Sempre atento às relevantes pautas diárias da região, a edição do fim de semana 2 e 3 de julho/16, do O Correio do Povo, destacou em matéria de capa, o importante e oportuno documentário “Vale Tombado”.
O filme de 47 minutos produzido por uma talentosa equipe técnica da produtora Escritório de Cinema, com roteiro e direção de Daniel Carlos Reichel e produção executiva de Gilmar Moretti, contou com recursos do Fundo Municipal de Cultura e apoio da We Art e da Clandestino Filmes. Seu lançamento aconteceu no último dia 5 de julho, podendo ser acessado no YouTube pelo canal do Escritório de Cinema e na sua página do facebook. No script, a área tombada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), equivalente a 90 km², abrangendo os bairros Rio da Luz, em Jaraguá do Sul e Testo Alto, em Pomerode.
Aos interessados em entender o processo de forma mais aprofundada, salienta-se que respectivo tombamento é o primeiro do Brasil sob a categoria “paisagem cultural”, procedimento introduzido pelo IPHAN em 2007, sob comando do então Ministro da Cultura, Gilberto Gil, amparado pelo Decreto-Lei 25 de 30 de novembro de 1937, com alterações inseridas pela Lei 6.292 de 15 de dezembro de 1975 e Decreto-Lei 3.551 de 04 de agosto de 2000, este, por sua vez, incluindo como patrimônio de preservação, os bens de natureza imaterial.
Nesse contexto, embora o conceito e interpretação de “paisagem cultural” sejam inacabados, gerando muitos debates de ordem acadêmica, cultural e jurídica, os fatos nos evidenciam duas realidades muito bem retratadas no filme documentário: Em síntese, de um lado a obrigação legal do estado em garantir a preservação da memória histórica como legado às gerações futuras e, de outro, o direito legítimo de propriedade e habitabilidade dos moradores.
O filme soube sutilmente explorar, dessa dualidade, as questões delicadas e, por vezes emocionantes, que caracterizam essa relação entre público e privado, normalmente não amistosa, dada a distância de interesses entre as partes. É possível extrair das cenas mensagens relativas à ineficiência do Estado em prover, durante o processo, condições de habitabilidade; o trauma dos moradores em dividir a tutela do bem com o Estado; a sólida identidade histórica das famílias com sua localidade; a necessidade de esclarecimento e compreensão acerca do processo e sua importância social.
Por fim, como apregoa a estudiosa Maria Beatriz Kother, “enquanto não houver um entendimento de que a valorização de nossa cultura pode e deve tornar-se um instrumento de desenvolvimento, um agente transformador… ainda teremos muitas dificuldades na preservação de nosso patrimônio”. O filme é um meio oportuno de reflexão. Recomendo.