Artigo: “Ao transformar a vítima de violência em culpada, a sociedade acaba passando a mão na cabeça do agressor”

Por: Áurea Arendartchuk

05/10/2019 - 08:10 - Atualizada em: 05/10/2019 - 11:14

Nós conselheiros e conselheiras do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres de Jaraguá do Sul (Comdim), queremos por meio deste espaço gentilmente cedido pelo jornal O Correio do Povo, fazer um convite para que todos reflitam um pouco mais sobre algumas falas que se repetem e escondem um preconceito com as mulheres vítimas de violência e assédio.

Costumam ser afirmações maquiadas como ajuda, incentivo, mas que, na verdade, aumentam a marginalização de quem já tanto sofreu e ainda sofre. São afirmações que servem apenas para perpetuar a situação atual e em nada auxiliam na construção de uma nova realidade.

 

É necessário saber identificar e reagir contra insinuações preconceituosas seja em falas dos nossos amigos, familiares ou até mesmo em artigos de formadores de opinião como o escrito pelo jornalista Luiz Carlos Prates, ontem, julgando a mulher vítima de violência, física, psicológica ou social, como culpada pelo abuso sofrido e repetido.

 

O papel deste conselho é de ser salvaguarda das estruturas necessárias para a defesa das políticas públicas para a mulher jaraguaense, por isso, não poderíamos nos calar diante de falas antiquadas e machistas.

 

Há que se reconhecer essa violência também moral que ficou explícita por este artigo e que se repete em muitas falas ainda, infelizmente. Precisamos reconhecer a existência deste tipo de pensamento (que também é uma violência) para estabelecer estratégias para seu enfrentamento.

 

Muitas vezes nem mesmo quem repete esse tipo de afirmação – de que a mulher que apanha ou é assediada repetidamente é porque quer,- se dá conta do quanto ela pode ser perigosa.

 

Ao transformar a vítima em culpada, seja porque não denunciou ou porque demorou a denunciar -, a sociedade acaba passando a mão na cabeça do agressor.

 

A violência doméstica e familiar é um mal que atinge e muito a sociedade. Mata, mutila e obriga as mulheres à vivência subjugada, prática verificada em todas as camadas sociais.

 

Sejamos nós, mulheres e homens, conscientes da importância de mudarmos o discurso, termos mais empatia, educarmos nossos filhos e filhas para que pensem e ajam diferente, para que assim seja possível enfrentarmos esse mal na nossa sociedade.

 

Sejamos empáticos: “não existe mulher que gosta de apanhar, o que existe é mulher humilhada demais pra denunciar, machucada demais pra reagir, com medo demais pra acusar ou pobre demais pra ir embora”.

Emanuela Christian Wolff – Presidente do COMDIM

 

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