Educação que transforma: escola de Guaramirim incentiva práticas sustentáveis

Crianças do 4º ano são responsáveis por manutenção da horta na escola | Foto: Eduardo Montecino

Por: Elissandro Sutil

20/10/2018 - 05:10

O ambiente acolhedor e de aprendizado existente nas escolas é ideal para disseminar práticas sustentáveis e conscientizar desde cedo as crianças sobre a importância do meio ambiente para a manutenção da vida no planeta. O ensinamento vem dos professores e equipe pedagógica, que têm a função de implantar essas ações dentro das unidades.

Na escola Germano Laffin, de Guaramirim, o corpo docente vinha adotando iniciativas em prol do meio ambiente desde o início do ano, mas só foi tomar perceber a dimensão das atitudes com a implantação do projeto “Sala Verde – Educar e Agir para preservar” na rede municipal.

A ação é promovida pelo Ministério do Meio Ambiente em todo o país e tem como objetivo, primeiramente, sensibilizar toda a equipe escolar sobre como é necessário que a educação ambiental seja efetivamente incorporada como prática na rotina das escolas.

Karine (E) e Marister contam que ações começaram sem um planejamento na unidade | Foto Eduardo Montecino/OCP News

A coordenadora do projeto e veterinária da Fundação do Meio Ambiente de Guaramirim, Marister Câmara Canto, já começou as visitas pelas unidades da rede municipal e no início desta semana foi a vez da Germano Laffin entrar no roteiro.

Durante uma reunião com a equipe, a coordenadora identificou a série de práticas sustentáveis que já são feitas no local e que podem ser adotadas em mais escolas.

“Às vezes, elas começam com iniciativas tímidas e nem percebem que já estão fazendo um trabalho ambiental. Pensam que são apenas práticas do cotidiano, mas isso é educação ambiental. Por isso é legal valorizar essas ideias simples, que fazem muita diferença”, destaca a veterinária.

Entre as ações realizadas estão o incentivo ao uso da garrafa de água para substituir os copos plásticos; reaproveitamento de caixotes de madeira como prateleiras para canto da leitura; troca de brinquedos antigos por livros; criação de uma horta; arrecadação de lacres; e reutilização de todos os papeis como rascunho.

De acordo com a coordenadora do projeto, o Sala Verde será apresentado às crianças de maneira lúdica, para mostrar como tudo está conectado com a natureza. Serão feitas palestras, oficinas e outras atividades práticas.

A maior mobilização vai acontecer no mês de junho do ano que vem, quando um contêiner for instalado ao lado da Biblioteca Municipal. O espaço será sustentável, com captação de energia solar e de água da chuva.

“Meu trabalho é fazer essa sensibilização geral, inclusive dentro da Prefeitura. Ver se está sendo feita a separação de resíduos, se existem outras ações”, explica Marister.

Pequenas atitudes, grandes mudanças

Quantos copos plásticos são usados mensalmente em uma escola? Em busca desta resposta, a coordenadora da escola municipal Germano Laffin, Karine Costa, fez um cálculo simples, mas que já mostrou a grandeza do problema para os alunos.

Alunos passaram a levar garrafa de água para a escola | Foto Eduardo Montecino/OCP News

No começo do ano, eram 290 crianças matriculadas. Com uma média de uso de dois copos por dia, a cada semana eram utilizados 580. Por mês, o número chegava a 12 mil unidades do recipiente plástico.

“Agora imagina esse número nas grandes empresas, é bem maior. No verão, as crianças costumavam usar até quatro copos. O resultado da conta é uma forma concreta deles verem como isso afeta o meio ambiente”, explica a coordenadora da escola.

Hoje, o número de alunos chega a 317. No fim do ano, a intenção da escola é presentear cada um com uma garrafinha e tornar o uso obrigatório em 2019. Mas antes disso, os professores já começaram a incentivar os alunos a trazerem os recipientes de casa, o ter consciência dos milhares de copos descartados contribuiu.

Outra medida sustentável adotada pelos professores foi a montagem de um canto para leitura com caixotes de feira.

“Eles pegaram os materiais para improvisar, mas isso não é improviso, é reaproveitamento. Estão reciclando sem perceber”, enfatiza a coordenadora do projeto Sala Verde, Marister Câmara Canto.

Na festa junina da escola, as crianças foram incentivadas a trocarem os brinquedos antigos por livros. Conforme Karine, a ideia inicial era promover o compartilhamento entre os alunos.

“Isso também é sustentável porque o brinquedo vai deixar de virar lixo e será usado por mais crianças, o que incentiva o consumo consciente”, aponta a Karine.

Mais uma ação foi pintar a imagem de um carro no parquinho e colocar um volante antigo para as crianças brincarem. Todas as folhas utilizadas na escolas também são reutilizadas como rascunho.

Professores improvisaram prateleiras com caixotes madeira para montar um canto da leitura | Foto Eduardo Montecino/OCP News

Os alunos também arrecadam lacres para doar ao Rotary, que troca os itens por cadeiras de rodas e doa para entidades e pessoas que precisam.

Educação ambiental na prática

Implantar ações na rotina escolar é justamente a proposta do Sala Verde, afirma a coordenadora do projeto. “Educação ambiental não é o dia da árvore ou do meio ambiente, é uma atitude que precisa estar na rotina dos lugares, por isso precisa ser abordada de uma maneira diferente para ter resultados permanentes”, avalia Marister.

Karine destaca a importância de incentivar tais práticas nas crianças. “Os adultos são mais difíceis de mudar, agora para os pequenos é mais fácil. Eu na escola, por exemplo, aprendi a separar o lixo orgânico do reciclável e mantenho isso até hoje”, aponta.

A mudança de hábitos dos adultos também será trabalhada no projeto. Isso porque, segundo Marister, as pessoas só vão se importar com as atitudes e escolhas quando sentirem que o meio ambiente faz parte da vida deles.

“Não é só a mata lá fora, é o dia a dia, escola, trabalho, tudo faz parte da nossa vida, temos que trazer para nós esse protagonismo e responsabilidade socioambiental, cuidar da natureza para ter qualidade vida. As crianças, nessa missão, são fundamentais. Mas não para serem adultos transformadores. Elas têm que agir hoje, no presente”, acredita a coordenadora do projeto.

Marister finaliza pontuando que a equipe da Germano Laffin implantou ações sustentáveis por necessidade e acabou servido de exemplo.

Atividades fazem a diversão dos alunos

Na aula de educação física, é comum ver várias garrafas no banco enquanto as crianças se divertem na quadra. No intervalo dos jogos, são poucas as que precisam utilizar o copo de água para se hidratar.

Aos fundos do ginásio, a horta também recebe uma atenção especial dos alunos. Bryan Vinicius Cerino, 10 anos, foi um dos mais animados na hora de plantar as mudas. “Foi a minha primeira experiência assim, nos divertimos bastante. Fizemos os buracos e colocamos os grãos na terra”, conta o menino.

As próprias crianças plantaram as sementes e fazem a manutenção semanal do espaço. “Nossa ideia é que eles sejam responsáveis por aquilo que constroem”, observa a coordenadora Karine Costa.

As turmas do quarto ano do ensino fundamental são as que fazem parte da dinâmica, implantada em toda a rede municipal. A horta da Germano Laffin foi remanejada de lugar no fim de agosto, mas a proposta é que ela seja mantida todos os anos.

Crianças acreditam que cuidar do meio ambiente gera resultados positivos para todos os seres vivos | Foto: Eduardo Montecino

As verduras plantadas depois são consumidas na merenda escolar. Para Emili Bruehmuller, 9 anos, esse cuidado com a natureza é fundamental porque “com as plantas conseguimos respirar melhor”.

Caio Wajszyk, 10 anos, avalia que além das pessoas precisarem desses alimentos que são cultivados, os animais  também se alimentam com o que é plantado. “Assim é com todo o ecossistema”, pontua.

Quer receber as notícias no WhatsApp?