Passado e presente se encontram para preservar o tiro esportivo e a cultura alemã

Foto divulgação | Clube Baependi

Por: Elissandro Sutil

05/04/2021 - 09:04 - Atualizada em: 05/04/2021 - 10:33

Tornar a tradição de um povo sinônimo de orgulho, de alegria, de diversão e de pertencimento. Assim nasceram esportes, festas e celebrações passadas de geração a geração e que se fundem à história de cidades de toda a região. Passado e presente se encontram nas Sociedades de Tiro, uma herança alemã aqui plantada pelos colonizadores. Além da esperança de uma nova vida, os precursores trouxeram na bagagem sua vasta riqueza cultural, que aqui se enraizou e deu frutos.

Quem ajuda a contar essa história é a historiadora Silvia Toassi Kita, no livro Festas de Rei (Königfeste).

“Nos períodos entre guerras, os atiradores treinavam e disputavam para obter o melhor atirador, denominando-o Rei dos Atiradores. Recebia o título quem se destacasse pela habilidade de mira e destreza no tiro. Essas competições, frequentes, tornaram-se grandes festas populares, desenvolvendo novas modalidades de tiro, como o Tiro ao Pássaro”, diz o texto.

Assim, as Schützenvereine – Sociedades de Atiradores – foram as primeiras corporações de atiradores, originadas na Bélgica, Holanda, norte da França e, mais tarde, no século 14, na Alemanha. Focadas na defesa, preparavam seus membros para o manejo correto de armas em caso de guerra. Com o passar do tempo, tornaram-se sociedades recreativas, de esporte e lazer, dando origem a diversas festas tradicionais, como as Festas de Rei e, posteriormente, à Schützenfest, Festa dos Atiradores.

Foto: Ana Paula Gonçalves

Depois de perder totalmente o caráter militar, as sociedades deram continuidade às tradições germânicas por meio das festas de Rei do Tiro, que se transformaram em grandes acontecimentos nas cidades alemãs. Ao migrar para o Brasil, os alemães espalharam essa tradição pelas localidades por eles colonizadas.

“A região Sul ostenta o maior número deste tipo de associação. A necessidade de sociabilidade, de formação de grupos, aliada às relações econômicas, culturais e esportivas fez surgir diversas Sociedades de Atiradores nos núcleos de imigrantes alemães e seus descendentes”, descreve Silvia Kita.

Essa tendência associativa fez surgir as Sociedades não somente para o entretenimento, mas para discussão e resolução de assuntos de ordem política, econômica e educacional. Em 1906, surge a “Schützenverein Jaraguá” (Sociedade de Atiradores Jaraguá), dando o start para outros salões improvisados, em casas comerciais ou em ranchos.

Uma das primeiras equipes no Jasc, edição de 1968, em Joinville: Amadeus Mahfud (E), Adolfo Oswaldo Saade, Leopoldo Enke, Adolpho Mahfud e Dietrich Hufenüssler

As Sociedades são a demonstração clara de uma cultura que vem sendo praticada há séculos e que resgata o valor da associação, da união, da confraternização entre pessoas. Com a escolha do Rei do Tiro e as homenagens a ele prestadas, perpetuam uma tradição secular. Hoje, cada Sociedade desenvolve a própria programação, que inclui, além das Festas de Rei e Rainha, outras modalidades esportivas, como o bolão, a bocha e o futebol.