Educação, conscientização e tecnologia. Juntos estes três conceitos podem mudar paradigmas quando o assunto é preservação. No dia cinco de maio, data em que é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente, é importante lembrar do que mais do que buscar soluções complexas, uma vida sustentável exige pequenas mudanças de atitude. E acredite, ainda há muito a ser feito. Uma pesquisa do SPC brasileiro mostrou que apesar de considerarem o consumo consciente importante (com nota de 8,8 em uma escala de 1 a 10), apenas dois em cada dez brasileiros (21,8%) podem ser considerados consumidores conscientes. Neste contexto ainda é relativamente baixa, por exemplo, a parcela de pessoas que avaliam a idoneidade de um negócio – apenas 50,7% (cinco em cada dez) analisam as práticas adotadas pelas empresas em relação ao meio ambiente ou à sociedade antes de realizar uma compra. Além disso, pouco mais da metade dos consumidores (53,2%) separa o lixo doméstico para coleta seletiva. Fato é que a busca pela mudança acontece, de forma cada vez mais intensa, dentro do ambiente educacional. Para a mestre e engenheira elétrica Anna Karolina Baasch, que atua como docente no IFSC, as instituições de ensino devem, acima de tudo, dar o exemplo. “É aqui que semeamos boas práticas e comportamentos. Quanto mais o tema é abordado, mais os alunos se familiarizam com as necessidades e as práticas que levam à atuação sustentável. Acima de tudo, participamos ativamente na formação de cidadãos, que têm como diferencial a noção da sua atuação de forma responsável com o meio ambiente, com a ética da profissão e com noções de cidadania”, afirma.     ANA descarte de esmalte Catolica - em (78)

Após o projeto, a engenheira Ana Maria Leite se considera uma consumidora mais consciente e preocupada com o destino dos produtos que compra

Alem da vaidade, um destino correto Alguma vez você já parou para pensar quantos vidros de esmalte são jogados fora mensalmente em Jaraguá do Sul? Não é segredo que o adorno tão apreciado pelas mulheres movimenta muitos salões, mas o descarte incorreto destes pequenos produtos pode causar um grande impacto. Foi partindo desta premissa que a acadêmica do curso de Engenharia de Produção da Católica de SC, Ana Maria Leite, criou um estudo inédito para o reaproveitamento deste material. Durante a pesquisa, Ana avaliou que existem cerca de 70 salões de beleza registrados em Jaraguá do Sul, sendo que cada um descarta, em média, 11 frascos por mês. No total, o número representa 770 vidros de esmalte jogados fora todos os meses e 9.240 todos os anos. A partir de indicadores do IBGE, a estimativa é de que sejam descartados 43.484 embalagens por mês na cidade, incluindo-se o consumo fora dos salões de beleza. “O Brasil possui um dos maiores mercados de cosméticos do mundo e, em uma pesquisa online que realizei, 96% das pessoas disseram descartar o esmalte em lixo comum”, aponta Ana, que não encontrou empresas responsáveis pelo descarte correto destes produtos. Daí surgiu a ideia de criar uma empresa de processamento do material. “Jogamos no lixo algo que poderia ser reaproveitado, é um desperdício. O plástico pode ser reciclado e o vidro triturado, reaproveitado, e até as cerdas poderiam ser utilizadas por artesões da cidade. A única parte que não seria reaproveitada é a composição química, tida como resíduo perigoso, mas futuramente seria possível estudar uma aplicação para esta composição também”, afirma a acadêmica. Além do benefício ambiental, o projeto ensinou para Ana outra lição importante: o consumo consciente. “Agora eu penso duas vezes sempre que eu vou comprar algo, questionando se realmente preciso daquilo e para onde está indo todo esse lixo. Ainda temos muito a evoluir neste quesito”, destaca. E é justamente esta consciência, destaca o orientador do trabalho, Jerson Kitzberger, que ajudará, pouco a pouco, a criar um ambiente mais sustentável. “Hoje em dia muitos materiais são reciclados, mas uma série de produtos ainda não se sabe o que fazer. São desafios que não só as universidades, mas as próprias empresas precisam tomar para si. O esclarecimento é fundamental para evoluirmos e só por meio de um trabalho conjunto que conseguiremos criar soluções mais eficientes para benefício da sociedade”, analisa.   ADSC08135

Em abril, pais e professores se juntaram para reestruturar o parquinho da escola com a utilização de materiais reaproveitáveis

Exemplo que vem dos pais desde cedo Na creche Alexander de Borba, no bairro Amizade, o conceito de sustentabilidade faz parte da vida dos pequenos desde muito cedo. Com alunos entre zero e quatro anos, a escolinha utiliza o exemplo dos pais para mostrar às crianças, de forma lúdica e divertida, a importância do trabalho em equipe e do cuidado com o meio em que se vive. Todos os anos, desde 2013, a creche organiza uma série de mutirões para incentivar os pais e professores a trabalharem juntos em prol da escola e da comunidade. São promovidas atividades de limpeza, pintura, organização e até mesmo a construção de hortas. Este ano já foram dois mutirões, que contaram com a participação média de 10 pais cada. Atualmente, 87 crianças estudam no local. De acordo com a professora Loraci Welter, a escola tem tido uma participação cada vez maior na formação social das crianças, o que torna este tipo de parceria fundamental para a criação de adultos mais conscientes. “É um tema de grande importância que precisa ser abordado desde cedo. É uma forma de ensinar pelo exemplo, já que nesta idade eles são muito observadores e prestam atenção aos gestos dos pais”, acredita Loraci.     Soluções simples para demandas reais Foi buscando soluções simples para problemas reais do cotidiano que as alunas Cariane Klemz, Khetillyn Schafer e Simone Demétrio criaram um projeto inovador e eficiente para um pequeno “luxo” que ninguém abre mão, a água aquecida. A ideia surgiu durante o Curso Técnico em Eletrotécnica, do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), e une três premissas importantes: a reutilização de materiais, o uso de energia limpa e a economia de energia. Basicamente, o sistema consiste em um coletor de energia solar produzido a partir de garrafas PET e embalagens tetra pack (caixas de leite), conforme explica Simone. “Canos de PVC pintados de preto servirão de caminho para a água circular. O aquecimento da água se dá pelo aquecimento dos próprios canos, que passarão por dentro das garrafas e embalagens de leite”, detalha. Enquanto as embalagens tetra pack aumentam a superfície de absorção de calor dos canos, as garrafas PET ajudam a reter o calor, complementa Khetillyn. Testes mostraram que o protótipo promoveu uma elevação de aproximadamente 10ºC na temperatura da água após 10 minutos de exposição ao sol. O resultado é um aquecedor ecologicamente correto, barato e que cumpre muito bem o seu dever. Para Cariane, a maior lição aprendida durante o projeto foi de que há maneiras simples e econômicas de contribuir com o meio ambiente. “Percebemos que várias pessoas que acompanharam o projeto viram como é simples e prático economizar e ser sustentável. São ideias como esta que, quando levadas adiante, só têm a somar, trazendo benefício não só para a natureza, mas para o bolso também”, comenta. De acordo com a coordenadora do curso de engenharia elétrica do IFSC, Anna Karolina Baasch, que orientou o trabalho, boas práticas individuais são positivas, mas a visão coletiva que modifica o cenário. “Quando semeamos esse conceito na nossa vida, conseguimos mudar uma realidade e melhorar o mundo. Tem um ditado popular que gosto muito, que diz: “Se você quer mudar o mundo, comece lavando a louça na pia’. E isso é verdade. O objetivo é que nosso aluno influencie outras pessoas e fiscalize as práticas nos ambientes que frequenta, se responsabilizando pelo que faz”, ressalta Anna.