Pernas solidárias: cadeirantes sentem a emoção de uma corrida em Jaraguá do Sul

Foto: Arquivo OCP News

Por: Lucas Pavin

16/08/2018 - 05:08 - Atualizada em: 16/08/2018 - 09:11

É comum nos dias de hoje ver cadeirantes cruzando a linha de chegada em corridas de rua pelo país. Mas, para isso acontecer, é preciso um triciclo apropriado para prova e que alguém com preparo aceite correr junto.

E é justamente esse o propósito do projeto “Pernas Solidárias” em Jaraguá do Sul. Criado em 2016, na vizinha Joinville, a iniciativa chegou a terras jaraguaenses no ano passado, através dos atletas Gustavo Selhorst, Jonathan Reinke e Maicon Scheuer.

Integrantes de um grupo de corrida da cidade, o trio adquiriu o primeiro triciclo com o apoio da empresa Brasil Botões, dispostos a proporcionar a pessoas que nunca andaram ou que perderam os movimentos das pernas a possibilidade de participar de uma corrida de rua.

Pais de crianças, como Julio (E), dão apoio ao trabalho desenvolvido por Gustavo (D) e Jonathan (C) | Foto Eduardo Montecino/OCP News

E a aceitação foi imediata. Deixando o protagonismo e os objetivos pessoais de lado, os corredores passaram a abdicar da competição para se revezar pela boa ação, dando suporte as crianças e adultos especiais.

Desde então, quatro cadeirantes de Jaraguá participam com frequência dos eventos locais, sempre guiados por Gustavo, Jonathan ou Maicon, que levam o espírito voluntário por onde passam.

“O projeto está ganhando um corpo muito grande não só em Jaraguá, mas em todo Estado. A alegria é imensa por ver crianças e adultos felizes em estar participando das corridas com a gente. É muito mais prazeroso levá-los e ter sua companhia do que estar competindo sozinho”, disse Gustavo.

Em um ano, já foram cinco provas em que o projeto esteve presente em Jaraguá, sendo que o último, há duas semanas, reuniu um total de 13 cadeirantes de várias partes do Estado que participaram do Circuito Unimed de Corridas.

Foto: Eduardo Montecino/OCP News

Como se não bastasse, o “Pernas Solidárias” ganha cada vez mais voluntários em Santa Catarina e já chegou a ser contemplado pelo 15º Prêmio IGK, do Instituto Guga Kuerten, na categoria Inclusão no Esporte.

Este é apenas o reconhecimento de uma iniciativa que vem quebrando barreiras e leva consigo um dos principais lemas do esporte: o companheirismo.

“Esse projeto faz muito bem para o cadeirante e acho que até mais para o condutor. É uma emoção e satisfação muito grande de fazer algo pelo próximo, isso não tem preço. Alguns pais tem receio, porque sempre existiu um certo preconceito com cadeirantes. Mas isso vem mudando e estamos fazendo de tudo para incluir ainda mais pessoas ao projeto”, destacou Jonathan.

Exemplo de superação

Se superar a cada dia e se desafiar sempre, em busca de um novo desafio. Desde o ano passado, Julio Amador Santos Oliveira carrega, junto ao filho Matheus Julio de Oliveira, este lema na vida esportiva.

Nada anormal, se não fosse o fato do menino de 9 anos ter paralisia cerebral e ser um dos maiores exemplos no “Pernas Solidárias”.

Julio (E), ao lado do filho Matheus | Foto: Eduardo Montecino/OCP News

A história e os benefícios do projeto despertaram a atenção do pai, que procurou os idealizadores em Jaraguá do Sul para ver o filho sentir a emoção de estar lado a lado com outras pessoas em uma corrida.

E não deu outra. Neste período, Matheus disputou inúmeras provas, com o pai não encontrando limites para proporcionar alegrias ao filho, que se diverte ao longo dos quilômetros percorridos nas competições.

“Ele (Matheus) gosta e se sente livre nas provas. O Matheus sempre foi uma criança feliz, mas nessas provas, a alegria dele é ainda maior e o vem ajudando muito no dia-a-dia”, declarou Julio.

Ele ainda espera que sua atitude motive outros familiares a fazer o mesmo, deixando qualquer preconceito ou receio para trás.

“Eu vejo a alegria estampada no rosto do meu filho, toda vez que o vejo correndo no triciclo. Alguns pais chegam a ter muito receio de ter um filho com paralisia, mas eu tenho orgulho do Matheus e ele é um exemplo para mim. Faço tudo pela sua felicidade e o projeto ajudou muito nisso”, finalizou Julio.

Busca por apoiadores

Desde que o projeto chegou a Jaraguá do Sul, Gustavo Selhorst, Jonathan Reinke e Maicon Scheuer não escondem que o intuito é envolver o maior número de pessoas ao “Pernas Solidárias”.

Mas para que novos cadeirantes tenham a oportunidade de participar das provas, o grupo está à procura de apoiadores para aquisição de mais triciclos.

Foto: Eduardo Montecino/OCP News

De momento, o único equipamento em Jaraguá foi cedido pela empresa Brasil Botões e o valor para compra gira em torno de R$ 1,5 mil.

“Com maior apoio conseguiríamos colocar mais triciclos nas provas. Às vezes, outras cidades não estão disponíveis para participar e temos prova com apenas um triciclo, sendo que temos mais cadeirantes. Se tivermos mais cadeiras poderemos oferecer essa sensação a mais pessoas”, disse Gustavo.

Os triciclos são comprados em São Paulo, no valor aproximado de R$ 1,5 mil. Quem tiver o interesse em contribuir, basta entrar em contato na página do projeto no Facebook ou no e-mail pernassolidariasjaragua@gmail.com.

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