Em um discurso contundente, o presidente do Grêmio Esportivo Juventus, Paulo Ricardo Marcelino, foi à tribuna da Câmara de Jaraguá do Sul, a pedido do vereador Jair Pedri (PSD), na sessão de terça-feira (24) para falar sobre a situação financeira do clube, a falta de apoio do Poder Executivo e o futuro incerto de um dos maiores patrimônios esportivos da cidade.
O presidente detalhou o trabalho social e esportivo realizado, mas não poupou palavras para denunciar o que considera um “abandono” por parte da Prefeitura, revelando a negativa de um auxílio financeiro e a sobrevivência do projeto social graças a recursos externos.
Paulo iniciou sua fala destacando os avanços nas categorias de base desde que assumiu a presidência em 2023. A principal iniciativa foi a parceria que resultou em uma escolinha de futebol com 580 crianças e adolescentes, de 7 a 15 anos. “Sempre falo que a gente é um projeto, mas que não se pode brincar com o sonho de criança. É uma responsabilidade muito grande”, afirmou, enfatizando o caráter social do trabalho.
O gestor listou os feitos esportivos que levam o nome de Jaraguá do Sul para todo o sul do Brasil. As equipes sub-12 e sub-14, por exemplo, disputam o Sul-Brasileiro, um dos mais importantes torneios de base do país, enfrentando potências como Grêmio e Internacional.
Os resultados também apareceram: o clube foi vice-campeão do sub-21 em 2023, semifinalista da Copa Santa Catarina sub-17 e chegou novamente à semifinal do sub-21 este ano. “O auge da categoria de base é quando um atleta chega a assinar um contrato profissional, e nós tivemos essa alegria este ano com um jovem de 16 anos. Isso mostra que estamos no caminho certo”, celebrou.
Ponto de ruptura com o Executivo
O tom do discurso mudou quando o assunto se tornou o financiamento. Marcelino revelou que um projeto detalhado, solicitando um repasse de R$ 316 mil para custear as despesas de todas as categorias, foi negado pela Prefeitura. A salvação, segundo ele, veio de uma emenda parlamentar de R$ 500 mil do deputado federal Fábio Schiochet (União Brasil).
“Se não fosse o deputado, a gente não teria nada. Essa é a grande verdade”, declarou o presidente. “E o que mais me chateia é que a gente ainda leva o nome da Prefeitura no uniforme, mas, na verdade, a Prefeitura não contribui com nada. Pelo contrário.”
A ausência de apoio municipal tem consequências diretas. “Quando as equipes sub-12 e sub-14 viajaram para enfrentar a Chapecoense no fim de semana, os pais tiveram que pagar a alimentação. Porque o Executivo Municipal não banca mais. Isso dói muito para mim como representante do esporte”, desabafou Marcelino. “Eu peço, encarecidamente, que o prefeito dê uma resposta para a minha diretoria e para o torcedor de Jaraguá do Sul. Por que o Juventus não tem ajuda?”
A Reação do Legislativo
Em sua manifestação de apoio ao Grêmio Esportivo Juventus, o vereador Jair Pedri lamentou a disparidade entre o potencial do clube e a realidade enfrentada por falta de suporte. Ele iniciou sua fala destacando que o Juventus deveria ser uma referência para Jaraguá do Sul, assim como são as indústrias e o futsal. Demonstrando seu compromisso pessoal, o vereador revelou já ser sócio torcedor e fez um convite direto aos seus colegas parlamentares para que também se associassem.
O ponto central de sua crítica foi a frustração com as promessas feitas durante o período eleitoral, que, segundo ele, “hoje se resumem a nem uma resposta”. Pedri expressou que o que mais o aborrece não é apenas a falta de recursos, mas a ausência completa de diálogo e de “absolutamente nenhum tipo de ajuda” por parte do poder público, que sequer oferece uma justificativa para a sua inação, transformando a rotina do clube em um “drama diário”.
A vereadora Professora Natália Lucia Petry (MDB), que já foi Secretária de Cultura, Esporte e Lazer, fez uma defesa técnica do fomento ao esporte de base, classificando-o como “obrigação do município”.
Ela relembrou que, em gestões anteriores, foi criada uma estrutura para garantir transporte e alimentação para todas as modalidades, acabando com a necessidade de “passar o pires”. “Me causa muita estranheza. Qual é a dificuldade de dar continuidade àquilo que já vinha dando certo? Fomentar custa menos do que ter que fazer todo o trabalho”, argumentou.
O vereador Almeida (MDB) chamou a situação de “lastimável” e criticou a prática de políticos que “afundam o carreiro lá para ir pedir apoio em período de eleição e depois viram as costas”. Ele se comprometeu a buscar emendas parlamentares junto ao deputado Antídio Lunelli e parabenizou a iniciativa de Fábio Schiochet.
Delegado Mioto (União) afirmou que já está levantando informações junto à Prefeitura para entender os motivos do corte. “Pode até acontecer, mas tem que haver uma satisfação. Quando a gente lida com crianças, estamos lidando com sonhos.”
O vereador Rodrigo Livramento (Novo) questionou sobre a dívida do clube, que Marcelino estimou em R$ 7 milhões, e sobre a possibilidade de uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol). O presidente foi taxativo ao rechaçar a ideia de SAF no momento.
“Para mim, seria uma derrota. Seria entregar um patrimônio que foi doado com a intenção de que ficasse na mão da cidade. A solução não é vender, é a cidade abraçar o clube, assim como o poder público abraçou o futsal quando ele mais precisou”, defendeu.
As críticas mais duras vieram do vereador Cani (PL). “Semana passada, esteve aqui um representante de um centro de recuperação que ‘jantou’ o Executivo ao vivo. Hoje, o senhor vem aqui e, vou repetir, ‘jantou’ o Executivo também. O que acontece é que temos um grande ônibus, e a população entregou a chave nas mãos de um motorista que não sabe conduzir”, disse, em uma forte analogia à gestão municipal.