Corupaense é primeiro brasileiro a ganhar prêmio de botânica na Inglaterra

Por: Natália Trentini

16/03/2022 - 15:03 - Atualizada em: 16/03/2022 - 15:57

O pesquisador, escritor, agrônomo e ecologista de Corupá Harri Lorenzi, 72 anos, recebeu na última semana o Veitch Memorial Medal, da The Royal Horticultural Society, da Inglaterra. O prêmio foi concedido pela primeira vez a um brasileiro, reconhecendo a relevância do trabalho de Harri para preservação e divulgação da flora brasileira.

“Eu sempre me destaquei como paisagista, como jardineiro, como estudioso de plantas no geral, e isso correu o mundo, as pessoas ficam sabendo, publicando muitos livros, e lógico, lá fora as pessoas reconhecem muito mais. Aqui no Brasil não existe esse reconhecimento, já tenho outros prêmios internacionais nos Estados Unidos e agora esse prêmio da Inglaterra”, comenta o corupaense.

Harri recebedo a medalha em Londres. Foto Arquivo Pessoal

Harri conta com mais de 40 livros publicados, incluindo títulos amplamente reconhecidos pelos amantes das plantas: “Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) No Brasil”, “Plantas Medicinais No Brasil”, entre outros.

A trajetória de esforço e entusiasmo pela conservação da riqueza vegetal do país levou Harri a criar o Instituto Plantarum, que atua na publicação editorial, e o Jardim Botânico Plantarum, em São Paulo.

Uma história de esforço e vontade de aprender

De origem rural, Harri Lorenzi nasceu em 1949, em Corupá, época em que a cidade ainda era território de Jaraguá do Sul. Até cerca de 18 anos, trabalhou na roça, fazia parte de uma grande família de agricultores que lidava com as próprias plantações e eventualmente prestava serviços a vizinhos.

Harri conta que fez os primeiros anos de estudo ainda criança em uma escola rural, fez o quinto ano em um colégio do município e depois, pela falta de incentivos, parou de estudar.

“Eu sempre queria estudar, mas nunca tive apoio, nem dos meus pais, nem de ninguém”, relembra. “Apesar de eu ter parado, eu sempre queria voltar a estudar.”

Harri palestrando sobre seu trabalho a respeito das PANCs. Foto Feira Viva

Quando estava com cerca de 18 anos, Harri fazia parte do Clube 4S, da extinta Acaresc (Associação de Crédito e Assistência Rural do Estado de Santa Catarina), atual Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Santa Catarina).

Dentro desse programa, o jovem Harri conheceu o extensionista Djair Pereira, um dos grandes incentivadores de sua trajetória de estudos. Nas atividades do clube, ele participou de eventos nacionais e latino americanos na década de 1960.

Em 1967, o incentivo de Djair fez ele retomar os estudos. Como sempre foi um leitor ávido, não teve dificuldades e logo decidiu fazer a prova que daria o diploma do ginásio na época.

Aprovado, decidiu cursar o Colégio Agrícola em Araquari e paralelamente fazer a prova do colegial, que era equivalente ao ensino médio.

Harri lembra que passava horas por dia lendo livros e estudando todos os temas. Como o colégio era muito rígido nos horários, a noite nos intervalos, ele encontrava refúgio nos livros.

“Djair Pereira me incentivou e eu devo todo o meu sucesso a ele, que se empenhou em conseguir para mim uma bolsa de estudo”, comenta, relatando que conseguiu recursos para pagar o curso e estadia da Nestlé, em Curitiba, que era uma das empresas que apoiava o programa da Acaresc.

Um pesquisador nato

Tendo sempre se destacado nos estudos, ao finalizar a faculdade Harri recebeu várias propostas de trabalho e uma delas da própria Nestlé, onde trabalhou por pouco mais de um ano.

Depois, passou 7 anos atuando no Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná, em Londrina, período em que encontrou incentivo para fazer uma pós-graduação nos Estados Unidos. Depois, ainda trabalhou na Copersul.

Paralelamente, Harri seguia sua grande vocação: pesquisar, coletar espécies, estudar e catalogar a flora de várias regiões do Brasil. A primeira publicação foi em 1976.

Broche e medalha do The Royal Horticultural Society. Foto Divulgação

“Continuei fazendo isso e quando chegou em 1994 eu achei que eu já tinha uma renda suficiente para me manter sozinho e fazer exatamente o que eu gostaria: trabalhar com as plantas, com a flora e escrever livros”, conta.

Foi quando surgiu o Instituto Plantarum para estudos da flora, que levou a publicação de livros, e-books e criação de aplicativos com informações sobre o reino vegetal. O instituto é reconhecido como centro de referência em pesquisa e conservação da flora brasileira

Mas Harri ainda nutria outro sonho: ter um Jardim Botânico. Ele queria ter um espaço para deixar para as futuras gerações ao perceber o avanço do desmatamento no País. Em 1998 surgiu o Jardim Botânico Plantarum, em Nova Odessa, São Paulo, que foi aberto para visitação em 2011.

Um local contemplativo e educativo que conta com uma coleção gigantesca de plantas, incluindo espécies extintas e ameaçadas de extinção.

Harri recebendo o reconhecimento na Inglaterra. Foto Arquivo Pessoal

O resultado desse trabalho pela natureza e atuação como paisagista foi o que chamou a atenção dos ingleses e trouxe o reconhecimento com a medalha e a partir de agora ele é um membro vitalício da The Royal Horticultural Society.

 

 

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