Família de agricultores trocou cultivo clássico pelo melado e doces de banana

Foto Eduardo Montecino/OCP News

Por: Elissandro Sutil

20/05/2018 - 05:05

O município de Guaramirim também apresenta evidente riqueza rural em meio à bela paisagem de planícies e morros. Dados da Secretaria Municipal de Agricultura indicam que o setor movimentou em torno de R$ 38 milhões em notas fiscais declaradas em 2017.

Esse valor vem tanto da produção primária, quanto de produtos beneficiados em pequenas propriedades, como é o caso da família Klabunde que comercializa melado e doces de banana.

Aproximadamente 70% da área do município é agrícola produtiva, sendo que o perfil da agricultura é familiar, 90% formado por pequenos produtores.

Os principais cultivos de Guaramirim são o arroz (3.738 mil hectares), a banana (576 hectares), a palmeira real e palmáceas (422 hectares), o gado (4.366 mil unidades) e o eucalipto (244 hectares), seguidos da olericultura. Outros dois segmentos que se destacam são a piscicultura, com 233 toneladas, e a produção de mel (5 toneladas).

Fernando Klabunde, 23 anos, está à frente do negócio da família | Foto: Eduardo Montecino

Para proporcionar a sustentabilidade das propriedades agrícolas familiares do município de Guaramirim, uma parceria entre a Secretaria de Agricultura, Secretaria de Saúde, Vigilância Sanitária, Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo e Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina) deu origem ao projeto Valorizar o Artesanal.

A iniciativa oferece capacitação e assistência ao produtor rural, ressaltando a importância de produzir o alimento de forma segura. Com isso, o agricultor ganha assistência técnica, visibilidade e espaço no mercado.

No projeto, estão inseridos agricultores que transformam de forma artesanal a matéria prima produzida em suas propriedades, em produtos que oferecem qualidade e segurança alimentar para quem os consome. A distribuição é feita no comércio e comunidade local, ou a turistas.

O Valorizar o Artesanal tem o reconhecimento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O programa consegue manter a viabilidade da produção regional e caseira, influindo na lista delícias como melados, geleias e conservas vegetais.

Atual estrutura para produção de doces artesanais permite a confecção de até 110kg de doce de banana por vez | Foto: Eduardo Montecino

Os produtores, que antes produziam irregularmente dentro das residências, tiveram orientação profissional para adequar os locais de fabricação, gerando renda e, ao mesmo tempo, conservação dos recursos naturais.

Novo empreendimento

Foi a visão empreendedora do produtor rural Roberto Klabunde, 52 anos, que o fez deixar a criação de gado e a plantação de banana e verduras para se aventurar em outro negócio. Em 2003, ele iniciou na confecção do melado, doce de banana e banana passa. Para tanto, contou com o apoio do Valorizar o Artesanal.

“Fui me aventurar a fazer uma coisa diferente, para mudar a forma da agricultura, e deu certo. Para todos os produtos obedecemos ao mesmo critério: qualidade. É um produto natural, sem aditivos químicos”, revela.

Para conservar os alimentos, ele fica longe de ingredientes com nomes impronunciáveis. Ele diz que usa apenas o limão, que não descaracteriza os produtos 100% naturais, e o gosto é quase imperceptível.

Feita de maneira artesanal, banana passa não possui aditivos químicos para conservação | Foto: Eduardo Montecino

No começo, segundo o agricultor, a produção era feita à mão, o melado mexido em tacho de cobre. O processo de fabricação do doce de banana era cansativo e doloroso. “O doce era terrível (de fazer), porque onde ele bate, a banana dá uma queimadura forte”, conta.

Distribuição na região

Nestes 15 anos, muita coisa mudou e o negócio só cresceu. Hoje à cargo do filho mais velho, Fernando, 23 anos, o empreendimento também conta com a ajuda da mãe e, algumas vezes, do caçula da família.

Segundo Fernando, a produção de melado é de aproximadamente 300 quilos por semana. Os produtos são comercializados em supermercados em Guaramirim, Jaraguá do Sul, Massaranduba, Joinville, Barra Velha, Itajuba e São João do Itaperiú. Mas os consumidores estão espalhados pelo país.

“Agora nós não pegamos mais (estabelecimentos para comercialização dos produtos), fizemos uma seleção, porque não estamos conseguindo atender à demanda. São poucos (produtores) que fazem (esses doces) e nosso produto tem bastante procura”, afirma Roberto.

Para o produtor, muito do processo artesanal precisa ser mantido para garantir as características que fidelizaram os apreciadores dos produtos Klabunde.

“Não adianta vender quantidade, tem que produzir com qualidade. E o consumidor quer a qualidade de sempre. Se ficou um pouquinho diferente, o cliente já liga. Primeiro, elogiando, e depois diz: ‘ah, ficou meio duro’”, complementa Fernando.

Expansão da produção

Com o auxílio da Epagri, jovem empreendedor já está com projeto da nova unidade pronto e aguarda liberação ambiental | Foto: Eduardo Montecino

A família Klabunde já possui projeto para a construção de uma nova unidade, que aguarda liberação por parte dos órgãos ambientais. Conforme os produtores, a atual já está pequena para  o tamanho da produção.

A nova estrutura deverá contar, inclusive, com uma embaladora eletrônica, que embala e pesa o produto. Hoje, o serviço é feito com a concha, pote por pote. O projeto foi feito junto à Epagri, durante o curso de Jovens Empreendedores que Fernando frequentou.

Para que o negócio continue cada vez melhor, os produtores passam por capacitação. Mesmo já trabalhando com o melado há tanto tempo, Roberto fez um curso em 2017. “O pessoal acha ridículo, mas eu aprendi muito. Somos bem orientados pela Epagri”, salienta o produtor.

Produção de melado

Projeto Valorizar o Artesanal, desenvolvido em Guaramirim, fornece apoio e orientação ao produtor e é responsável pelo rótulo das embalagens | Foto: Eduardo Montecino

Toda a cana-de-açúcar utilizada na confecção do melado é plantada pela família em Araquari. Após colhido, o material passa pela moenda, que libera o caldo de cana, usado na preparação do produto. O processo de fervura dura seis horas. Para o doce e banana passa, uma pequena parte da fruta é do cultivo próprio.

“Lá no início, o doce era feito no tacho, fazia 30 quilos por vez. Hoje, cada vez que fazemos é 110 quilos. Com a nova unidade, vamos produzir em torno de 300 quilos. Aqui não tem mais como expandir”, avalia Roberto.

Além de produzir, Fernando é responsável pela comercialização e divulgação dos produtos. Frequentemente, ele participa de feiras pela região. Na última em que fez o trabalho, em Joinville, recebeu retorno positivo dos clientes.

“Participei da IV Feira Sabor Rural semana passada, no Shopping Mueller, e o pessoal chegava e dizia: ‘sou teu consumidor fiel’. Ano passado, participei da Festa das Flores, também em Joinville, e clientes que compraram aquela vez vieram falar comigo novamente no shopping sobre o produto, elogiando. Nós temos esse retorno positivo, e isso é muito bom”, opina Fernando.

O jovem diz que é gratificante saber que os produtos, fabricados com tanto cuidado e que levam no selo o nome da família, são tão apreciados. “Nas feiras, ouvir que nosso produto é bom valoriza o trabalho”, declara.

Rótulo do projeto

Dentro do projeto Valorizando o Artesanal, cada agricultor utiliza o mesmo modelo de rótulo em seus produtos, optando por uma das cores disponíveis. O rótulo possui imagem da Estação Ferroviária para identificar o município de Guaramirim, bem como dados do agricultor e dos produtos.

A Prefeitura pagou a elaboração do rótulo, adquiriu as facas e disponibiliza para os produtores, o que significa uma economia para o bolso do agricultor. Conforme explica Fernando, o suporte da Prefeitura e da Epagri é imprescindível para dar andamento aos projetos de pequenos agricultores.

Entre os produtos Klabunde, a novidade está na embalagem com porção individual de banana passa, com 100 gramas. Mais moderna e com maior apelo comercial, o produto já chamou atenção dos consumidores.

“O pessoal aprovou a novidade. Recebi muitos elogios na feira em Joinville pela embalagem bonita. Meu irmão e minha cunhada que desenvolveram e ficou moderno”, conta o jovem empreendedor.

Mais uma vez, o empenho familiar fez a diferença na evolução do negócio.