Fome de Amor foi o nome escolhido para representar a entidade não governamental criada há cinco anos e meio em Guaramirim. Um galpão grande, com janelas, portas, cozinha, salas de atividade e um palco utilizado para culto dominical, representam a estrutura da ONG. No mês passado, e entidade recebeu o título de Utilidade Pública em projeto aprovado pela Câmara de Vereadores. O Fome de Amor começou na residência do policial Patrick Lima, de 36 anos, que ajudava pessoas carentes de recursos financeiros e com problemas distribuindo roupas e cesta básica. Após um ano, ele e outros voluntários alugaram uma casa para abrigar o projeto e, no dia 1 de maio de 2013, alugaram o local onde hoje é sede da entidade, na rua Natal Deretti, no bairro Nova Esperança. A ONG se mantém com a doação de alimentos, roupas e dinheiro dos próprios voluntários, que são de aproximadamente 80 pessoas, e de outras pessoas interessadas em auxiliar. “As pessoas doam mais é roupa, pois costumam fazer a limpa nos armários. Atualmente, o que mais precisamos são de alimentos”, enfatiza Lima. Cadastrada no projeto Mesa Brasil do Sesc, que recolhe alimentos das empresas que por algum motivo não podem vender e distribuem para as entidades, o projeto Fome de Amor é um dos beneficiados. Em fase de finalização da cozinha, o objetivo é servir almoço de graça para quem realmente precisa de segunda a sexta-feira. Ex-presidiário, ex-dependente químico e ex-morador de rua, José Antônio da Silva Soares, de 47 anos, conheceu o projeto há dois anos. “Cheguei aqui para tomar um banho, e desse banho acabei ficando”, comenta. “Antes, as pessoas nem olhavam para mim, hoje tenho um emprego e uma nova vida”, acrescenta. Zequinha FOME DE AMOR - em (2)

Aos nove anos, Zeca perdeu a mãe e com 13 anos saiu de casa “entrando para um mundo que não deseja a ninguém”. Decidiu largar o crack – droga que mais consumia -, por livre e espontânea vontade. “Às vezes me dava vontade de chutar o pau da barraca e de fumar, mas eu me agarrava à palavra de Deus”, explica ele sobre sua permanência na instituição.

“O objetivo do projeto é proporcionar a ex–presidiários e dependentes químicos uma reabilitação que não encontramos nos presídios nem em clínica tradicional de reabilitação”, explica Lima, ao ver a recuperação das pessoas que passaram pelo local e largaram as drogas. Brain Ferndinando Gondoufi, de 16 anos, que era usuário de droga e teve algumas passagens pela polícia, foi levado para a ONG pelo Conselho Tutelar e ficaria apenas um dia. “O conselheiro disse que no dia seguinte alguém da família buscaria o menino”, comenta Lima, o que de fato não aconteceu. “Passou um, dois, três dias e ninguém vinha buscar Brain”.  Com o tempo, Brain passou a gostar do local e pediu para Lima se poderia ficar ali.  Para que o menino pudesse ficar, ele teria que ser adotado e foi exatamente isso o que aconteceu. A família de Brain era envolvida com droga. Muito cedo, ele perdeu a mãe e foi morar com a vó. O pai e os irmãos são usuários de droga. “Sinto saudades dos meus irmãos, mas não adianta força-los a vir”, comenta ele. “Eu quis uma mudança de vida e não fumo há um ano”, acrescenta. Na ONG, além de se ‘aproximarem’ de Deus, todos têm responsabilidades, como cuidar da horta, fazer almoço, manter a estrutura limpa, etc...  Às terças-feiras, acontece o dia da fisioterapia e a noite pilates, mas a ideia é implantar atividade todos os dias da semana. “Estamos em busca de professores voluntários de jiu jitsu para ocupar o espaço que é grande, e outros profissionais como manicures, pedicures”, comenta Lima.