Devoramos toneladas de ovos de coelhos cuja metade é composta de chocolate e a outra de impostos

Geral
domingo, 07:08 - 16/04/2017

Desnuda-se a bombástica lista de Fachin. A passiva sociedade brasileira conheceu atônita, mais 108 de seus representantes, investigados por corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica, envolvendo os principais partidos. Pois bem, de certa maneira, a nefasta lista corrobora o que é notório no contexto político, mas, ao mesmo tempo, traduz o que é imperceptível ou negligenciado pela vassala sociedade.
Portanto, devemos identificar o que há por trás dessas listas. Representamos uma massa de manobra constituída por quase 150 milhões de eleitores, miseravelmente curvados sob o jugo de uma tirania ilegítima e imoral. E, de nossa parte, permanecemos sentados letargicamente sobre o lídimo poder, mas anestesiados sob o juízo da “servidão voluntária”, assentindo a continuidade do sistema, na utópica expectativa de um futuro melhor.
Então nos indagamos: como entender esta nossa paradoxal condição de súditos detentores de poder? La Boétie nos dá uma coerente resposta ao sustentar que, “os homens nascidos sob o jugo, depois alimentados e educados na servidão, sem olhar mais à frente, contentam-se em viver como nasceram e não pensam que têm outros bens e outros direitos a não ser, os que encontraram”.
Mesmo a contra gosto, temos que admitir que nossa massa popular, historicamente, se molda a esse perfil descrito. Prova disso é o iminente pleito em que escolheremos os próximos representantes. Sob a égide da servidão voluntária, certamente escolheremos dentre os milagrosamente poupados das listas. Em suma, continuaremos em busca de nomes milagrosos. Oras, precisamos reconhecer que não se trata de quem compõe ou deixou de compor as listas. Trata-se antes, de um modelo esgotado. Trata-se antes, de um brado retumbante contra um Estado opressor.
Obviamente que, dada as características próprias de povo latino, dócil e passivo, nunca pegaríamos em armas. No entanto, há uma prática de rebelião poderosa e não violenta, que se coadunaria perfeitamente com o nosso perfil: a “desobediência civil”. E este furor, segundo o mesmo La Boétie, ancora-se na seguinte acepção: “sede resolutos em não querer servir mais e sereis livres.
Não vos peço que o enfrenteis ou o abaleis, mas somente que não o sustenteis mais, e o vereis, como grande colosso do qual se retirou a base, despencar e despedaçar-se debaixo do próprio peso”. Seria a nossa rebelião ideal e adequada, podendo ser protagonizada, inclusive, por cada cidadão, sem nenhum risco ou ameaça. Mas daí surge-nos a segunda indagação: como se valer de tal mobilização se somos, talvez, o único povo desse planeta que, pateticamente, devora toneladas de ovos de coelhos (?) cuja metade é composta de chocolate e a outra metade de impostos? Cuja metade engorda seu corpo e a outra metade os bolsos dos tiranos? A lógica da desobediência poderia começar por aqui.
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