Ser mãe é, em síntese, cuidar e nutrir outra vida. Mas, algumas mulheres, além de levarem esse papel na maternidade, encontraram na profissão essa missão.
Seja na escola, como professora da educação infantil, seja nas horas vagas atuando como bombeira voluntária, Edna Maria da Rocha, 47 anos, vive na rotina essa aptidão por zelar.
Ela foi mãe cedo, teve três filhos: Christian, que faleceu aos 14 e hoje teria 31, Eduardo, 27 anos – que lhe deu o netinho Henrique – e Wagner, de 23. Com apenas 17 anos chegou a Jaraguá do Sul vinda de Toledo, no Paraná, onde batalhou para manter os filhos e viver.
“Como mãe eu sempre fui muito protetora, acolhedora, ensinei que podemos sempre ser pessoas boas, e vencer na vida pelos nossos méritos, sempre orientando e aconselhando para o caminho certo”, pontua.
Edna acredita que herdou o instinto protetor dos pais, que ajudaram ela a criar os filhos após o divórcio. Foi uma jornada de desafios até o momento atual, onde se divide entre trabalho, plantões e a vida em família, com os meninos crescidos.
Primeiro, ela trabalhou como empregada doméstica, depois fez concurso para auxiliar de serviços gerais para uma escola municipal de Schroeder – a mesma onde hoje atua como professora.
“Eu então busquei me profissionalizar, fiz faculdade de pedagogia e no ano de 2010 eu iniciei como professora concursada. Eu sempre fiz o melhor nos dois papéis, de mãe e profissional, sempre para dar o melhor para meus filhos”, diz.
Essa vontade de dar seu melhor também a segue no trabalho voluntário como bombeira, que desempenha há 10 anos.
“Hoje somos treinados para atender a todo tipo de ocorrência, mas o que me dá mais prazer é o atendimento pré hospitalar, saber que você pode dar uma assistência a uma pessoa que precisa de você me dá muita alegria”, ressalta sobre dar esse auxílio em casos clínicos.
“É muito bom poder ser útil para estas pessoas”.
Ter encontrado a vocação, se colocar à serviço da comunidade, tudo isso foi para vencer o desafio de ser mãe e pai dos filhos, para dar uma “educação para a vida”.
Também a fez encarar o momento mais difícil da jornada como mãe: perder o primogênito em um acidente, de forma inesperada. Algo que superou com o tempo, pois sabia que precisava apoiar os outros dois filhos que eram pequenos.
“A minha grande alegria da maternidade é olhar para trás e ver os homens maravilhosos que meus filhos se tornaram. Saber que eu fiz parte deste processo diretamente, pois me divorciei muito cedo e criei eles praticamente sozinha, tendo a ajuda de meus pais para que pudesse trabalhar”, finaliza.
Entre a maternidade e rotina no hospital
A maternidade chegou na vida da médica Renata de Oliveira Alberini aos 37 anos, cerca de 20 anos depois dela sair de casa para estudar e trabalhar. Com a carreira que a levou ao cargo de coordenadora da UTI do Hospital São José estabilizada, chegou a Vitória, hoje com 7 anos de idade.
“Acredito que minha vocação para cuidar começou antes na minha vida profissional do que na pessoal”, comenta Renata, sobre sua vontade de orientar e proteger as pessoas que integram a equipe de trabalho dela.
Mas apesar de todos esses instintos tão ligados à maternidade já estarem bem aflorados, Renata considera todos os aprendizados que vem mesmo com a experiência.
“Me vejo como uma mãe em construção ainda, acho que cada fase que a Vitória completa eu também completo uma fase de aprendizado. Muitas das vezes me pego lembrando da minha mãe na hora de tomar decisões e atitudes”, destaca.
Além disso, a médica acredita que ser mãe também foi um complemento para a vida, pessoal e profissional.
“Posso dizer que ser mãe me tornou uma pessoa melhor, mais tolerante e compreensiva”, comenta, além de destacar que esse papel a fez reduzir o tempo de trabalho para poder se dedicar à filha.
Apesar de contar com o apoio do marido, Renata ressalta que o momento atual afetou muito o equilíbrio na relação familiar. Afinal, ela é responsável pela UTI, que passa por picos de lotação há mais de um ano por conta da pandemia de Covid-19. Ela define como a fase mais difícil da carreira.
Em meio a esse turbilhão, os desafios da maternidade se tornam ainda maiores. A exaustão mental e física é grande, ainda mais quando se percebe a grande tarefa de orientar o desenvolvimento de um futuro adulto.
Mas, como diz Renata, perceber que as coisas vão se encaixando e os caminhos estão dando certo para a filha Vitória, é a maior alegria.
Uma mãe entre muitas mães
Raquel Panstein Corrêa, 38 anos, já havia ajudado a trazer muitos bebês para o mundo quando foi a sua vez. Faz 7 anos desde que ela se tornou mãe do pequeno Daniel.
Como enfermeira obstétrica desde 2008, metade desse tempo no Hospital e Maternidade Jaraguá, Raquel se dedica profissionalmente a cuidar desse momento do nascimento – tanto das mulheres que renascem como mãe, quanto dos filhos.
“Sempre tive esse perfil de cuidar, acolher. Mãe esquece um pouco dela mesmo. É ter no colo o poder de acalmar, no sorriso o poder de confortar. Não poderia ter escolhido outra profissão, pois na saúde, muitas vezes temos que deixar a família, o filho, para cuidar de outra família que está nascendo”, pontua.
A profissão tem suas demandas, com os plantões noturnos vem o “mamãe, não vai pro hospital, fica hoje!”, conta Raquel. Mas essa ida, dá o sabor para o retorno.
E no dia a dia no hospital, ela comenta que muitas vezes volta no tempo e vê a imagem do próprio parto, do filho pequeno no colo. É quando ela percebe a importância de aproveitar cada minuto ao lado do filho.
“Desafios [da maternidade] não são poucos e nem fáceis. Preocupação em saber se está se fazendo o certo, educação, saúde, bons valores. Mas tudo é recompensado com o amor que ele me dá, com o sorriso e o bom dia que recebo todas as manhãs, com as risadas gostosas soltas ao vento. Antes eu era apenas Raquel, e hoje eu sou Raquel, a mãe do Daniel”, diz.
Uma vida de desafios vencidos
Tatiana Reinke, 43 anos, precisou sair do emprego para cuidar da mãe doente. Esse período de extrema dedicação fizeram aflorar nela essa vocação.
Ao perder a mãe, ela decidiu se profissionalizar como técnica de enfermagem e há mais de 12 anos atua com os idosos do Lar das Flores – para onde ela brinca que irá voltar depois da aposentadoria.
Essa reinvenção em um momento de despedida foi apenas um dos desafios que Tatiana enfrentou de frente.
O primeiro deles foi criar a filha Gaye Gabriela, hoje aos 19 anos, como mãe solteira. Ou melhor, como “pãe”, uma mistura de pai com mãe definido pela própria jovem.
Tatiana conta que soube da gravidez quando a relação, que era muito conturbada, já havia terminado. Sem perspectiva de apoio, encarou de frente a maternidade.
“Ser mãe é muito saboroso, por mais que eu tenha tido dificuldades de criar a minha filha, nunca tive uma vida fácil, ela sempre me deu uma alegria enorme desde pequena”, comenta sobre a Gabriela, que define como sua parceira, amiga e confidente.
A maternidade acompanha essa história de superação na vida de Tatiane. “Eu acho que eu sou uma super mãe, como ela fala, eu sou uma pãe”, diz.
Depois de perder a mãe, ela ainda encarou de frente um câncer, logo quando estava se formando no curso técnico, do qual celebra a cura.
Vencido o tratamento, Tatiane começou o trabalho com os idosos. “Acho que essa é minha vocação, cuidar das pessoas que precisam ser cuidadas.”
A rotina de trabalho, comenta ela, traz a função como enfermeira, mas também demanda cuidados muito parecidos com o das crianças: com as rotinas, o jeito de ser.
Com seu jeito mãezona, Tatiane comemora a relação de amor com a filha, e por ter tido a firmeza de encarar tudo que a vida apresentou.
“Criar uma filha sozinha não é nada fácil. O meu desafio foi esse e hoje a minha alegria é ver ela bem, com saúde, educada, trabalhadora, com os princípios que eu ensinei pra vida”, finaliza.
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