Badalar dos sinos na comunidade Apóstolo Pedro marca o tempo e transmite mensagens

Por: Elissandro Sutil

21/12/2017 - 13:12 - Atualizada em: 22/12/2017 - 09:23

Símbolo do Natal, os sinos representam o som dos céus. Suas badaladas anunciam o nascimento do menino Jesus, assinalando a passagem para uma nova era. Ao longo dos anos, esse dispositivo simples para a produção de som foi utilizado para marcar as horas, ser instrumento de reflexão, divulgar casamentos e até mesmo falecimentos. Sua forma, tamanho e uso se modificaram com o passar dos séculos, mas os sinos nunca foram meros objetos para emitir um ruído. Movidos pelas mãos do homem ou mecanicamente, eles convocam para o culto, para a adoração e para a gratidão.

Inscrições gravadas nos sinos indicam que as badaladas de dois dos quatro existentes transmitem paz e amor | Foto Eduardo Montecino/OCP

Na torre da Igreja da Comunidade Luterana Apóstolo Pedro, as inscrições gravadas nos sinos indicam que as badaladas de dois dos quatro existentes transmitem paz e amor. Um sistema instalado no ano de 1946 liga os objetos aos quatro relógios da estrutura, que teve seu culto inaugural em 1935. Ainda hoje, a cabine que guarda a máquina que mantém as peças funcionando possui o documento detalhando a compra do relógio. “Um relógio de fabricação alemã para a torre da igreja, com corda para oito dias, para bater as quartas, meias e horas cheias, aplicado no lugar em primeiro momento sem os sinos, em três fases”, diz a nota, emitida pelo Atelier de Arte Cristã, empresa curitibana que forneceu o equipamento.

Para manter esse sistema em perfeito funcionamento, Ivo Venera, 47 anos, que há 21 é funcionário da comunidade, dedica parte de seu tempo à manutenção dos cabos e acessórios que interligam sinos e relógios. Segundo ele, o trabalho é feito com carinho e dedicação, contando com o auxílio do voluntário Adalberto Blank. “Volta e meia os cabos arrebentam de tanto o sino puxar e bater. Os pêndulos têm um couro que também desgasta. Daí a gente arruma. Na época da Relojoaria Avenida, o meu xará Ivo fazia a manutenção do relógio, mas desde que ele faleceu nós passamos a consertar o que precisa”, garante Venera.

Com agilidade de quem sobe normalmente os vários lances de escadas para chegar ao topo da torre, ele mostra como funciona o sistema. “Dou corda a cada seis dias no relógio. Os sinos batem a cada 15 minutos. Por exemplo, às 15h15 ele bate uma vez, às 15h30 ele bate duas vezes, 15h45 três vezes e quando chega às 16h ele bate quatro vezes indicando a hora fechada e mais a hora que é”, revela. Na época, foram pagos 55 mil cruzeiros pelo relógio, inaugurado dia 26 de setembro de 1946.

Torre da Igreja da Comunidade Luterana Apóstolo Pedro abriga o sistema desde 1946 | Foto Eduardo Montecino/OCP

A nota referente à compra dos sinos também está na torre: um sino de 758 quilos em nota Fá, outro de 491 quilos em Sol Sustenido, um terceiro em nota Dó, de 232kg; e mais um sino de 93,5 quilos em nota Fá. Na descrição feita pela empresa Mueller Irmãos Ltda, também de Curitiba, datada de agosto do mesmo ano, também consta que todos foram feitos em bronze especial e possuem badalo e arco para tocar os sinos com mecanismo. O valor total da aquisição foi de pouco mais de 65 mil cruzeiros.

Indicador de notícias boas e ruins

Além de marcar o tempo, no decorrer da história o sino foi se tornando mensageiro das guerras, da paz, de boas e más notícias. E até hoje continuam a badalar pelas comunidades, mesmo que em algumas regiões a tecnologia tenha deixado de lado os braços humanos.

O auxiliar de serviços gerais conta que tradicionalmente, com o culto marcado para 9h, um sino batia às 8h, depois, às 8h30, eram batidos dois sinos e no início da celebração os quatro sinos eram acionados. Além disso, é batido um sino no momento do Pai Nosso. “Mas, atualmente, reduzimos somente para a hora que inicia o culto. Também, quando tem casamento, são batidos dois sinos na entrada da noiva se ela assim desejar”, comenta Ivo Venera.

A forma que os sinos soavam também passava informações. “Há alguns anos, quando as pessoas faleciam, a gente batia um sino e quem ouvia já sabia se era mulher, homem ou criança, só pelo barulho do sino (já que cada um emite uma nota). Aí só ligavam para a secretaria para perguntar quem era o senhor, senhora ou criança falecida. Mas, aos poucos, por causa do barulho, essa tradição foi se perdendo. É uma pena”, lamenta.

Atualmente, o acesso à torre está interditado aos visitantes para reforma da estrutura, que deve guardar as mesmas características devido ao tombamento. Normalmente, quem solicita a subida ao campanário, de onde se tem uma vista privilegiada da cidade, são as pessoas que visitam o município. Prestes a se aposentar, Ivo garante que todo o serviço executado por ele na paróquia é feito com devoção e amor. “Todos me conhecem e me procuram quando precisam de alguma coisa. Conheço cada pedrinha que tem aqui e tenho muito carinho pelo que faço”, conclui.