Cuteleiro de Schroeder é um dos participantes do Desafio Sob Fogo América Latina

Foto: Arquivo Pessoal.

Por: Elissandro Sutil

26/10/2021 - 13:10 - Atualizada em: 26/10/2021 - 18:05

O cuteleiro Julio Cesar Lombardi, 46 anos, de Schroeder, é um dos participantes da 4ª edição do Desafio Sob Fogo Brasil e América Latina, do canal History Channel.

O programa estreia nesta quinta-feira (28), às 22h.

Foto: Reprodução.

Julio foi um dos selecionados entre 300 candidatos brasileiros. Ele foi indicado pela ex-participante do programa, Juliana Baioco. Ele percebeu que faltava um personagem no Desafio Sob Fogo, então em todo o processo seletivo levou a tradição gaúcha para o programa.

Ele viajou no dia 16 de junho para a Cidade do México e ficou 20 dias em gravação. Para alguém que nasceu e cresceu em Schroeder, Julio diz que estar em um programa internacional foi uma experiência marcante.

“A experiência de participar do programa é indescritível. No ápice da minha carreira não vai ter outra coisa parecida”, destaca.

No programa ele também teve a oportunidade de conhecer os maiores cuteleiros do mundo, como Doug Marcaida e Ricardo Vilar.

“Torçam por mim, que vai ser massa. Foi uma experiência muito legal, de atravessar a Amazônia e chegar no México. Nunca nem tinha voado de avião, então, sem palavras”, pediu Julio, em live realizada em seu perfil no Instagram.

Foto: Reprodução/History Channel.

Além do programa, ele foi convidado para participar do livro “O Legado do Aço”, que conta a história dos maiores cuteleiros do Brasil, assim como suas paixões e técnicas que gostam de utilizar na hora de completar suas exímias peças.

Paixão pela cutelaria

Nascido e criado em Schroeder, desde cedo Julio era apaixonado pela tradição gaúcha, participava de rodeios, gostava de cavalos e a faca é um elemento extremamente marcante na cultura gaúcha.

Quando tinha 15 anos ganhou seu primeiro cavalo, porém não tinha condições financeiras de comprar todo os equipamentos para encilhar o animal. Foi quando começou a trabalhar com o couro.

Ele produziu todo o equipamento necessário para o encilhamento do seu cavalo. Mas o desejo de ter uma faca ainda existia. Então foi fazer um curso de torneiro mecânico para aprender a manusear a matéria-prima.

Ao longo do curso, Julio teve a oportunidade de fazer uma faca de lima, que ficou boa, mas nem perto do seu atual nível. Ali surgiu um gosto pela cutelaria, mas seguiu trabalhando com couro, inclusive seu apelido é “Julio Guasqueiro“. Vem da palavra “guasqua”, que significa couro.

Ele trabalhava como guasqueiro e domador de cavalos, por isso, produzia sozinho todo o equipamento para a doma do animal.

As facas continuavam fazendo parte de sua vida, produzia e às vezes vendia, mas sem outras pretensões, até que em 2006 ficou sabendo de uma feira de cutelaria em Nova Petrópolis, no Rio Grande do Sul.

Julio produziu cinco facas e foi para a feira, mas sentindo medo, pois estaria no meio de especialistas e da cultura gaúcha de facas. Para sua surpresa, ele vendeu todas e se animou com o negócio.

Durante a feira ele conheceu outro cuteleiro, era Ismael Biegelmeier, que ainda não possuía tanta experiência com facas. Mal sabiam eles que anos depois seus caminhos se cruzariam novamente.

Com o acesso à internet, Julio foi aprendendo, aperfeiçoando e vendendo suas facas. Por acaso, em 2017 um amigo disse que ele deveria fazer um curso, mas não conhecia ninguém que poderia ensiná-lo.

Então encontraram um curso no Rio Grande do Sul e, por coincidência, o professor era Ismael Biegelmeier. Esse amigo ajudou a pagar o curso, Julio fez suas malas e foi.

“‘Vou apostar em ti e te pagar metade desse curso, a outra metade tu se vira’, arrumei a outra grana e fui. Nesse meio tempo esperando chegar a data do curso, eu já era conhecido na arte de fazer bainha e o Ismael falou que precisava dar um curso de fazer bainha”, conta Julio.

Por ter um vasto talento com o couro, ele foi convidado para ser o professor do curso de bainha.

“Eu paguei meu curso de cutelaria e ainda trouxe dinheiro pra casa”, lembra.

Julio tinha experiência, mas o curso abriu sua mente, ele conta que saiu do simples e foi para o aprimorado. Além de conhecer o cenário dos colecionadores de facas.

“Eu vendia faca pros gaúchos, eu não sabia que tem gente que tem R$ 2 milhões em facas guardadas no armário, isso não passava na minha cabeça”

Seu jeito animado de ser o ajudou a desbravar o cenário nacional de facas. Em grupos de WhatsApp e outras redes sociais ele conhecia colecionadores e oferecia seus produtos.

Foto: André Maino/O Legado do Aço.

Hoje, ele conta que produz menos facas, mas todas com um valor elevado. Julio explicou também que existem facas que são feitas com materiais exóticos, como canela de girafa e uma das madeiras mais duras do mundo, a Baraúna.

Desafio Sob Fogo

O Desafio sob Fogo é um reality show de cutelaria, onde ferreiros competem entre si para produzir as melhores armas de corte, entre facas, espadas e muito mais.

Os campeões do reality recebem um prêmio final de 10 mil dólares. O canal que produz o programa é o History Channel.