Ontem e hoje: conheça a história da natação de Jaraguá do Sul

Equipe representante de Jaraguá no JASC de 1980 I Em pé: Fedra, Lígia, Valsi, Ketleen, Cristiane, Fabiane, Rosângela, Heidi, Mariana, Briggite, Cláudia e Adriana - Agachados: Arizinho, José Moacir, Kiko, Paulo, Jean, Alexandre, Renato e Nego Fructuozo

Por: Lucas Pavin

27/04/2018 - 09:04 - Atualizada em: 28/04/2018 - 13:07

Maior que o saudosismo é a identificação com o esporte. E o sucesso atual da natação jaraguaense vai muito além dos títulos conquistados. Se hoje, os atletas contam com uma boa estrutura para treinos que o levam a resultados expressivos em competições estaduais e nacionais, muito se deve ao trabalho árduo iniciado há mais de 40 anos por personagens marcantes que colocaram Jaraguá do Sul no mapa da modalidade.

Uma história desconhecida para muitos, mas eternamente guardada na memória esportiva da cidade. Tudo começou em 1973, quando Benedito Roque de Gouveia, o professor Roquinha, comandou quatro nadadores da categoria masculina no Jogos Abertos de Santa Catarina (JASC), em São Bento do Sul. Um singelo quarto lugar garantido no evento marcou o início de uma era que se tornaria a mais vencedora de todos os tempos da natação jaraguaense.

Apesar de a formação de um time oficial ter sido motivada por essa conquista, para entender a trajetória é preciso voltar alguns anos antes. Um dos pilares para essa transformação da natação em uma potência foi Ariovaldo Xavier dos Santos, o mestre Arizinho.

Ao desembarcar no município em 1968, com apenas 18 anos, trouxe o objetivo de cravar seu nome no futebol com a camisa do Juventus. E, de fato, conseguiu ao ser o maior artilheiro da história do clube com 254 gols. Mas não parou por aí. Formado em educação física, decidiu alavancar outras modalidades ainda pouco difundidas. Entre elas, a natação.

No Beira Rio, clube que recebeu os primeiros treinos da equipe na década de 70, Arizinho exibe quadro com medalhas e feitos marcantes na história da modalidade I Foto: Eduardo Montecino/OCP

Ao lado do atleta José Roberto Fructuozo e com apoio do prefeito na época, Ivo Konell, e seu sucessor Geraldo Werninghaus, iniciou em 1974 uma equipe que, em pouco tempo, já era composta por 80 atletas adultos e outros 40 jovens das categorias Mirim e Petiz, que treinavam no Beira Rio Clube de Campo.

“A nossa equipe foi sendo formada com pessoas que tinham condições e nasceram para fazer natação. Fico muito feliz em ver a modalidade, que um dia iniciou por mim e algumas pessoas, estar em evidencia até hoje”, disse.

Após buscar conhecimento dentro e fora do país, Arizinho transformou a natação no esporte do momento na cidade e passou a acumular troféus e medalhas pelo estado. Rapidamente, Jaraguá tornou-se a quarta força de Santa Catarina, ultrapassando Rio do Sul, Chapecó, Lages, São Bento do Sul e Itajaí, e ficando atrás apenas de Florianópolis, Blumenau e Joinville, que reuniam número muito superior de nadadores. Porém, isso também não durou muito tempo.

A partir de 1975, os jaraguaenses conquistaram gradativamente o terceiro e segundo lugar no Jasc – única competição na época –, até dominarem a natação catarinense por dois anos consecutivos, figurando como a equipe mais vitoriosa de Jaraguá do Sul até então na modalidade.

“É inesquecível tudo que passamos. O que foi feito com a natação foi quase um milagre. Posso dizer que ‘juntamos a fome com a vontade comer’ e colocamos Jaraguá do Sul num patamar que ela deveria estar”, destacou Arizinho.

Equipe representante de Jaraguá no JASC de 1980 I Em pé: Fedra, Lígia, Valsi, Ketleen, Cristiane, Fabiane, Rosângela, Heidi, Mariana, Briggite, Cláudia e Adriana – Agachados: Arizinho, José Moacir, Kiko, Paulo, Jean, Alexandre, Renato e Nego Fructuozo

Os maiores campeões

Para tornar-se uma das principais forças do estado, a natação jaraguaense contou com uma geração de ouro, composta por atletas que garantiram resultados inimagináveis ao município na época, pelo fato da preparação precária da equipe, treino em piscina fria e com poucos recursos.

No masculino, Sávio Murilo de Azevedo foi o primeiro medalhista em Jasc ao levar um bronze nos 100m borboleta, na edição de 1975, em Chapecó.

Outro que marcou seu nome foi Ronaldo Fructuozo, o ‘Kiko’. Atual técnico da base de Jaraguá, ele foi o primeiro homem jaraguaense a fazer um tempo abaixo de um minuto, principal desafio dos nadadores na época. O feito está memorizado até hoje em um quadro na casa de Arizinho, que contém o relógio utilizado naquele dia.

Porém, as maiores marcas surgiram no feminino, principalmente por conta de duas nadadoras. Considerada a maior velocista e fundista de Jaraguá do Sul na história, Lígia Braun foi campeã de travessias oceânicas e faturou nada menos que treze medalhas de ouro, onze de prata e dez de bronze, nas provas de 100m, 200m, 400m e 800m livre do Jogos Abertos de Santa Catarina.

Ela ainda pulverizou todos os recordes entre 1976 e 1980, com destaque para 78 no Jasc de Caçador, onde simplesmente foi recordista nas quatro provas do estilo livre.

Outra que merece ser lembrada é Heidi Werninghaus (foto ao lado). Especialista nos 100m e 200m costas, 200m medley, e saltos ornamentais, a nadadora era imbatível em seu tempo e quebrou inúmeros recordes. Ao longo de seis anos, ela foi campeã estadual e conquistou mais de cem medalhas na carreira.

Só no Jasc, foram nove de ouro, uma de prata e uma de bronze. Com tantos prêmios, Heidi ainda foi condecorada com a Medalha do Mérito Municipal, entregue pela Câmara Municipal de Vereadores de Jaraguá do Sul, em 2002.

Recesso e recomeço

Os tempos áureos da natação jaraguaense foram interrompidos em 1981, quando o local de treinamento já havia sido alterado para o Clube Atlético Baependi. Com a perda de muitos atletas, a equipe foi desativada e ficou no ostracismo por 14 anos. Até que, em 1995, teve início uma nova fase da modalidade no município, capitaneada pelo ex-atleta Ronaldo ‘Kiko’ Fructuozo.

Com grande bagagem nas piscinas, Kiko fundou o Olimpia/ADJ/FME, que quatro anos depois deu lugar a Associação Jaraguaense dos Incentivadores da Natação Competitiva (AJINC), mantida até os dias de hoje. Com treinos diários no Acaraí, a atual equipe conta com 50 atletas, da faixa etária de 9 aos 16 anos, que são comandados pelo próprio Ronaldo Fructuozo, além de Verônica Paciello Matile e Iara Fructuozo.

Com patrocínio efetivo do Arroz Urbano desde 2001, a AJINC vem galgando os melhores lugares no cenário regional, nacional e internacional. Desde então, já passaram pela cidade nadadores olímpicos como Daniel Orzechowski; selecionados (Eduardo Junkes); destaques no universitário americano (Henrique Fructuozo); campeãs sul-americanas universitárias (Talita Hermann, Marina Fructuozo, Natália Kreling e Luana Martins), além de títulos em brasileiros, jogos escolares, estaduais, entre outros.

Desafios no futuro

Apesar dos grandes resultados nas piscinas, a AJINC está prestes a viver um momento complicado. Como o Acaraí cede o espaço para outros nadadores, a equipe jaraguaense tem um limite de horários para treinamentos. Até aí, tudo bem. Mas uma nova situação preocupante se avizinha, com o período integral em escolas.

Ao todo, 50 atletas da AJINC treinam atualmente no Acaraí I Foto: Eduardo Montecino/OCP

Como não há horário no clube para utilização da piscina após às 17h30, a AJINC corre o risco de perder atletas e vem procurando um local próprio para treinos. “Apesar da ótima parceria com o Acaraí, temos uma limitante que é o espaço físico e horários. Muitas escolas já estão tendo um segundo período de aulas e isto vem diminuindo e dificultando a nossa prática”, explica Kiko.

“Desde que retornei para Jaraguá em 1995, já participei de inúmeros projetos para construção de uma piscina para treinamentos e todas elas deram em nada. Infelizmente. Sem dúvida, esse é o nosso maior desafio”, destacou.