Jogo, série, vida real: é preciso falar sobre o suicídio

Por: OCP News Jaraguá do Sul

19/04/2017 - 08:04 - Atualizada em: 20/04/2017 - 08:59

Por: Dyovana Koiwaski

O assunto é tradicionalmente pouco abordado nas rodas de conversas e pela mídia, sob o argumento de que falar sobre ele e relatar casos verídicos pode estimular novas ocorrências. Porém, o aumento de 445% no número de pessoas que procuraram ajuda no Centro de Valorização da Vida (CVV) no Brasil após assistirem a episódios da série “13 Reasons Why”, lançada pelo Netflix no mês passado, mostra que é necessário romper o silêncio e falar sobre o suicídio.

A série sobre o suicídio da estudante Hannah Baker, de 17 anos, e os fatores que a levaram a tomar esta decisão, se tornou umas das mais comentadas da temporada tratando a depressão sobre a ótica do universo adolescente. Em Jaraguá do Sul, a quantidade de pessoas que se motivaram a pedir ajuda também apresentou crescimento por causa da trama, acredita o vice-coordenador do CVV, Charles Alexandre Costa. “Muitas pessoas que nos ligam citam a série”, comenta.

Outro fator alarmante foram as notícias sobre o jogo conhecido como “Baleia Azul”. Nele, são propostos 50 desafios aos participantes, sempre por meio de redes sociais, que aumentam a solidão, o isolamento e impulsionam a depressão. Pelo menos duas mortes são investigadas por suposta relação com o jogo, uma no Mato Grosso e outra na Paraíba e há denúncias de casos em Minas Gerais onde as vítimas deixaram mensagens citando “a culpa é da baleia”. Em Santa Catarina, um jovem de Lages tentou suicídio e há informações de que ele teria sido instigado pelo jogo. Segundo a Polícia Civil, há suspeitas de outros casos envolvendo crianças e adolescentes relacionados ao “jogo” em outras cidades do Estado.

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Costa considera que conversar abertamente sobre o tema é fator de extrema importância para a prevenção. “É uma quebra de tabu necessária. Naturalmente, as pessoas evitam falar sobre seus problemas e justamente por isso que o CVV faz o trabalho de ouvir. Não julgamos ou aconselhamos quem liga para cá. Mas, sim, escutamos os desabafos e incentivamos as pessoas a contarem o que as aflige, tudo de maneira sigilosa e acolhedora”, explica o vice-coordenador.

Em 2016, o CVV realizou 1.440 atendimentos, entre novos e retornos. Foram 118 presenciais e 1.322 por telefone ou Skype, que são os meios mais procurados.

No ano passado, foram realizados 85 atendimentos relacionados a tentativas ou suicídios em toda a rede pública de saúde do município. Em 2015, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde, 12 pessoas cometeram suicídio em Jaraguá do Sul.
Santa Catarina é o segundo estado do país com maior recorrência de casos, ficando atrás do Rio Grande do Sul. “Os índices altos estão associados a uma questão cultural, onde as pessoas são mais reservadas e veem o suicídio como forma de fraqueza, tendo dificuldade para comentar a respeito”, avalia.

No Brasil, registra-se em média 32 mortes autoinfligidas por dia, uma morte a cada 45 minutos, estimando-se que o número de tentativas gire em torno de 60. Com mais de 70 postos de atendimento no país, o CVV busca se aproximar da comunidade, com promoção de palestras, grupos de apoio e ações informativas para lutar contra esses números.

Atenção ao comportamento de familiares e amigos é fundamental

Depressão, problemas de relacionamento, transtornos psicológicos, perda aquisitiva, cobrança no trabalho e sentimento de solidão são alguns fatores que podem motivar um suicídio. Falta de diálogo, isolamento, tristeza, dificuldades em se relacionar e apatia estão entre sintomas que podem ser notados. Aspectos físicos ou psicológicos não devem ser negligenciados, desde os mais sutis. Por isso, o vice-coordenador do CVV, Charles Alexandre Costa, orienta os pais e demais familiares a ficarem atentos ao comportamento de filhos, parentes ou amigos.

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Na rede de saúde pública do município, conforme a gerente de saúde mental do Caps (Centro de Atenção Psicossocial), Denise Thum, as enfermeiras das unidades básicas receberam treinamento para acolher quem procura por ajuda nos postos. Os casos são tratados conforme a individualidade de cada pessoa, buscando compreensão e entendimento. “Procuramos dar outras perspectivas de vida a essas pessoas, com grupos de socialização, por exemplo”, comenta.

Busque ajuda no CVV
O CVV de Jaraguá do Sul tem 15 voluntários e funciona de segunda a sexta-feira, das 15h às 23h, e aos sábados e domingos das 19h às 23h, com atendimentos pessoais até às 22h. Em breve, o CVV deve adotar o número 188 para atendimento, por determinação do Ministério da Saúde, além de estar em busca de mais voluntários. No momento, os contatos podem ser feitos pelo telefone 3275-1144.

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