Dia da Mulher: histórias de jaraguaenses que superaram barreiras e grandes desafios

Por: Natália Trentini

07/03/2021 - 06:03

Para Marlene Ewald, 46 anos, as mulheres precisam ser guerreiras. No caso dela, a postura combatente foi essencial diante de uma das doenças que mais acometem as mulheres no mundo – o câncer de mama.

Mas na vida, os desafios a serem superados aparecem de várias formas, conforme a história única de cada uma – como para Desirée, Ana Paula e Karina.

Para cada uma dessas mulheres, seja na rotina, ou diante de ameaças vitais, houve o momento de acreditar na própria força para seguir em frente.

Valor nas pequenas coisas

Em 2012 Marlene sentiu sua vida desmoronar. Foi em um exame de rotina, de forma inesperada, que descobriu um câncer de mama. Do dia para a noite, tudo mudou.

Bateria de exames, consultas, cirurgia. Sessões de quimioterapia seguidas de muito mal estar. Depois a radioterapia. Cabelo caindo e a balança atingindo os 95 quilos. Apegos antigos iam perdendo sentido diante da principal motivação: lutar pela vida.

Marlene durante o processo de recuperação, em que teve que lidar com diversas sequelas. Foto: Arquivo Pessoal

“Meus filhos e meu marido, foram as peças chave para minha recuperação, quando quase desisti, entre parar no hospital por causa de alguma infecção ou não conseguir comer, nem ter forças para levantar, vi que a vida tem outro sentido, tudo por eles”, comenta.

A profissional do setor financeiro conta que levou muito tempo para realmente se recuperar, especialmente dos efeitos colaterais.

“Mas hoje, curada, posso dizer que a caminhada foi difícil, mas a vida é muito maravilhosa, e sim precisamos lutar por ela, nós mulheres temos que ser guerreiras contra o câncer e não se deixar derrotar”, diz.

Segundo Marlene, todo o desafio vivido trouxe mais leveza para a vida. Foto: Arquivo Pessoal

Já se passaram 9 anos e ficaram aprendizados somados diante desses desafios.

“Posso dizer que tudo fica mais fácil, pois vemos o verdadeiro valor das pequenas coisas, e com pequenos gestos podemos mudar muitas coisas”.

Depois de dois filhos, a sonhada faculdade

Faz 4 anos que Desirée Weisskeimer, 32, saiu da terra natal, o Rio de Janeiro, em busca de melhores oportunidades de vida. Abandonou a faculdade de direito e veio para Santa Catarina em busca de trabalho.

A primeira parada foi Itajaí, onde logo conheceu o marido, que era de Jaraguá do Sul. Ela conheceu a cidade e decidiu se mudar para cá – e nunca mais foi embora. Se casou e teve dois filhos.

As dificuldades enfrentadas na metrópole e depois a rotina em família colocaram em pausa a vontade que Desirée tinha de voltar a estudar.

As questões financeiras atrapalhavam e faltava tempo, com toda a rotina de cuidados com os filhos pequenos.

Foi no trabalho que Desirée veio buscar que ela encontrou a motivação para estar de volta na sala de aula. Atuando na área de recursos humanos, ela recebeu incentivo da empresa para a volta aos estudos – inclusive financeiramente.

As aulas à distância começaram na última semana e ela comemora e retorno, a possibilidade de se profissionalizar, buscar novos conhecimentos e realizar o sonho da formação superior.

Desirée com o marido, os dois filhos e o enteado. Após anos de dedicação à família, ela decidiu retornar aos estudos. Foto: Arquivo Pessoal

Em casa, o marido tem ajudado no cuidado com as crianças, assim como a mãe, para equilibrar as demandas que costumam pesar sobre as mulheres.

““Desde pequenas temos muito mais responsabilidade do que os meninos, somos cobradas para arrumar a casa, aprender a fazer comida, às vezes até a ajudar na criação de irmãos mais novos, a ser a melhor da turma, depois que casamos, a mesma coisa, mas depois que somos mães as responsabilidade triplicam, imagina se for mãe solteira”, avalia

“Creio que por isso conseguimos superar tantas barreiras e a fazermos tantas coisas juntas, nós mulheres precisamos arrumar tempo para nós, nos formarmos e sempre sermos melhores”, completa Desirée.

Autonomia para vencer os medos

Foi no dia que estava com a filha doente e o carro parado na garagem que Ana Paula dos Santos, hoje com 34 anos, percebeu a barreira que tinha imposto a si mesma.

Diante do medo de dirigir, precisou pegar um ônibus e andar a pé com a menina doente até o hospital, quando tinha a possibilidade de resolver tudo mais facilmente.

“Aquele dia para mim foi muito sofrido e ali vi que precisava fazer algo por mim, porque sempre ouvia uma hora a gente treina, mas esse momento nunca chegava”, relembra.

Casada e mãe de 3 filhas, Ana Paula tinha habilitação desde 2011, mas a falta de um veículo para pegar a estrada assim que finalizou a formação como condutora fez crescer uma insegurança.

“Hoje percebi que eu mesma criei uma barreira e sei que apenas eu poderia superar, dando um primeiro passo”, aponta. E essa atitude foi buscar aulas práticas de volante, voltadas a pessoas habilitadas.

Ela encontrou as aulas de direção na internet e resolveu vencer o medo. Foto: Arquivo Pessoal

Com o treinamento e o suporte para encarar as situações difíceis que se apresentam no trânsito, Ana foi construindo segurança para fortalecer essa habilidade.

“Hoje tenho mais autonomia, sou mais independente”, reforça, com alegria.

Um exemplo de superação

Com apenas 26 anos, Karina Pescharki passou por momentos de superação que a maioria das pessoas não irá encarar ao longo da vida. A jaraguanse nasceu, contra todas as probabilidades, com duas doenças raras que dificilmente aparecem juntas: síndrome de Klippel-Trenaunay e malformação medular.

Nos primeiros anos de vida, ela tinha apenas a perna esquerda maior que a outra por conta da síndrome, e seguia como uma criança comum. Até que as complicações de saúde começaram a aparecer após uma convulsão que sofreu na escola, em uma aula de dança.

Por conta do problema medular, ela perdeu o movimento das pernas e passou anos se recuperando, andando de muleta – mas a perna esquerda foi piorando, atrofiando e Karina a escondia embaixo de roupas largas.

“Eu sempre quis ser perfeita, eu sempre pedi para ser perfeita e não entendia porque eu tinha que ser assim”, relembra.

Foi no contato com outras pessoas que tinham a mesma síndrome anos antes, via Facebook, havia feito a jaraguaense ter coragem de se expor nas redes sociais.

Karina divide sua trajetória nas redes sociais e compartilha aprendizados. Fotos: Arquivo Pessoal

Karina chegou a fazer um ensaio para publicar nas redes sociais, mostrando a perna que antes fazia questão de esconder.

Mas os desafios não pararam por aí. Mesmo que os médicos dissessem que ela não poderia gestar, Karina engravidou e teve a filha Valentina, hoje com 5 anos.

Mas uma fratura na perna, ainda nos primeiros meses da filha, levou a uma série de problemas graves de saúde, infinitos tratamentos e internações – incluindo dois comas por complicações.

Tudo isso culminou na amputação da perna esquerda de Karina em 2018.

“Foi bem difícil”, relembra emocionada. “Porque agora tem que acontecer isso, agora que estava começando a me aceitar?”,comenta.

Os questionamentos e medos eram muitos. A depressão bateu. Em meio a esse turbilhão, ela conta que a filha foi fundamental para que ela seguisse batalhando pela vida.

A filha Valentina motivava Karina a batalhar pela vida. Foto: Arquivo Pessoal

Além disso, o contato pelas redes sociais também levava palavras de apoio e força. Tanto, que até hoje Karina segue compartilhando a sua vida, hoje com uma força de inspiração.

 

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