Na dinâmica da vida e dos negócios sempre nos deparamos com a fronteira entre o possível e o impossível. Circunstancialmente, derivadas de nossas atitudes, podemos graduar essa fronteira como inexorável, tênue ou factível. Significa dizer que, ao considerarmos inexorável, estamos admitindo que o impossível “seja realmente”, impossível. Já, entre as instâncias tênue e factível, estamos trabalhando o sentido de que o impossível “pode ser”, ou “é” possível. Isso fará toda a diferença.
Vejamos um exemplo bem oportuno que ilustra essa tese: quem teve a oportunidade de assistir ao histórico, épico e surpreendente confronto entre Barcelona e PSG – Paris Saint-Germain, na última quarta feira (8), pela Liga dos Campeões, oitavas de final, não assistiu a uma mera partida de futebol.
De acordo com o senso comum e os mais escolados comentaristas do futebol brasileiro e mundial, a vantagem de 4 a 0 construída pelo forte PSG em jogo anterior em Paris, substanciada por mais um gol na casa do Barcelona, representava um placar consolidado quase impossível de ser revertido, ou remontado, expressão usada por lá. Como se sabe, o apito final revelou outra realidade.
De forma inusitada os donos da casa personificaram a máxima do poeta e dramaturgo francês Jean Cocteau: “não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez.” A propósito, penso que uma competição dessa magnitude não é para ser assistida com cerveja e pipoca, mas, estudada e absorvida como ensinamento.
Embora mero torcedor do Barça, sequer me considerando crítico de futebol, reconheço a ambígua atuação do alemão “assoprador de apito” Deniz Aytekin. Mas isso não entra no mérito do que se pretende evidenciar aqui, pois, na essência, o que se viu no Camp Nou de Barcelona, não foi um jogo de futebol, mas um jogo de atitudes e comportamentos.
O que se viu transcende as linhas limítrofes do campo com seus personagens, lances, regras e apitos. Esses são elementos intrínsecos e figurativos da competição. Dentro de campo o Barcelona fez o que tinha que ser feito, ou seja, remontou o placar. A vitória, propriamente dita, já se encontrava construída extra campo. A atitude de transpor uma fronteira factível já estava previamente assimilada.
Prova disso se revelou por ocasião do gol sofrido, potencializando a vantagem do adversário. Nesse momento a torcida “jogara a toalha”, mas o time não se abatera emocionalmente, postura atípica no sensível futebol latino, diga-se de passagem. O PSG, por sua vez, incorporou a atitude obtusa de acreditar, ou subestimar, que o adversário estaria diante de uma fronteira inexorável, intransponível. Isso o desviou do foco da vitória. Foi o erro capital.
A vitória do Barça se fizera invisível para a absoluta maioria, mas ele nos comprovou a milenar sabedoria de Sun Tzu de que, “para ser vitorioso você precisa ver o que não está visível”.