O clamor pela humanização dos serviços de saúde mental com tratamento digno aos usuários – com a extinção dos manicômios e seus métodos de encarceramento e isolamento social – sintetizam os objetivos do Dia Nacional da Luta Antimanicomial, que transcorre nesta quarta-feira (18) em todo país. Em Jaraguá do Sul, a temática será repercutida pelo sexto ano consecutivo através dos profissionais do Centro de Atendimento Psicossocial (Caps), que hoje promovem caminhada pelo Calçadão da Avenida Marechal Deodoro da Fonseca, às 9h30.
A atividade inicia nas proximidades do Colégio Marista São Luís, segue até os trilhos da ferrovia e depois ruma para a Praça Ângelo Piazera. A programação continua com a solenidade de abertura, às 10h, promovida pela Secretaria Municipal de Saúde, e prevê roda de conversa com o psiquiatra Marcelo Fontes Dias. Esse ano o tema é “Medicalização da vida”, com o slogan “Qual é o seu remédio?”. Os organizadores calculam que aproximadamente 150 pessoas devem participar do evento, com a presença de pacientes atendidos pelos três centros de atendimento psicossocial (Caps) do município.
A coordenadora de Saúde Mental de Jaraguá do Sul, enfermeira Denise Thum, relata que hoje em torno de 1,5 mil usuários dos serviços dos três Caps são atendidos no município, que congrega equipe multidisciplinar de 52 profissionais. Dentre as situações de maior incidência estão as tentativas de suicídio, casos de esquizofrenia, transtorno bipolar, transtorno de ansiedade (síndrome de pânico), depressões graves e dependências de drogas (lícitas e ilícitas). Somente no Caps da Ilha da Figueira são atendidas 800 pessoas, entre usuários e familiares, com mais de 7 mil atendimentos/mês.
O município dispõe de quatro leitos conveniados para desintoxicação de dependentes químicos. Nos casos em que o paciente entra em crise e coloca em risco a si mesmo, ou aos demais, a referência é o Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, em Joinville. “Pela demanda, já precisaríamos ter um Caps 24 horas”, reconhece Denise.
“Ainda existe preconceito, e há os que defendem que sejam enviadas pessoas para o manicômio, o que hoje é inadmissível. Mas, de maneira geral, a sociedade tem gradativamente se familiarizado com o tema”, observa. Segundo a especialista, com tratamento digno e atenção adequada, é possível melhorar a qualidade de vida das pessoas com distúrbios, ou deficiência intelectual de maneira significativa. “Por mais grave que seja o problema, se tivermos a família junto, se consegue resultados muito bons”.
“Já passou o tempo dos ‘hospícios’”, diz o médico Antônio Scaramello
O presidente da Associação Médica de Jaraguá do Sul (AMJS), o patologista e médico legista Antônio Carlos Scaramello, reconhece os avanços das últimas décadas, porém, constata que ainda existem barreiras a serem derrubadas, que pedem a conscientização da comunidade, combate ao preconceito e participação efetiva das famílias. “Já passou o tempo dos hospícios, quando as pessoas eram abandonadas em ambientes prejudiciais, aprisionadas, isolados da família e da sociedade, apesar de ainda termos ambientes desse tipo no Brasil”, reconhece.
Antônio Scaramello aponta como positivo o fato de existir um espaço como o Caps 2, que dispõe de atividades de apoio e serviços como ludoterapia para adultos com transtornos mentais. “Se temos 1,5 mil usuários dos Caps, significa que temos muito mais pessoas precisando, mas com certeza é um avanço”, diz.
Unidade de Acolhimento Adulto em construção no Chico de Paulo
Em outubro do ano passado foi iniciada a construção da Unidade de Acolhimento Adulto no bairro Chico de Paulo, com capacidade para 15 leitos, destinada a usuários de drogas em vulnerabilidade social. A obra, de 432,61 metros quadrados, orçada em R$ 821.932,37, com recursos federais, é feita em parceria com o Fundo Municipal de Saúde. “Será um espaço para que as pessoas reorganizem as vidas, com suporte mediado pelo Serviço Social”, resume a coordenadora Denise.
“A saúde mental cresceu muito de duas gestões para cá. Antes só tínhamos o Caps do Jaraguá Esquerdo”, recorda o secretário municipal de Saúde, psicólogo Dalton Fernando Fischer. “A cada ano que passa, o preconceito e discriminação vão diminuindo. É preciso que se busquem os recursos mais cedo para os pacientes”, complementa.
Em dados
Segundo dados da Secretaria de Saúde, dentre as maiores preocupações estão as tentativas de suicídio, os casos de esquizofrenia, transtorno bipolar, transtorno de ansiedade, depressões graves e dependências de drogas. Onde procurar ajuda:
CAPS 2 (Adultos com transtornos mentais) Ilha da Figueira – (47) 3276-0604.
CAPS AD (Álcool e drogas) Centro – (47) 3370-5693.
CAPS I – (Infanto-juvenil) Jaraguá Esquerdo – (47) 3370-6595.