças são vítimas de violação de direitos em Jaraguá do Sul

Por: OCP News Jaraguá do Sul

12/10/2016 - 11:10 - Atualizada em: 14/10/2016 - 08:26

Ao falar sobre o Dia das Crianças, comemorado neste dia 12 de outubro, a imagem é de meninas e meninos felizes pelos presentes e horas de brincadeira garantidas. Toda essa espontaneidade, natural da idade, destoa perante a omissão e desleixo nos cuidados. A negligência é o principal motivador dos casos de violação de direitos que, juntamente com o abandono, somam 87 registros até o mês de outubro desse ano em Jaraguá do Sul. Em seguida, estão as ocorrências de violência física e psicológica, 50; abuso sexual, 25, e exploração sexual, três. Os dados são do Centro Especializado de Assistência Social (Creas).

Os dois abrigos institucionais do município, um no bairro Tifa Martins e outro no Baependi, também estão com a capacidade máxima, com 15 e 20 crianças acolhidas, respectivamente. As famílias responsáveis por elas foram consideradas pela Justiça incapazes de atender a todas as necessidades essenciais para um desenvolvimento sadio. De acordo com a psicóloga da unidade no Tifa Martins, Fernanda Borbulhan, a maioria dos casos recebidos são em decorrência da ausência de cuidados e situações de violência. “A criança não vem para o abrigo porque a família não tem condições financeiras, é por causa da negligência. Falta o entendimento que nessa faixa etária os filhos não podem vivenciar certos acontecimentos. E, quando realizamos a retomada da história de vida dessas famílias, percebemos que eles criam os filhos conforme foram tratados na infância”, aponta a psicóloga.

A atual geração de pais, segundo Fernanda, cresceu desamparada pela legislação. “Até pouco tempo atrás, os direitos da criança não eram discutidos e não havia lei que proibisse a agressão física. Esses pensamentos estão sendo transformados gradativamente, vivemos uma quebra de paradigmas e os resultados são em longo prazo”, acredita. A profissional também considera que o maior trabalho da assistência social é orientar as famílias e ajudar a reconstituí-las. Os integrantes devem dar um novo significado às suas histórias de vida e rotina. “A criança só é destituída do quadro familiar quando o entendimento com os pais for esgotado. Investimos no caso, trabalhamos qual foi o abuso cometido e, se houver evolução, os filhos retornam para casa. Caso contrário, verificamos a disponibilidade de parentes próximos ou então, famílias substitutas”, explica a coordenadora da unidade, Lúcia de Araújo. Quando não ocorre a adoção, o caso é avaliado como de longa permanência e o jovem é direcionado para o Abrigo Institucional Baependi, onde são abordadas questões de autonomia para a maioridade civil.

Lucia V Araujo coord Abrigo menores - em-2

Negligência familiar leva crianças para o abrigo, afirma coordenadora Lúcia

Levando em conta o nível de instrução dos jaraguaenses e a qualidade de vida da cidade, Fernanda acredita que o número de violações registradas no Creas, 303 somente no ano passado, é alto. Grande parte dos casos é registrada nos bairros mais vulneráveis, como Três Rios do Norte e do Sul, Nereu Ramos e Jaraguá 84. “A violência é multifacetada, muitas crianças chegam aqui com as marcas de agressão ainda, não é raridade”, cita. Outro fato recorrente são os de companheiros da mãe que não aceitam os filhos e cometem o abuso, tanto físico quanto verbal.

Mesmo com uma chegada muitas vezes traumatizante, as profissionais relatam que no decorrer dos dias as crianças adotam o abrigo como lar. Ao perceber toda a assistência, estrutura física e cuidados à disposição, o acolhido se permite familiarizar com a equipe técnica. Alguns, como frisa Fernanda, possuem mais facilidade em falar sobre o trauma e o próprio dia a dia. Conversas e brincadeiras acabam se tornando uma forma de terapia. “O amor e carinho dado a eles os transformam em outras pessoas, é muito gratificante. Ter alguém para contar como foi na escola, desabafar os medos, coisas simples que fazem a diferença”, aponta.

Todos os assistidos pelo programa frequentam regularmente a escola e ainda contam com uma rotina de atividades durante a semana. Praticam esportes, veem contação de histórias, vão à igreja e têm aulas de reforço. Eles ainda fazem passeios ao cinema, Parque Malwee, Seminário de Corupá e outros pontos turísticos. “Temos a parceria com alguns padrinhos que propiciam essas saídas. Foi por meio de apadrinhamento que conseguimos ir ao show do Luan Santana no mês passado”, revela Lúcia. Os abrigos são mantidos pela Prefeitura, recebem auxílios financeiros dos governos estadual e federal para manutenção, e funcionam durante todo o ano, em exceção do período de fim do ano, quando as crianças são atendidas pelo programa de Famílias Acolhedoras.

Cras trabalha com a prevenção dentro das famílias 

Ofertando um atendimento personalizado à comunidade mais carente do município, o Centro de Referência da Assistência Social (Cras) trabalha com a integralidade da família e faz parte dos programas de prevenção às violações de direito. Conforme a coordenadora técnica do Cras Jaraguá 84, Eli Antunes, a criança é uma parte vulnerável da sociedade e precisa ser assistida. Dentro do centro, são ofertados grupos para as crianças de zero a seis anos que participam na companhia dos pais e têm noções de fortalecimento de vínculo, higiene, alimentação e brincadeiras produtivas ao aprendizado.

Já para o público entre seis e doze anos, é trabalhada a psicocidade, socialização e participação na comunidade para enaltecer o papel deles como sujeitos e os aspectos de cidadania e direito. Na adolescência, o atendimento continua com o tratamento das dificuldades e dúvidas que cercam essa idade.

“Eu entendo que hoje as crianças de Jaraguá do Sul têm um atendimento muito bom, mas ainda existem as dificuldades, como grandes situações de violência, de abuso, famílias que estão com renda zero e questões de saúde pontuais. Porém, todas são acompanhadas pelos Cras e levadas a outros serviços se notada a necessidade”, comenta Eli. Fornecendo uma assistência de inteligências múltiplas, conforme a coordenadora, a facilidade de absorção dos ensinamentos para as crianças é maior e assim os profissionais conseguem contribuir para a formação de indivíduos melhores. “A estrutura emocional também precisa ser ensinada e fortalecida”, afirma.

Comunidade pode contribuir com Apadrinhamento Afetivo

O projeto de Apadrinhamento Afetivo, aprovado na Câmara de Vereadores ano passado, abre possibilidade de que pessoas contribuam de diversas formas para tornar a vida das crianças que moram no Abrigo Institucional Baependi.

O projeto abre possibilidades para três tipos de contribuição. Uma para suporte material, financeiro, e outra como prestador de serviços. A mais desafiadora é do padrinho afetivo, que requer o envolvimento pessoal. Para as crianças e adolescentes é chance de interação direta com a comunidade e de ter experiências individualizadas.

Crianças do Abrigo - em (5)

Nessa modalidade, serão permitidas visitas regulares, passeios e fins de semana fora dos abrigos. Todo o processo é acompanhado por uma equipe de técnicos e pelo Poder Judiciário, através da Vara da Infância e da Juventude, que avaliará cada circunstância. Os candidatos a padrinhos passam por avaliação de psicólogos, assistente social e pedagogos, que garantem que a relação possa trazer benefícios.

Se você tem interesse de virar um padrinho, a equipe está disposta a esclarecer as dúvidas que surgirem. O contato pode ser feito pelo (47) 3371-0695 ou (47) 3371-2406.

Educação integral busca preparação para o futuro

“Fazer a educação integral de maneira que ela transformasse a vida das crianças para a melhor”, esse era o intuito da equipe de profissionais da Secretaria de Educação ao formular a base do projeto, segundo o secretário Elson Cardozo. Com dois modelos em execução, a Prefeitura atende 509 estudantes em turno único e 220 com oficinas em horários específicos, no contraturno.
Na proposta de turno único, as 25 aulas semanais da grade foram ampliadas para 45, possibilitando maior número de vivências e novas estratégias para os professores. Já nas oficinas das escolas, que são beneficiadas pelo projeto parcial, são escolhidas temáticas acerca de alfabetização, atividades esportivas, tecnologias e meio ambiente.

O coordenador da Educação Integral em Jaraguá, Luis Fernando Olegar, destaca como reflexos diretos do projeto o rendimento escolar, que já alavancou o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de escolas que antes ficavam abaixo da média de seis. “Como efeitos secundários, eu citaria que conseguimos suprir 70% das necessidades alimentares das crianças. O fato de muitas ficarem sozinhas em casa dispersas também é melhorado. Capacitamos ela a entender questões do crescimento psicológico e enfrentamento de situações, o que faltou em muitas gerações e é muito interessante”, relata.

Conforme o secretário, a Educação Integral dá maior oportunidade às crianças e resulta perceptivelmente nos bairros. “É um crescimento completo e de percepção demorada muitas vezes. Mas hoje, quando olhamos as ruas vazias de tarde, sabemos que os alunos estão na escola, aprendendo”, considera. As escolas Ribeirão Molha, Luiz Gonzaga Ayroso e Adelino Francener contam com o modelo de turno único, enquanto a Helmuth Duwe, Cristina Marcatto e Santo Estevão com o projeto parcial.