Transtorno de desenvolvimento, distúrbio neurológico, síndrome que compromete a interação social... Abra a mente, porque não faltam teorias científicas atribuídas ao autismo. Para quebrar paradigmas e combater o preconceito, o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, que ocorre neste sábado, busca conduzir um novo olhar. Em Jaraguá do Sul, uma instituição carrega esta missão com maestria: a Associação de Amigos do Autista (AMA), que comemora 25 anos em 2016, realiza um importante trabalho com mais de 80 alunos e segue na luta para garantir direitos e inclusão. Um dos desafios para compreender o autismo está na busca permanente de conhecimentos e na atenção às novas descobertas. Identificar e estimular as habilidades de um autista, segundo especialistas, pode gerar resultados surpreendentes, em todas as áreas. O presidente da AMA, Clécio Gonçalves, pai de autista, referenda o quanto é importante a família dar suporte emocional e de infraestrutura para impulsionar o desenvolvimento: “Eles têm uma sensibilidade muito maior, são amorosos, com uma percepção maior. Há muitas teorias. A maior dificuldade, ainda, são os preconceitos”, declara, em relação aos mitos e à falta de conhecimento relacionados ao tema. IMG_3218

Entidade em Jaraguá do Sul atende 84 alunos, tem equipe com 16 profissionais e rede com 100 pessoas voluntárias

Diretora há 11 anos da AMA, Tania Krause observa que é preciso ser objetivo na comunicação com o autista. “O apoio dos pais é fundamental para que se desenvolvam”, reforça. Os grupos de pais buscam apoio mútuo na superação das angústias, interagindo para aprimorar conhecimentos. “Existe um choque inicial, mas isso é trabalhado. Nas creches, as educadoras são orientadas a identificar o autismo para se trabalhar de forma precoce”, assinala.

A psicóloga Lenira Menel, que atuou na AMA de 1999 a 2002, referenda o esforço dos primeiros tempos da instituição, criada por pais de três autistas que levantaram a bandeira dos direitos e buscavam suporte para criar os filhos com qualidade de vida. “Tem o aspecto genético, mas cada criança é um indivíduo único”, resume. Um dos fatores fundamentais para a consolidação da AMA, segundo ela, foi o apoio que sempre recebeu da comunidade na manutenção da infraestrutura de atendimento. Atualmente, a AMA atende 84 alunos, conta com mais 35 em avaliação, equipe multidisciplinar de 16 profissionais e possui uma rede de 100 voluntários. Treinão neste domingo No mês que tem a cor azul como símbolo da campanha, a AMA de Jaraguá do Sul promove neste domingo, na Praça Angelo Piazera, o 4º Treinão Solidário. O evento começa a partir das 9h. No local haverá distribuição de fôlderes, venda de camisetas, atividades recreativas, corrida, caminhadas e pedalada com o grupo Bike Anjo pelas ruas centrais. No dia 10 de abril, às 10h, o Clube Atlético Baependi sedia a Mostra Uma Noiva, e, no dia 13, o 13º Happy Hour, com ingressos a R$ 60. Mais informações no (47) 3370-1555 e na página “AMA Jaraguá do Sul” do Facebook.

Garoto que tem orgulho de ter Down Bryan Jahn Pedro tem características de inventor e é autoconfiante

Medalha de ouro em Matemática Aprender Matemática é um bicho de sete cabeças para muita gente, mas para Luigi Ferrazza Maiochi, 14 anos, estudante do 9º ano da Escola Cristina Marcatto, essa dificuldade não existe. Em julho de 2015, ele foi um dos catarinenses a conquistar medalha de ouro na OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas) e recebeu a honraria no Rio de Janeiro. No ano anterior, recebeu medalha de prata, em Florianópolis. Este ano, mesmo se voltando mais às aulas de Ciências, garantiu mais uma medalha de prata. Discreto e de poucas palavras, objetivo e franco, Luigi revela que também aprecia Português e livros de ficção. Cita as obras do brasileiro Eduardo Spohr, como “Os filhos do Éden” e “A batalha do apocalipse”. Consciente da síndrome de Asperger, garante que nunca se sentiu discriminado. Pelo contrário. “Tenho um colega que só quer fazer trabalhos em dupla comigo”, reconhece, com sorriso tímido. Quando não está em aula, ocupa o tempo com jogos eletrônicos e passeios junto à natureza. A mãe, Márcia Ferrazza Maiochi, orgulhosa, comprova que “é preciso buscar ajuda profissional, pesquisar e incentivar bastante aquilo que o filho gosta.” IMG_2849

Equipe de voluntários da AMA trabalha na confecção de cartões com papel reciclado

Voluntários na produção de cartões A professora aposentada Miriam Antelo, 66 anos, há 12 preenche a vida coordenando os trabalhos de confecção de cartões de papel reciclado, atividade que garante parte dos subsídios necessários para manter a AMA. São diversas turmas de voluntários que se revezam durante a semana para a fabricação artesanal do papel machê, criação dos modelos, corte e colagem até o produto final. “Produzimos em torno de 5 mil cartões por mês para grandes empresas”, conta. A produção é focada nas datas comemorativas, como aniversários, Natal e Páscoa. O excedente é comercializado na sede, na Rua Gustavo Friedeman, 134, Vila Lalau, e em mais lojas parceiras. “Quando não venho, parece que falta um pedaço. É muito gratificante saber que estou contribuindo”, resume Mirim, que durante décadas atuou como educadora infantil. Orgulho de ser autista Seguro e autoconfiante, Bryan Jahn Pedro, 12 anos, se comunica de forma direta e tem perfil de inventor. Estuda no 7º ano da Escola Emílio da Silva, em Schroeder, e às segundas e quartas-feiras frequenta a AMA. Enquanto cola as peças do quebra-cabeça colorido no papel, diz que quer construir coisas novas com sucatas. Descolado, oferece ajuda aos colegas sobre a atividade monitorada pela professora Cristina. “Inventei motinha com rolamento de madeira. Só tive ajuda para fazer o eixo. Quero ser engenheiro eletricista”, revela. Sobre o autismo, frisa: “Tenho orgulho de ser autista. Einstein era, Messi é, só gente importante.” Vítor Borges Gabilheri, 12 anos, amigo de Bryan, não fica para trás. “Sou o mais popular aqui da AMA. Gosto de jogar bola, videogame. Geralmente ganho, porque sou ‘velho’ em videogame e já zerei vários jogos”, assegura ele, aluno do 7º ano da Escola Alberto Bauer. Tímida e delicada, Luanda Rafaela Martini, 13 anos, sorri, receptiva. Diz que gosta de desenhar e pintar na AMA, além das aulas de balé clássico na SCAR. “Vou me apresentar em maio”, salienta. A pedagoga Cristiane Castro, 32, confirma que os cinco alunos da turma interagem bem, apesar da dificuldade comportamental. “Aqui se trabalha bastante a tolerância, de se colocar no lugar do outro, pela tendência ao individualismo”, observa.