Em um mundo que exige cada vez mais das pessoas no trabalho, é necessário adotar uma forma de se distrair e manter-se saudável. O empresário Emílio Da Silva Neto, 68 anos, encontrou isso no ciclismo, atividade pela qual é apaixonado.
Nascido em Florianópolis, Emílio veio morar em Jaraguá do Sul em 1979. Ele cursava engenharia mecânica e todas as contas eram feitas em régua de cálculo, um processo difícil e por isso os serviços eram muito demorados.

Foto: Reprodução.
Com prazo para as entregas e dormindo apenas cerca de 4 horas por dia, ele conta quando percebeu que precisava praticar atividades físicas.
“Eu tinha 21 anos, para aguentar toda a rotina, misturava refrigerante, café e remédios para me manter acordado. Numa ocasião, trabalhei por 48 horas seguidas, tive um problema cardíaco e fui levado ao hospital quase morto”, explica Emílio.
No hospital, seu médico recomendou abandonar os produtos estimulantes, dormir mais e arranjar algum exercício físico. Ele ficava o dia inteiro na faculdade, então juntou cinco amigos para caminhar todas as noites após a aula.
Foi quando despertou nele a primeira paixão por atividades físicas. Desde então, ele corre todos os dias, chegando a correr 35 quilômetros por semana. Também criou o Clube do Andarilho em 1996, mas queria viajar ainda mais longe.
Paixão pelo ciclismo
Em 2004, juntou os pais dos amigos de seu filho e foram de bicicleta de Jaraguá do Sul até Piçarras, onde almoçaram e voltaram na caçamba de um caminhão. Ali surgiu o Clube do Pedarilho, com o objetivo de incentivar os exercícios físicos, conhecer novas culturas, novas pessoas e diferentes vivências por meio das viagens de bicicleta.

Alguns membros do Clube do Pedarilho. Foto: Reprodução.
No Clube do Pedarilho, Emílio criou projetos locais, como conhecer Santa Catarina de Leste a Oeste, de Norte a Sul, da maior altitude até a menor e conhecer as rotas culturais como a Alemã, Italiana e do Vale Europeu.
A primeira viagem pelo Brasil foi o Caminho da Fé, com 300 quilômetros entre São Paulo e Minas Gerais. A experiência foi tão recompensadora que decidiu conhecer todo o País de bicicleta, conectando as capitais. Até o momento, Emílio já percorreu 19 das 26 capitais brasileiras.
Acidente
No dia 10 de agosto de 2020, ele iniciou mais uma viagem do projeto “Oiapoque ao Chuí”, ligando todas as capitais. Desta vez seriam 2.500 quilômetros, partindo de João Pessoa, na Paraíba. Mas depois de pedalar 70 quilômetros, sofreu um acidente que quase custou sua vida, um dia antes de seu aniversário.

Emílio na chegada a Chuí no Rio Grande do Sul. Foto: Reprodução.
Ele estava descendo um morro pelo acostamento, quando um carro cortou sua frente, arremessando-o na frente de um caminhão, que freou bruscamente. Assustado, tentou juntar as suas coisas, mas o caminhoneiro o retirou da rodovia porque passavam carros em alta velocidade.
No acidente, o capacete dele rachou ao meio, ferindo sua cabeça. Mesmo ferido e com hematomas em todo o corpo, ele continuou sua jornada. Ele conta que, com as viagens, percebeu que existem pessoas com bom coração no mundo.
“Eu tinha uma imagem negativa dos caminhoneiros na minha mente, mas se mostraram serem verdadeiros anjos. O caminhoneiro que me resgatou no acidente me levou ao restaurante e me envia mensagens até hoje”, conta Emílio.

Emílio e o caminhoneiro que salvou sua vida. Foto: Reprodução.
Mais que um hobby
Emílio considera o ciclismo muito mais que apenas um hobby.
“O que me motiva a pedalar é a saúde, um hobby precisa ser saudável, me sinto livre, não dependo de nenhum motor, apenas do meu próprio corpo e da bicicleta. Além de tudo isso, é o meu gestor do medo, aprendi a enfrentar as dificuldades”, explica Emílio.
Seu medo de bicicletas surgiu quando estava aprendendo a pedalar, aos 16 anos, caiu e feriu gravemente o joelho. Mas isso não o impediu de andar de bicicleta, Emílio acha importante ter medo, mas nunca pavor de fazer algo.
Ele tem como lema, a frase “a mente só é sã se o corpo for saudável, e o corpo só é saudável se a mente for sã“, e explica que os grandes empresários saem do serviço e precisam extravasar. Infelizmente, às vezes fazem más escolhas, dando como exemplo os que caem na bebida.
“A minha forma de relaxar é a bicicleta, saio por uma semana e volto totalmente renovado. Além de tudo, tive um choque cultural, algumas pessoas percebiam o meu cansaço e me convidavam para dormir em suas casas”, lembra.

Foto: Reprodução.
Quando questionado por estar plantando bananeira em uma foto. Emílio contou que quando gosta muito de um lugar, planta bananeira. É uma forma de demonstrar o amor pelo local.
Diário de viagens
Pelo Clube do Pedarilho, Emílio já fez mais de 60 viagens de bicicleta desde 2004. São mais de 19 mil quilômetros pedalados, inclusive no exterior. Já pedalou na Estrada da Morte, na Bolívia, que fica a mais de quatro mil metros de altitude.

Foto: Reprodução.
Na América do Sul, foi também para o Uruguai, Chile, Argentina e Equador.
Viajou para a Alemanha para fazer seu doutorado, mas mesmo assim não abandonou os pedais e passeou pela França, Itália, Dinamarca, Espanha, Portugal, Áustria, Suíça e Escócia.
Emílio, aos 68 anos, tem como meta concluir o seu projeto Oiapoque ao Chuí antes de completar 80 anos de vida.

Emílio em Santiago da Compostela, Espanha. Foto: Reprodução.