De volta ao passado: as primeiras festas típicas alemãs de Pomerode e Jaraguá do Sul

Programação da 1° Schutzenfest. Fonte: arquivo OCP News.

Por: Elissandro Sutil

05/04/2021 - 07:04 - Atualizada em: 05/04/2021 - 10:30

Com tanta riqueza cultural, arquitetônica e histórica permeando a rota alemã, é natural surgir a vontade e interesse em compartilhar tanta coisa boa com todo mundo.

Foi justamente a ideia de apresentar, valorizar e expor, com charme e orgulho, toda a riqueza de Pomerode que a cidade criou lá em 1984 a primeira Festa Pomerana.

Até aquele ano o município não tinha uma data oficial no calendário para celebrar a emancipação político-administrativa da cidade, comemorada em 21 de janeiro, conta a historiadora do Museu Pomerano, Roseli Zimmer.

Em 1984, a cidade completaria 25 anos da emancipação, por isso, a comunidade decidiu criar a festa, que se tornaria um sucesso e atrativo do município até hoje.

35° festa pomerana. Fonte: Prefeitura de Pomerode

A primeira edição aconteceu entre os dias 11 a 25 de janeiro de 1984. “A semente germinou e transformou o evento em um grande momento de alegria e confraternização entre os moradores pomerodenses e os turistas”, diz Roseli.

Em pleno verão brasileiro, o destino de turistas e mesmo de moradores do município costumam ser as belas praias do litoral catarinense, mas a verdade é que o interior do estado tem cenários bucólicos dignos de serem visitados nas quatro estações. Por isso, Pomerode decidiu que a festa iria reunir o melhor da cultura, das tradições, da indústria, do comércio e da prestação de serviços da cidade para conquistar seus visitantes.

Na década de 1980, conta a historiadora, os governos, estadual e federal, incentivaram a incrementação de atividades turísticas em solo catarinense e brasileiro.

“Desta forma, em Pomerode, conseguiu-se criar uma festa com duração de vários dias, com música, dança, gastronomia, competições típicas, desfiles, passeios em carros de mola pelo centro histórico em um evento municipal contínuo com características pomerodenses”, Roseli relata.

E o resultado não poderia ter sido melhor. Sobre a primeira edição do evento, o jornal local Pomerano, em fevereiro de 1984, publicou as seguintes impressões da festa:

“Cerca de 20 mil pessoas estiveram visitando a Festa Pomerana realizada de 11 a 25 de janeiro no pavilhão da Sociedade Esportiva Floresta. A qualidade da exposição foi de nível artístico muito bom, com estandes trabalhadas em madeira. A festa mostrou a diversificação do parque fabril desde a pequena até a grande indústria. A cidade colaborou no que pode”, diz o jornal.

Segundo o diário, chegou a faltar restaurantes para abrigar todos os turistas que passaram pela cidade para “ver o que é que Pomerode tem”.

“Pela primeira vez, a cidade ficou agitada, ruas com movimentos de automóveis de regiões de Santa Catarina e de outros estados, além dos vizinhos paraguaios, uruguaios e argentinos que aproveitaram para comprar queijos, porcelana, malhas, e artesanato”, conta o jornal.

O tiro na mosca

Assim como aconteceu em Pomerode, a cidade de Jaraguá do Sul, rica em tradição germânica, também tomou a iniciativa de resgatar sua história e reforçar os laços com sua cultura através da criação de uma festa que se tornou uma das mais tradicionais do Brasil.Tudo começou por volta de 1906, quando os colonizadores alemães que se instalaram na região do Vale do Itapocu, entre outras tradições, legaram à comunidade a prática do tiro.

As festas de Rei e Rainha, por exemplo, têm na marcha de busca das majestades sua marca registrada, pondo em destaque o valor do associativismo, o manejo e a destreza no tiro, além do idioma, a música, a dança, o artesanato, a indumentária e a gastronomia típica.

Essas atividades culminam em um grande baile, momento em que são apresentadas as novas majestades do tiro.

A tradição se difundiu pela região e, depois de um momento conturbado na história, durante a Segunda Guerra Mundial – em que se proibiram as manifestações germânicas no Brasil -, o costume da prática esportiva do tiro foi resgatado.

Em 1988, na localidade de Rio do Luz, as sociedades de tiro remanescentes discutiram a criação de uma grande festa de confraternização entre elas. A ideia de como seria o evento foi apresentada às autoridades, ganhando o nome de Pré-Schützenfest.

As primeiras candidatas a rainha da 1° Schutzenfest. Fonte: arquivo OCP News.

No ano seguinte, em março, 25 sociedades se uniram e criaram a Associação dos Clubes e Sociedades de Caça e Tiro do Vale do Itapocu (ACSCTVI), com o intuito de unir as sociedades e então realizar a “1ª Festa dos Atiradores”.

No mesmo mês, foi criada a Comissão Central Organizadora (CCO), com a atribuição de organizar os festejos da 1ª Schützenfest. Foi então que a primeira edição aconteceu, entre os dias 13 a 22 de outubro de 1989.

Matéria sobre a 1° Schutzenfest. Fonte: arquivo OCP News.

Foram realizadas competições de tiro, somente masculinas, nas modalidades Carabina 22, Chumbinho e Flecha. Mais de 70 mil pessoas eram esperadas para o evento, como anunciava o jornal O Correio do Povo, na edição nº 3.561:

“Mais de 2.500 atiradores e com a expectativa de atrair 70 mil pessoas, começa neste dia 13 em Jaraguá do Sul, a 1ª Schützenfest, a festa do tiro, uma promoção da Fundação Cultural, prefeitura municipal em conjunto com a Associação das Sociedades e Clubes de Caça e Tiro do Vale do Itapocu.

Todo o evento está concentrado no Parque de Exposições Ministro João Cleóphas, sendo utilizado o novo pavilhão de exposições, que recebeu melhoramentos e até um novo estande de tiro, onde as disputas ocorrerão nos próximos dez dias, até apontar o rei dos reis. O público também poderá participar das competições e ser rei por um dia, recebendo inclusive premiação especial”.

A primeira edição da festa foi um sucesso tão grande que logo nos primeiros três dias do evento a Prefeitura já havia alcançado o que se esperava para a festa toda. Na noite de segunda-feira, mais de 20 mil pessoas que haviam pago ingressos foram contabilizadas na festa.

Alvo certeiro

Naquela época, o hoje característico parque municipal de eventos, com seus três pavilhões amplos e reformados, contava com uma estrutura menor. O pavilhão ao lado do rio, por exemplo, ainda não existia, mas depois do sucesso da festa a Prefeitura planejou ampliar o espaço e oferecer ainda mais conforto e diversão ao público.

Em 2016, a festa passou por uma renovação, e as raízes tradicionais e germânicas da festa foram reforçadas.

Foto: Gabriel Vieira | PMJS

Além da revitalização na decoração e nos atrativos oferecidos – como a praça de alimentação apenas com comidas típicas -, a data da festa também foi alterada. De outubro, a festa passou para novembro, e desde então ela vem crescendo a cada ano, batendo novos recordes de público e, claro, de muito chope bebido, tiros certeiros e sorrisos no rosto.