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Dia de Finados: histórias emblemáticas dos cemitérios centenários de Jaraguá do Sul

Por: Natália Trentini

02/11/2021 - 07:11 - Atualizada em: 03/11/2021 - 20:39

Todo Dia de Finados, o destino das famílias que perderam pessoas amadas e queridas é um só: os cemitérios. A tradição começa muitas vezes dias antes com as limpezas e termina com orações, velas e flores. Às vezes lágrimas, às vezes se relembra boas histórias de quem já se foi.

Assim como as pessoas, esses lugares criados para sepultar familiares e amigos carregam suas próprias memórias. Em Jaraguá do Sul, um deles inclusive é reconhecido pela importância, prestes a completar 120 anos de história.

O Cemitério Protestante Brüstlein é mais conhecido por quem passa pela via principal do bairro Czerniewicz. O murinho de pedras, o morrinho de gramado verde e as 86 lápides do local foram se integrando ao cenário urbano.

Cemitério deixou de ser utilizado em 2005 | Foto Natália Trentini/OCP News

A estrutura está ali desde a época dos primeiros imigrantes, quando ainda era a Colônia Jaraguá. Conforme o historiador do Setor de Patrimônio Histórico e Cultural de Jaraguá do Sul, Ademir Pfiffer, colonizadores que vieram de Joinville interessados na oportunidade de ter a própria terra chegaram na região e se estabeleceram às margens do rio.

E nessas proximidades, onde na época era propriedade da família Sohn, aquela pequena comunidade começou a ritualizar a morte. O primeiro sepultamento foi realizado em dezembro de 1901, da senhora Gertrud Todt. A data é considerada marco inaugural do cemitério.

O local seguiu sendo usado pontualmente pela comunidade local até pouco antes do tombamento pelo município, que aconteceu em 2011. A última pessoa enterrada no local foi Hertha R. Duwe, em novembro de 2005.

Conta Pfiffer que entre os sepultados no local está o primeiro intendente distrital de Jaraguá, Max Schubert. Figura história, ele foi também comerciante de secos e molhados onde hoje é o bairro Amizade.

Lápide de Max Schubert | Foto Natália Trentini/OCP News

“Era cidadão regido pelos valores tradicionais à época como, ética (protestante), lealdade, responsabilidade, sentimento de pertencimento à comunidade. Esses indicadores credenciam ele a representar a comunidade no gerenciamento da infraestrutura rodoviária, cobrança de taxas e impostos municipais, que o distrito de Jaraguá era obrigado a recolher à superintendência (Prefeitura) do município sede, Joinville”, conta o historiador sobre Schubert.

Entre os sepultados no local, existem membros das famílias Schulz, Hass, Wasch, Kühl, Sohn, Enke, Will, Flohr, Bork, Förster, Baasch, Krüger, Staudt, Konell, Schneider, Piles, Borck, Todt, Gesser, Staundt, Trapp, Rende, Müsse, Zickuhr, Fritsche, Priebe, Schubert, Verch, Ziemann, Schröder, Kraetzer, Zeck, Duwe, Mohr, Stricker, Hoffmann, Litzenberger, Mayer, Grützmacher, Möller, Kuchenbecker, Baumgartel, Santos, Ziehlsdorff, Sievert, Zeh, Mohr e Wulf.

“O patrimônio funerário do bairro Czerniewicz, Cemitério Protestante Brüstlein tem importância histórica-cultural pelo paisagismo arquitetônico, valor étnico – alemão e pomerano – significados simbólicos do ritual de celebrar a morte na fé protestante”, comenta Pfiffer.

Além disso, o historiador comenta que o conjunto de lápides escritas com letras góticas, difundidas na Europa entre os séculos XII a XXI, representa o patrimônio imaterial e artístico da arte sepulcral.

Existem mais cemitérios tombados?

No município de Jaraguá do Sul, existem os cemitérios que estão dentro da área de tombamento do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional) no Rio da Luz – que tornou toda a paisagem local patrimônio histórico. Os cemitérios Rio da Luz I, Rio da Luz II e Rio da Luz Vitória fazem parte da medida.

Cemitério do Centro | Foto Natália Trentini/OCP News

Os dois lados do cemitério do Centro

Outro cemitério que guarda uma história curiosa está no coração de Jaraguá do Sul. E não por coincidência, é dividido no meio pela rua Coronel Procópio Gomes de Oliveira.

Cemitério era dividido entre católicos e luteranos | Foto Natália Trentini/OCP News

Estima-se que o cemitério foi fundado em 1909 e segundo a Prefeitura, a estimativa é que os primeiros sepultamentos ocorreram em meados de 1920. Não existem registros da época que estabeleçam uma data definitiva.

A história oral conta que o cemitério acabou dividido em dois lados por conta das diferenças entre as tradições: o lado às margens do Rio Itapocu ficou com os católicos, e o lado oposto com os luteranos, marcando a história do cemitério do Centro com um peculiar caso de divisão religiosa.

Como atualmente o cemitério é administrado pela Prefeitura, essa distinção não existe mais. Hoje o lado do rio é chamado de lado 1 e o outro chamado de lado 2.

Mas o olhar atento pode flagrar as diferenças entre as estruturas, resquícios que mostram essa história. Devido aos católicos utilizarem esculturas sacras, os jazigos dessa época podem ser bem reconhecidos por elas.

Lápides mais antigas do lado do rio tem artes sacras com anjos e santos | Foto Natália Trentini/OCP News

Já os luteranos valorizam sepulturas simples, com a inscrição de epitáfios – uma frase em relevo no túmulo.

Uma curiosidade é que, até a década de 1940, era possível encontrar diversos epitáfios em alemão. Mas com a Campanha de Nacionalização, período que coibiu o uso de outros idiomas no Brasil, as frases começaram a ser escritas em português.

Atualmente existem aproximadamente 5 mil jazigos no cemitério, que tem aproximadamente 29.300 metros quadrados.

Quantos cemitérios existem em Jaraguá do Sul?

Existem ao todo 24 cemitérios em Jaraguá do Sul, contando os municipais, de comunidades, igrejas e particulares. Desses, apenas o Cemitério Protestante Brüstlein não está em atividade por conta do tombamento.

Entre esses cemitérios, 7 são municipais e administrados pela Prefeitura: Centro, Vila Lenzi, Rau, Nereu Ramos, Chico de Paulo , Jaraguá 99 e o próprio cemitério do Czerniewski.

A estimativa do setor de Patrimônio da Prefeitura de Jaraguá do Sul é que existam mais de 14 mil jazigos nos cemitérios municipais.

 

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Natália Trentini

Jornalista em busca de histórias e fatos de impacto positivo para a comunidade.