Jaraguá tenta resgatar época de ouro no handebol

Por: Lucas Pavin

25/05/2018 - 06:05 - Atualizada em: 25/05/2018 - 12:28

Integrar um time forte e difícil de ser batido é o sonho de qualquer jogador ou comissão técnica. E o handebol de Jaraguá do Sul teve equipes com esse estilo, que, por duas décadas distintas, se tornou uma das cidades mais respeitadas de Santa Catarina, tanto nas categorias de base como no adulto. Porém, em inúmeras ocasiões e por fatores diferentes, a modalidade se dissipou e, hoje, tenta se reconstruir para voltar a ser um dos destaques no Estado.

O último desligamento aconteceu em 2016, quando o país vivia em uma profunda crise que afetou diretamente no esporte. Em Jaraguá do Sul, não foi diferente, e o handebol sofreu com a falta de verbas, tendo que encerrar suas atividades.

Mas com uma nova gestão no ano passado, a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer (Secel) retomou o projeto, abrindo uma vaga de bolsa técnico, ocupado até este mês de maio por Tiago Ivonei Vicente.

No entanto, o treinador se afastou do cargo por motivos pessoais e a Secel se encontra sem um comandante no momento, enquanto no feminino não há nenhuma projeção de retorno. A função entre os homens vem sendo exercida provisoriamente e de forma voluntária por Everton Sales, que tem uma ligação com o esporte desde a década de 90 e também comanda atualmente as meninas do Sub-16.

Everton Sales (C) voltou ao comando do time adulto masculino e auxilia um dos principais formadores de atletas na cidade, Ademir Vieira de Oliveira (E), nos trabalhos de base I Foto: Eduardo Montecino/OCP News

Mesmo com tantas incertezas e passando pelos primeiros passos de uma tentativa de reconstrução, a cidade conta com um time adulto formado por 25 atletas que tem passagens pela base tempos atrás. Eles treinam esporadicamente para os jogos da Liga Santa Catarina, que está em andamento, e sonham em voltar ao Jasc no ano que vem.

Além disso, há todo um trabalho de formação de talentos para meninos e meninas, desenvolvido em quatro escolas municipais: Antônio Estanislau Ayroso, Jonas Alves, Gertrudes Milbratz e Erich Grutzmacher. Ao todo, 360 crianças estão envolvidas nos projetos, que tem como professores Ademir Vieira de Oliveira, Ricardo Meier e Adair Eleutério.

Antônio Ayroso é uma das escolas que desenvolvem os trabalhos de iniciação no esporte I Foto: Eduardo Montecino/OCP News

Apesar da falta de patrocinadores e uma estrutura necessária para que a modalidade volte aos seus tempos áureos, Sales destaca o empenho de duas entidades e algumas pessoas para reerguer o esporte no município.

“Todo trabalho feito até hoje foi pela Associação Desportiva de Handebol Jaraguaense (ADHJ) em parceria com Prefeitura de Jaraguá do Sul através da Secel, que nos cede transporte e taxas em algumas categorias na Liga SC. O nosso atual presidente da ADHJ, Fernando Alflen, que também foi atleta de base está colaborando muito com o ressurgimento do nosso handebol”, disse.

Início e ascensão

O handebol jaraguaense começou a aparecer para comunidade em 1977, quando 11 meninos da Escola Holando Marcelino Gonçalves (Homago) sagraram-se campeões invictos da etapa estadual dos Jogos Escolares (Jesc), sob o comando do técnico Caglioni. A conquista abriu portas no ano seguinte para o naipe feminino, que teve um time formado pelo educador físico Celço Tomazi.

Em 1980, primeira equipe a disputar um Jasc. Em pé: Maristela Menel (E), Marlete Ranghetti, Roseli Giese, Valéria Vieira, Rubinéia de Carvalho e Rosângela Lazzaris. Agachadas: Eliane Feller, Wilma Correia, Jane Reiser, Rosilete Hornburg, Josiane Dornbusch e Márcia de Oliveira

Com grandes destaques da região, as meninas ganharam o Jesc de 1978 e 1979 por Jaraguá, e formaram a primeira equipe feminina em um Jogos Abertos de Santa Catarina (Jasc), disputado em casa, no ano de 1980, quando chegaram a uma honrosa medalha de bronze.

Após figurar entre os melhores do Estado na época, várias jogadoras foram contratadas por outras cidades e a equipe acabou se enfraquecendo no ano seguinte, obtendo um 6º lugar no Jasc de Brusque.

Época de ouro

Depois das temporadas modestas de 1982 e 1983, com participações apenas nos Jogos Escolares, o handebol feminino de Jaraguá do Sul voltou com tudo em 1984. Com quatro atletas remanescentes de 80 e uma nova geração com enorme potencial, Celço comandou o time na campanha perfeita do Jasc de 84, quando deixou a cidade de Concórdia, com o título inédito e de forma invicta.

Elenco do Jasc de 1984 I Foto: Arquivo/Rosali Guiese Cardoso

“Nos Jogos Abertos de Jaraguá realizamos um sonho de disputar o primeiro Jasc. Em Concórdia, algumas se destacaram, mas dentro de quadra víamos uma equipe muito unida, com uma trabalhando pela outra. Todas participaram e tiveram uma parcela importante na conquista”, lembra Rosali Giese Cardoso, a Guisa, uma das atletas na época.

Jaraguaenses na comemoração do único título conquistado pela cidade nos Jogos Abertos

Recesso e ressurgimento

A partir de 1985, a equipe jaraguaense voltou a se dizimar. Enquanto o masculino perdia cada vez mais força, o feminino via suas jogadoras sendo contratadas por Blumenau, Joinville, Florianópolis e Joinville, e a falta de apoio voltou a afetar a modalidade. Apesar disso, foi garantido um 3º lugar no Jasc daquele ano.

Até 1996, a professora Maria Terezinha Marcelino, a Teka, tocou o projeto ainda pela antiga DME de Jaraguá do Sul. Depois, Adair Eleuterio trabalhou em 97 e 98, quando já existia a FME. Mas foi em 1999, que o handebol jaraguaense passou a ter força.

Marcelo Milani Dias foi contratado de Joinville para trabalhar com as equipes de Olesc, Joguinhos e Adulto, enquanto Everton Sales e Adair Eleuterio comandavam as escolinhas de 9 a 14 anos.

Em 2001, Rosilete Souza – campeã do Jasc de 84 como atleta -, assumiu o comando do feminino. Após curto tempo, Marcelo passou a ser coordenador geral, enquanto Rosilete se concentrava na equipe feminina e Everton Sales no masculino. “Jaraguá do Sul não era muito forte na modalidade, e a minha chegada fez com que fosse olhada de uma maneira melhor”, afirmou Marcelo.

Time campeão estadual Juvenil de 2004, sob o comando de Marcelo Dias (E) I Foto: Arquivo/Marcelo Dias

Com grande trabalho, foram criados 12 polos de iniciação distribuídos em várias escolas e, aos poucos, Jaraguá começou a ser referência na base dentro do Estado. Com isso, os resultados em quadra também começaram a aparecer.

De 2001 a 2005, foram conquistados o título do Estadual Mirim (2003), Juvenil (2004), vice na Olesc (2002) e duas vezes dos Joguinhos (2002 e 2004), no feminino, Já o masculino sagrou-se campeão da Olesc (2004) – título que rendeu uma convocação do técnico Everton Sales e mais seis atletas para seleção catarinense -, e levou três bronzes na mesma competição (2002, 2003 e 2005) .

Após esse período, Marcelo Dias acabou deixando a modalidade por duas temporadas, mas nem por isso, a cidade deixou de subir ao pódio, uma vez que foi vice dos Joguinhos (2006) entre os meninos.

Em 2008, Dias retornou à cidade e voltou a formar uma excelente geração, que foi campeã estadual feminina Infantil (2009), do Itajaí Handball – uma competição internacional (2010), Olesc e Jesc (2011), além do vice no Estadual Cadete (2010).

Enquanto isso, no masculino, veio um terceiro lugar no Joguinhos Abertos (2008). Isso tudo sem contar os troféus em eventos regionais. “A minha satisfação por ter feito parte da modalidade em Jaraguá sempre foi muito grande, pois nos tornamos referência no Estado e até fora dele”, finalizou Marcelo.

O último ano de destaque do handebol de base jaraguaense foi em 2015, quando a equipe masculina comandada por Sales garantiu um bronze na Olesc, realizada na época em Jaraguá do Sul.

* Colaborou José Augusto Caglioni