Em tempos de recursos limitados para as campanhas eleitorais, os candidatos ao pleito precisam, cada vez mais, buscar alternativas para manter vivo o contato com os eleitores. Neste cenário, as redes sociais têm se tornado uma boa opção: acessíveis e democráticas, estas ferramentas ampliam a interação, levando a informação de forma rápida e direta. Além disso, é indiscutível que o uso destas ferramentas é popular entre os brasileiros. No Brasil, 94,2 milhões de pessoas estão conectadas à internet. Deste total, 80% dos acessos são móveis, o que indica que o brasileiro está conectado a qualquer hora e lugar. Segundo uma pesquisa realizada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República no ano passado, 92% das pessoas com acesso à internet dizem utilizar as redes sociais. O Facebook é a mais acessada – hoje, 99 milhões de brasileiros utilizam a ferramenta, o que representa 8 em cada 10 habitantes. O desafio dos candidatos é atrair os usuários. De acordo com o cientista político e doutor em sociologia pela UFSC, Flávio Ramos, é possível notar atualmente certo desinteresse e até mesmo desconfiança por parte do eleitor em relação à política institucional. Este cenário, indica Ramos, é propício para o desenvolvimento de novas técnicas e ferramentas direcionadas ao fazer político. “Os  parlamentos, na atualidade, parecem não traduzir ou refletir os desafios e necessidades da sociedade contemporânea. As campanhas eleitorais desenvolvidas da maneira tradicional não “encantam” os eleitores. As redes sociais tendem, portanto, a ocupar novo espaço no processo de conquistar o voto desse eleitor que demonstra cansaço quando confrontado e até mesmo pressionado pelo assédio dos candidatos”, explica o doutor, que também coordena o curso de mestrado em Gestão de Políticas Públicas da Univali. Segundo Ramos, as redes sociais oportunizam os debates virtuais em tempo real e atingem principalmente o público jovem, habituado a este ambiente. “Isso é fundamental para que os próprios candidatos reorientem seus discursos a partir das opiniões que emergem a cada momento”, salienta. Para ele, o alto fluxo de informações não é um problema – pelo contrário, é este fluxo que permite a interatividade. “Isso é saudável num processo democrático e dialógico”, afirma. Mais do que substituir a forma tradicional de fazer política, Ramos acredita que os dois modelos se complementam. Segundo ele, independente da ferramenta, o que o eleitor busca é compreender as propostas dos candidatos, contanto que sejam apresentados conteúdos que contemplem aspectos regionais mas que igualmente valorizem a ética na política. Ramos salienta ainda que as redes sociais podem ser uma ferramenta poderosa em outros contextos da política, que não a campanha. “A democracia não se resume ao dia das eleições. O acompanhamento é essencial para que tenhamos o compromisso de avaliar o desempenho de nossos representantes”, comenta. Candidatos de Jaraguá do Sul apostam no Facebook Em Jaraguá do Sul, os candidatos à prefeitura têm aproveitado as redes sociais para divulgar propostas, destacar linhas de atuação e, principalmente, mostrar algumas das ações realizadas fora do mundo virtual. A atuação destes candidatos é baseada em diferentes táticas e ferramentas: há quem opte por conteúdo predominantemente gráfico, ou quem prefira investir na produção de vídeos e fotografias. O que todos têm em comum é o caráter informativo adotado nas páginas, que promovem mais a transmissão do que o debate de ideias. Dos quatro candidatos de Jaraguá do Sul, três possuem página oficial no Facebook e um, Jair Pedri (PSD), preferiu adotar apenas o perfil pessoal como veículo informativo. O empresário Antídio Lunelli (PMDB) foi o primeiro a abordar o tema eleições 2016 dentro das redes sociais, com posts feitos ainda em junho. Os demais candidatos iniciaram suas divulgações entre o final de julho e agosto. Ivo Konell (PSB) é o candidato que posta conteúdo com maior frequência nas redes sociais – só na última semana foram 43 posts. O veterano da política optou por um conteúdo predominantemente gráfico, composto principalmente por ilustrações das principais ações de seu plano de governo. O modelo, também adotado por outros candidatos, parece funcionar bem em termos de interatividade, gerando compartilhamentos. Esta, aliás, tem sido a forma de interação preferida dos eleitores de Jaraguá do Sul. Nas páginas dos quatro candidatos, o que mais se nota é o compartilhamento de propostas e imagens – alguns posts chegam a ser repassados por mais de 200 pessoas. Antídio Lunelli (PMDB) é o candidato com o maior número de interações por comentários. É também o que utiliza ferramentas mais variadas, incluindo posts em vídeo, fotos, materiais gráficos e sonoras de rádio. Luiz Ortiz (PT) tem apostado fortemente na divulgação de vídeos, muitos deles com a participação dos próprios eleitores. O candidato também utiliza as redes sociais para destacar seu plano de governo, o qual é constantemente citado nas artes divulgadas. Jair Pedri (55), por sua vez, tem optado pela produção de vídeos com o formato “em tempo real”, como uma espécie de conversa, a fim dar um tom mais pessoal ao conteúdo. Além do Facebook, Konell e Lunelli têm utilizado o Instagram para divulgar imagens da campanha. Ambos os candidatos aumentaram a freqüência dos posts nas duas últimas semanas e têm optado por divulgar pelo menos uma imagem ao dia. Apesar de aumento no número de internautas, redes sociais não garantem eleição Com a implantação do limite de gastos para as campanhas eleitorais, a internet e, principalmente, as redes sociais, ganha ainda mais importância entre as ferramentas e mídias disponíveis para os candidatos, partidos e coligações. “A importância das redes sociais na campanha aumenta, ainda mais por conta do limite de gastos, já que é um mecanismo que não é pago, então é uma alternativa boa”, diz o publicitário Elias Raasch, responsável pela campanha do candidato a prefeito de Jaraguá do Sul, Antídio Lunelli (PMBD). Apesar de o número de internautas no país aumentar a cada ano – foram mais 9,8 milhões de usuários entre 2013 e 2014 –, o publicitário observa que o alcance à população nas redes sociais depende da estratégia de campanha adotada. “A campanha nas redes sociais não decide eleição sozinha. Minha visão de campanha é primeiro ter a mensagem macro, principal da campanha, o modo como a gente quer ‘vender’ a proposta, e daí ter um conjunto com todas as mídias”, comenta Raasch. Ele lembra que as outras ferramentas são importantes para o sucesso da campanha, sendo que o rádio continua ainda muito importante, nos municípios em que não há rede de televisão. Da mesma forma, o responsável pela campanha do candidato Jair Pedri (PSD), jornalista Guarany Pacheco, avalia que o rádio já está bastante arraigado na cultura da população, não sendo ideal deixar de apostar em um veículo já consolidado. “A taxa de conversão de votos no uso da internet, das redes sociais, ainda não foi auferida”, destaca Pacheco, explicando que, por isso, a internet e as redes sociais acabam tendo papel mais forte na interação e engajamento com o eleitor internauta. “O que a internet mais ajuda na campanha é em servir como argumento para a militância, no contato com o candidato e no diálogo com o eleitor”, considera Pacheco. Candidatos de Guaramirim divulgam propostas e bastidores de campanha Assim como em Jaraguá do Sul, os candidatos a prefeito de Guaramirim utilizam as redes sociais para a divulgação das propostas de governo e das atividades da campanha. São postagens de fotos e vídeos de visitas a bairros e comunidades do município, de reuniões com entidades empresariais, além de participação em eventos sociais e também eleitorais. O candidato Luiz Chiodini (PP) possui dois perfis pessoais e uma página no Facebook, sendo que o primeiro perfil pessoal e a página são os canais mais utilizados para as publicações com textos em primeira pessoa, enquanto o segundo perfil acaba compartilhando o conteúdo gerado na página e primeiro perfil do candidato. Também há vídeos do candidato falando sobre as visitas à comunidade e também agradecendo pela receptividade. Sendo de um partido cristão, a candidata Maria Lucia (PSC) possui bastante publicações de fotos em eventos religiosos, como missa e eventos sociais da igreja. A candidata utiliza seu perfil pessoal e também uma página da chapa, com a participação da candidata a vice Josiane Carla (PSC). No perfil pessoal é onde a candidata cabeça de chapa divulga mais fotos de duas visitas aos bairros, enquanto que a página é utilizada de maneira mais formal, com imagens padronizadas com as cores do partido em que as propostas de governo são divulgadas. A participação do internauta se dá mais por curtidas do que comentários. Também publicando vídeos e fotos dos bastidores da campanha, assim como imagens em movimentos chamadas de GIFs, o candidato Nilson Bylaardt (PMDB) utiliza mais a página da chapa no Facebook para fazer as publicações. O candidato a vice João Deniz (PMDB) também aparece em vídeos, ao lado de Bylaardt, principalmente nos convites aos eventos da campanha, como os bandeiraços. Os internautas costumam comentar e curtir mais do que compartilhar. A chapa também possui um grupo no Facebook e no Whatsapp. O candidato Paulo Veloso (PR) também faz a publicação de vídeos de apoio de políticos, como do deputado estadual Patrício Destro (PSB), do mesmo partido do candidato a vice Mário Sérgio Peixer. As publicações feitas na página da chapa são assinadas tanto por Veloso quanto por Peixer, enquanto outras não levam assinatura. Há bastante divulgação gráfica do número 22 – assim como na página de Bylaardt, cujo número é 15. Assim como nas páginas dos outros candidatos, a chapa divulga recortes de jornais com matérias em que os candidatos aparecem concedendo entrevistas. Algumas práticas proibidas nas campanhas em redes sociais •  Publicar ou compartilhar conteúdo ofensivo ou boatos sobre outros candidatos ou partidos; •  Criar perfis falsos ou anônimos para a publicação ou compartilhamento de conteúdo; •  Aumentar a visibilidade de postagens nas redes sociais por meio de pagamentos ou uso de robôs; •  Fazer propaganda, mesmo que de graça, em sites de empresas, entidades sem fins lucrativos ou órgãos públicos; •  Pagar por propagandas, como links patrocinados, que atingem mais usuários; •  Doar, vender ou comprar cadastros com dados sobre e-mails ou telefones para o uso de candidatos ou partidos Caso identifiquem alguma irregularidade, os eleitores podem denunciar os candidatos no site do Ministério Público ou nos cartórios. A recomendação do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina é que o cidadão evite fazer denúncias por mídias sociais, pois a resposta pode ser mais demorada.