ESPECIAL: 10 anos da despedida de Guga das quadras

 

Maristela Amorim

ESPECIAL PARA OCP NEWS

O dia amanheceu ensolarado, iluminado, e com uma temperatura atípica, muito acima do convencional para um domingo de primavera na França. Mas era 25 de maio de 2008, uma data festiva, quando o mundo acordou disposto a se emocionar com “o último samba em Paris”. Foi assim que o Quotidien Officiel, jornal diário de cobertura do torneio de Roland Garros, descreveu aquela honrosa despedida do tênis profissional de Gustavo Kuerten – Gugá, para os franceses -, o garoto sorridente, alto e magricelo, que quebrou com muita humildade e espontaneidade todos os paradigmas de elegância e os rígidos protocolos desse esporte de raízes nobres e histórico aristocrático.

 

A manhã já chegava ao fim quando, aos poucos, os fãs de Guga iam chegando ansiosos por ocupar seus lugares nas arquibancadas da Philippe Chatrier – a quadra central do lendário complexo esportivo. Foi lá que em 1997 o tenista, aparentemente inexpressivo, conquistou a primeira improvável vitória, abrindo caminho para mais dois espetaculares triunfos, em 2000 e em 2001, e uma admirável carreira de sucesso. Onze anos depois, aos 31 de idade e com uma significativa lesão no quadril que o obrigou a mudar os planos do atleta que foi, o cenário já não era mais o mesmo. Mas a torcida, sim.

 

Gustavo Kuerten assumiu suas limitações e aceitou a despedida no palco mais importante da sua vida. Às 14h45min entrou em quadra com aquele mesmo uniforme de traços geométricos em azul e amarelo que em 1997 rompeu com a sisudez até então típica do tênis. A partir daquele momento, reproduziu da melhor forma possível as suas grandes jogas, saques, aces, deixadinhas, para o êxtase da plateia que gritava seu nome com todo o entusiasmo. Não que esperasse vitória. Isso, na verdade, nem importava.

Depois de quase duas horas na famosa quadra de saibro, onde eternizou o desenho de um coração, e permitindo que Paul-Henri Mathieu, 18º cabeça de chave, somasse três sets a zero, o tricampeão ainda era o preferido. A emoção à flor da pele, a torcida inteira a seu favor, mas era hora de dizer adeus. A partida termina, o placar não é vantajoso. Guga é ovacionado mesmo assim. E vai para o banco. Não se contém. O choro evidente, sob a toalha que imediatamente cobriu o rosto, contagiou a multidão. Não teria como ser diferente.

O clima de emoção se estende durante discursos e premiações. Gustavo Kuerten recebe de Christian Bîmes, presidente da Federação Francesa de Tênis, um troféu com todas as camadas da quadra de saibro. Exibe orgulhoso e recebe, em troca, mais aplausos.

Sem o peso do compromisso profissional, Guga, enfim, relaxou. E cumpriu com toda a sua contagiante alegria uma agenda incomum, celebrativa, ao lado da mãe Alice, do irmão Rafael e da cunhada Letícia. Além de uma dezena de amigos que se encontrou em caravana em Paris, com tantan, cavaquinho e violão, especialmente para viver com ele aquele momento histórico. Aí sim, o samba rolou em Paris.