Em busca de oportunidades: Jaraguá do Sul atrai imigrantes e migrantes através das décadas

Por: Natália Trentini

24/09/2022 - 06:09

Jaraguá do Sul é uma cidade multicultural desde a sua fundação. Constituída de movimentos imigratórios e migratórios, a população vem saltando a cada década em proporção ao crescimento econômico: pessoas de outras cidades, estados e países chegam aqui em busca de qualidade de vida.

Segundo a historiadora do Arquivo Histórico de Jaraguá do Sul, Silvia Kitta, houveram momentos chaves na composição populacional do município, desde a chegada dos colonizadores vindos de outros países nas primeiras décadas, ao boom da industrialização e busca de mão-de-obra que vem sendo notado desde a década de 1970.

“O movimento migratório passou a ficar mais evidente a partir da década de 1970, quando, atraídos pela propaganda colocada em locais nas estradas do Paraná e Rio Grande do Sul, inúmeros moradores destes estados passam a residir em Jaraguá do Sul em busca de emprego, condições melhores de vida”, comenta Kitta.

Essa mesma dinâmica foi constatada novamente no final da década de 1990, segundo a historiadora, o que levou ao crescimento de bairros como Três Rios do Norte, Nereu Ramos e João Pessoa. Novamente, em 2010 foi notada a chegada de pessoas de outros estados como Rio de Janeiro e São Paulo; fugindo dos grandes centros.

Foto Divulgação

Nova onda migratória

Atualmente, uma onda migratória grande vem novamente acontecendo no município. Jaraguá do Sul chama a atenção pelos índices de qualidade de vida divulgados nacionalmente e pelas indústrias multinacionais. Apesar de não existir um estudo a respeito da chegada de pessoas de outros estados, dados da Secretaria Municipal de Assistência Social e Habitação evidenciam uma parcela desse movimento.

“Para se ter uma ideia, só no mês de julho tivemos 200 novas famílias cadastradas e podemos dizer que 70% dessas famílias estão vindo de outras regiões do Brasil, principalmente do Norte e Nordeste”, pontua a secretária Assistência Social e Habitação Niura Demarchi.

Os números compreendem apenas as famílias que buscam os atendimentos da Secretaria e dos Cras (Centro de Referência de Assistência Social), que oferecem auxílios temporários para uma estruturação em situações de vulnerabilidade social.

“Eu acredito que a gente vive um fenômeno migratório, mais ou menos como no início da década de 1990, final de 80”, comenta Niura. “A pós-pandemia é um fenômeno. Eu sinto que as pessoas migram em busca de uma oportunidade diferente, uma sociedade que dê mais solidificação, elas vêm por uma perspectiva de vida. As pessoas querem acesso a estudo, acesso a trabalho, acesso ao alimento”, considera.

Mudar de história

Esse é o caso de Patrícia de Souza Tavernard, 35 anos, que veio do Pará com o marido Abraão e a filha Eduarda. Eles atravessaram o Brasil de carro, em uma viagem de 6 dias acreditando que poderiam encontrar melhores condições de vida diante da falta de estrutura e problemas de violência na capital do estado.

O destino inicial era Florianópolis, mas após uma visita a amigos, acreditaram que poderiam ter boas oportunidades em Jaraguá do Sul. O casal conhecia a história da WEG e seus fundadores e tinham vontade de trabalhar na multinacional – fizeram a mudança para uma quitinete em frente a portaria da empresa na Avenida Waldemar Grubba.

Foi onde o sonho começou. Sem nada na bagagem, Patrícia conta que foi fundamental receber o acolhimento e doações de móveis e outros itens neste primeiro momento onde as diferenças culturais ainda dificultavam a adaptação.

Patrícia comemora as conquistas e se considera uma jaraguaense de coração | Foto Natália Trentini

“As pessoas meio desconfiadas, eu achava estranho no início”, comenta, destacando que agora se considera jaraguaense por ter aprendido a ser mais acolhida e decidida com a cultura local.

Com acesso ao mercado de trabalho local – ambos conseguiram trabalhar na WEG, mas Patrícia saiu por problemas de saúde e Abraão conseguiu uma colocação em sua área em outra empresa -, o casal vendeu a casa no Pará, comprou um apartamento em frente a Via Verde e hoje nutre amor pela cidade.

“Quando chegamos aqui, a gente não tinha nada e foi surpreendido com tudo porque a gente se esforçou para isso. É a oportunidade que Jaraguá do Sul dá de crescer, de conseguir algo bom materialmente, de estudo, de educação. É a oportunidade de mudar uma história”, acredita Patrícia.

Segurança, emprego e oportunidades

Danielle de Lima Sampaio, 42 anos, costumava vir a Jaraguá do Sul visitar o irmão antes de decidir se mudar com o filho e marido para cá em 2021 vindos de Manaus.

“Eu ficava encantada com a calmaria da cidade, com a limpeza, com a educação das pessoas, como tudo era diferente, especialmente na pouca marginalidade. De onde eu venho, estamos passando momentos muito difíceis em relação a isso. Eu via a segurança que as pessoas conseguem ter aqui”, conta.

Isso tudo motivou a família a largar tudo em busca de uma nova vida. Mas nem tudo aconteceu como esperavam. “A gente idealizou, teve sonhos, trouxe esses sonhos com a gente, mas a realidade não é bem assim. Nós encontramos alguns obstáculos, mas dentro do possível estamos conseguindo”, afirma.

Danielle e família buscam oportunidades para criar raízes em Jaraguá do Sul | Foto Arquivo Pessoal

Tendo o cenário de anos atrás em vista, os preços elevados dos aluguéis foram uma das dificuldades, assim como o preconceito sentido em alguns momentos. Com filho de apenas 9 anos e nada na bagagem, era preciso reconstruir uma vida. No meio tempo, Danielle perdeu a mãe, enfrentou desafios e encontrou nos atendimentos sociais oferecidos no Cras “aquela forcinha para não desistir, para continuar”, conta.

Danielle conta com satisfação que o filho tem ido muito bem na escola e que enxerga com bons olhos a vida daqui para frente. “Aqui eu quero criar meu filho da melhor maneira possível, com a segurança que tem nessa cidade, bons caminhos, e eu pretendo me erguer aqui, me firmar, me estabilizar e criar raízes”, afirma.

Um olhar acolhedor

A quantidade de novas pessoas chegando à cidade volta o olhar da Prefeitura para as estruturas necessárias para atender essas demandas, pontua a secretária Niura Demarchi. As áreas sociais, educação e saúde são as primeiras a sentir esse impacto.

Muitas pessoas que chegam largando a vida em outras regiões precisam desse apoio inicial, comenta Niura, que destaca a necessidade desse olhar de acolhimento e compaixão.

Niura destaca a importância da solidariedade local para migrantes conseguirem se estabilizar na cidade | Foto Natália Trentini

A secretária explica que muitas famílias chegam vindo de condições de vida difíceis, não tem moradia, precisam de uma renda emergencial e acabam em subempregos para ter um giro financeiro diário. A primeira demanda que aparece é o pedido de auxílio para alimentação.

“As pessoas têm condições de sair dessa situação? Tem. Mas eles precisam de tempo. Então precisamos desse olhar da sociedade para as pessoas que estão vindo, de serem acolhidas, como a gente tem feito. Todo mundo quer e merece oportunidade. Jaraguá é feita de pessoas que vieram de fora em sua maioria, desde sempre a nossa história é essa”, diz Niura.

A secretária pontua que o município, junto ao setor empresarial, tem observado essa questão e entendido o papel da sociedade local e do voluntariado em dar suporte para que essas oportunidades sejam abertas para todos. Além dos auxílios emergenciais, programas educacionais como o Qualifica Jaraguá foram implantados para contribuir na capacitação para o mercado de trabalho.

Imigração e migração através das décadas

1876

A formação da população do atual município de Jaraguá do Sul iniciou com a chegada de Emílio Carlos Jourdan que veio demarcar as terras do Conde d’Eu em 1876, e com ele vieram os primeiros colonizadores negros que estavam contratados para o cultivo da cana, serraria e do engenho

1889

Com a Proclamação da República em 1889, Jourdan adquire 10.000 hectares de terras do Estado para a Colônia Jaraguá, entre os rios Jaraguá e Itapocu. Além disso, as terras devolutas na região, à margem direita do Rio Jaraguá, passam a ser colonizadas pelo Estado através do Departamento de Terras e Colonização, sediado em Blumenau.

1890

Começa a colonização na região do Rio da Luz e Rio Cerro, a partir de 1890, com colonizadores alemães e neste último também com italianos, que também chegam a Nereu Ramos. Em 1991, a região de Garibaldi e Jaraguá Alto recebe imigrantes húngaro. Em 1898 começa a presença de algumas famílias polonesas. Na margem esquerda do Rio Itapocu a colonização se dava pelo Domínio Dona Francisca, com colonização alemã.

1918

A partir de 1918 temos também a colonização com descendentes de italianos na localidade de Santa Luzia.

Os primeiros imigrantes: nas primeiras décadas as etnias negra, húngara, alemã, italiana e polonesa eram a base da formação da população jaraguaense.

1970

Com a industrialização, o movimento migratório passou a ficar mais evidente, quando, atraídos pela propaganda colocada em locais nas estradas do Paraná e Rio Grande do Sul, inúmeros moradores destes estados passaram a residir em Jaraguá do Sul em busca de emprego, condições melhores de vida

1990

No final da década de 1990, houve grande leva de migrantes chegando no município, ocupando regiões como Três Rios do Norte, Nereu Ramos, João Pessoa, por exemplo.

2010

Uma nova vinda de migrantes de outros estados do país, tais como Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás, buscando melhores condições de vida e menos violência. O terremoto no Haiti nessa mesma época também começa um movimento imigratório e muitas famílias chegam a Jaraguá do Sul.

No censo de 2010, dos 143.123 habitantes, 135.195 eram da região Sul; 4.364 vindos do Sudeste; 1.726 do Nordeste; 545 do Centro-Oeste; e 207 do Norte do país. Haviam também 280 pessoas de países estrangeiros

 

Qual a diferença entre imigração, migração e emigração:

O termo imigração é usado para a entrada de pessoas em um país estrangeiro. Já emigração significa o movimento de saída de pessoas de um país para morar em outro. Já a migração também significa um movimento, mas pode ser utilizada para mudança entre regiões.

 

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