Faz dois anos que a Covid-19 passou a fazer parte da rotina da população. Foi em 26 de fevereiro de 2020 que o primeiro caso da doença foi confirmado no Brasil e menos de um mês depois, Jaraguá do Sul via o coronavírus chegar ao município em meio a um lockdown decretado pelo Estado.
Foram dois anos de medidas para conter a pandemia. Após o maior número de casos diários ter sido registrado nos primeiros meses de 2022 – com um pico de mil casos no dia 3 de fevereiro -, os dados indicam uma redução da transmissão e possibilitam ao sistema de saúde um momento de retorno a outras demandas. A média móvel tem caído diariamente: na quinta-feira (3) foram 42 casos no dia e a média para 7 dias estava em 62 casos.
“Tivemos neste ano, em 2 meses, 16.842 casos positivos e somente 12 óbitos”, revela o secretário Municipal de Saúde, Alceu Moretti. “Entre todas as maneiras de proteção, eu tributo à vacina, que de fato foi fundamental para estarmos passando esse momento de mais tranquilidade”, comenta.
Até o momento, mais de 136,5 primeiras doses da vacina foram aplicadas, seguidas de 124,8 mil segundas doses e 6,2 mil doses únicas. Outras 43,4 mil pessoas também receberam doses de reforço. Números considerados positivos pela Secretaria de Saúde.
Moretti comemora a grande adesão da população ao imunizante, o que levou a uma queda gradativa no número de casos graves e internações nos hospitais ao longo do ano de 2021 e 2022.
“Conseguimos salvar vidas pela agilidade da vacina, pelo comprometimento, pelo Comitê Covid e pela participação dos profissionais de saúde dos nossos municípios, enfermaria, técnicos, médicos, toda logística criada, pessoal da limpeza, houve um envolvimento coletivo muito forte”, ressalta. “Pessoas que se dedicaram muito, é uma gratidão eterna com esses profissionais”.
Decisões em comunidade
Desde o início da pandemia, Jaraguá do Sul registrou mais de 53,6 mil casos de Covid-19. Quase 450 pessoas perderam a vida em decorrência da doença.
O secretário de Saúde Alceu Moretti relembra que foram vividos momentos tensos em 2020, quando o vírus era um desconhecido para profissionais da saúde em todo mundo.
As orientações vinham do Ministério da Saúde e Secretaria de Estado da Saúde, e o município buscava se preparar da melhor forma possível para enfrentar os cenários que já eram vistos fora do país.
“Quando a gente teve o primeiro paciente foi um choque. Os médicos não sabiam como lidar com ele, para se ter noção”, relembra a presidente do Comitê Extraordinário Covid-19, Emanuela Wolff. “A gente tinha que passar segurança para a comunidade e foi muito difícil”, lembra.
Para Emanuela, a criação do Comitê fez Jaraguá do Sul lidar com um cenário tão desafiador de forma coesa. As decisões e demandas eram compartilhadas diariamente em reuniões com entidades e órgãos públicos e privados – rotina que se mantém até hoje, mas semanalmente.
Com isso, as ações foram coordenadas e bem aceitas. A presidente considera que houve um crescimento do espírito comunitário, inclusive regionalmente, pois foi criada uma conexão com os demais municípios para criar decretos únicos que protegessem toda a população.
“Essa união foi importante demais e o foco no legado”, diz. “Muitos municípios que montaram essas grandes estruturas para fazer política gastaram dinheiro. Hoje tudo que a gente fez ficou de legado para a comunidade”.
A presidente se refere aos investimentos públicos para aumentar o número de leitos da UTI nos hospitais do município, para criar a Central de Teleatendimento para acompanhamento de pacientes em casa, abrir a Unidade de Apoio ao Pronto Socorro (UAPS) do Hospital São José, entre outros serviços que poderão seguir funcionando e atendendo outras demandas.
“Não agir só com emoção naquele momento de crise, foi muito importante”, finaliza, ressaltando que as decisões foram técnicas, visando atendimento efetivo e de qualidade.
Uma partida inesperada
A Covid-19 levou centenas de vida. Entre as 449 pessoas que morreram em Jaraguá do Sul está o advogado, professor, consultor e também colunista do OCP, Romeo Piazera Júnior, então com 55 anos.
Para ele, a vacina não chegou a tempo. Romeo contraiu a doença, como conta o sobrinho Gustavo Pacher, no fim de fevereiro de 2021, enquanto ajudava a cuidar do pai que estava internado no Hospital São José.
O advogado foi internado no dia 5 de março, com sintomas leves. Passou bem nos primeiros dias, mas houve um agravamento no quadro de saúde que o levou a óbito na tarde do dia 8.
“Ele permaneceu internado por apenas três dias, e não chegou a ser encaminhado para o Centro de Tratamento Intensivo, e nem teve outra indicação de tratamento diferenciado/externo”, comenta Pacher.
O sobrinho conta que o momento foi devastador para toda família, algo que não poderá ser superado. O sentimento é de inconformismo.
“Perder pessoas queridas é o que há de mais difícil na vida de cada um de nós, mas posso lhes garantir que o impacto é ainda maior quando nos vemos envolvidos pelas consequências da irracionalidade humana no trato da pandemia, seja pela extrema politização da pandemia, pela ganância dos comercializadores de insumos/serviço, pela ignorância e truculência dos bacharéis do WhatsApp, pela falta de empatia e cuidado com a vida do semelhante, e, acima de tudo, pela incapacidade técnica e incompetência de alguns que puderam ser observadas e deixaram marcas muito dolorosas”, diz Pacher.
O que fica, segundo ele, é o legado e o impacto de Romeo na família e também na comunidade, por ter atuado ativamente na Ordem dos Advogados do Brasil, ter sido voluntário de entidades e consultor de empresas do próprio Município.
“A vacina salva vidas”
Para Antonio Amarado da Silva, 57 anos, foi a vacina que o fez passar por um caso grave de Covid-19 no começo deste ano. “Tenho absoluta certeza que me salvei por estar vacinado”, comenta.
O aposentado conta que testou positivo para a doença no dia 13 de janeiro. O quadro foi piorando, mesmo tomando a medicação e não tendo qualquer comorbidade.
Em torno de uma semana após o diagnóstico, um exame mostrou 70% dos pulmões comprometidos. “Fui internado ainda no dia 21 já no dia seguinte fui entubado, pois não estava mais conseguindo respirar”, relembra.
Foram quase 20 dias até deixar a UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) do Hospital e Maternidade Jaraguá. O pior momento foi saber que precisaria ser entubado e depois retomar a consciência e perceber tudo que estava acontecendo.
Ele segue em tratamento, fazendo fisioterapia pulmonar. As sessões começaram ainda no hospital.
Para Antônio, é preciso lembrar que o vírus segue circulando e exigindo cuidados. “Acredito que a pandemia até pode passar, mas a Codiv-19, não. Precisamos manter por muito tempo os cuidados de proteção, seja tomando as vacinas de reforço e fazendo o uso de álcool em gel, máscaras de proteção”, diz. “E a vacina salva vidas” , enfatiza.
Sequelas que ficam
Edilson Cavalheiro, 53 anos, vendedor aposentado, ainda sente no corpo as sequelas da Covid-19. Ele tinha medo de contrair a doença por já ter passado maus bocados em 2016, quando teve H1N1 e ficou com os pulmões comprometidos.
O aposentado teve a confirmação e no dia seguinte já começou a sentir febre e muita dor nas costas. Dois dias depois, foi para o hospital e já foi entubado. Foram 26 dias na UTI e outros 20 internados. Na época, a vacina ainda não estava disponível para sua faixa etária.
Nesses dias, a família passou por um turbilhão. Um tio da família, Jorge, de 93 anos, também estava com Covid-19, tendo falecido dias depois, e a sogra de Edilson, Wiranda, que estava doente, faleceu.
“E eu em coma, não foi nada fácil para minha esposa, não poder contar comigo em momentos tão tristes como a perda de dois familiares tão próximos e ainda dar notícias diárias aos parentes que estavam longe e preocupados”, comenta Edilson.
Durante sua internação, foram vários agravantes, como parada cardíaca, pneumonia e problemas urinários, que exigiram hemodiálise.
“Saí do hospital numa ambulância, pois não andava e nem ficava em pé, não conseguia nem segurar um copo ou talher”, conta. “Então tive que aprender tudo novamente. A recuperação e sequelas da doença não são nada fáceis, depois de 60 sessões de fisioterapia ainda tenho dificuldades em movimentos finos, como abrir potes e força também não tenho como tinha antes.”
Edilson ainda sente as mãos e pés inchados, sente cansaço, dores musculares pelo corpo, mas agradece por estar vivo. “Sou grato por ter uma família como a minha, sou grato pela vida, muitos não tiveram a mesma sorte”, reflete.
2 anos de pandemia em Jaraguá do Sul:
20 de março de 2020
Foi confirmado o primeiro caso de coronavírus em Jaraguá do Sul, um homem de 57 anos. A notícia vem 3 dias depois do lockdown decretado pelo governo de SC
7 de abril de 2020
É criado o Comitê Extraordinário Covid-19, que reúne poder público e entidades para coordenar ações
15 de abril de 2020
Hospital São José oficializou a inauguração de dez novos leitos de UTI. Nos meses seguintes, houve aumento para 24 leitos adultos, sendo 10 deles no Hospital Jaraguá e os outros 14 no Hospital São José
2 de maio de 2020
Um homem de 57 anos é a primeira vítima fatal do coronavírus
20 de janeiro de 2021
Começa a campanha de vacinação contra a Covid-19, destinadas inicialmente a profissionais da saúde
31 de março de 2021
O mês de março registrou um aumento nas complicações e casos graves. Enquanto de março a dezembro de 2020 Jaraguá do Sul viu 93 pessoas morrerem devido a complicações da doença, no mês de março foram cerca de 70 óbitos. Nessa data, Jaraguá do Sul atingiu 200 mortes por Covid-19
23 de julho de 2021
Jaraguá do Sul ultrapassou a marca de 100 mil doses de vacinas aplicadas contra a Covid-19. Haviam sido aplicadas 73.192 primeiras doses, 22.181 segundas doses e 6.162 doses únicas
31 de julho de 2021
Ainda registrando complicações, Jaraguá do Sul finalizou o mês totalizando 400 óbitos
24 de agosto de 2021
Vacina chega a pessoas com menos de 20 anos
27 de agosto de 2021
A Secretaria de Estado da Saúde confirmou mais 20 casos da variante Delta no Estado. Dentre eles, está o de uma paciente de Jaraguá do Sul
4 de outubro de 2021
Jaraguá do Sul ultrapassou a marca de 200 mil doses de vacinas aplicadas contra a covid-19
21 de dezembro de 2021
A Secretaria de Estado da Saúde confirma o primeiro caso da variante Ômicron do coronavírus no município
13 de janeiro de 2022
O município de Jaraguá do Sul completa 50 dias sem registrar mortes em decorrência da Covid-19
17 de janeiro de 2022
Começa a vacinação pediátrica contra a Covid em Jaraguá do Sul
23 de janeiro de 2022
Entre 16 e 22 de janeiro, Jaraguá do Sul registrou o maior pico de novos casos, com 3.588 pessoas infectadas. Em contrapartida, os hospitais não registraram aumento proporcional em casos graves.
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