Você sabia? Há 40 anos brasileiro cruzava o Atlântico num barco a remo

Foto: Acervo/Amir Klinl

Por: Ewaldo Willerding Neto

18/09/2024 - 17:09 - Atualizada em: 18/09/2024 - 17:38

Há exatos 40 anos, o navegador brasileiro Amyr Klink, 68 anos, concluía a primeira e única travessia a remo do Atlântico Sul. Sozinho, ele percorreu sete mil quilômetros entre a Namíbia, no continente africano, na Praia da Espera, em Itacimirim, na Bahia. A bordo de um pequeno barco, passou mais de três meses remando até dez horas por dia. No estoque, carregava 275 litros de água potável, alimentos desidratados, poucos remédios e equipamentos.

A experiência deu origem ao best-seller Cem dias entre céu e mar, que permaneceu 31 semanas na lista dos livros mais vendidos. Depois da viagem, Amyr passou a se dedicar a expedições marítimas e empreendimentos ligados à navegação. Passadas quatro décadas desde a travessia, ele relembra como foram os dois anos de preparativos e a experiência de encarar o oceano sem os aparatos tecnológicos hoje disponíveis.

“A princípio, fiquei impressionado com o tamanho da empreitada. Então comecei a dividir o problema em vários pequenos projetos, e percebi que não era assim tão complexo. Mas até iniciar de fato, foi um processo difícil. Quando finalmente comecei, foi um alívio grande, porque tudo aconteceu para a viagem não se realizar. A burocracia no Brasil, os dois anos de preparativos, a dificuldade de construir o barco aqui”.

Uma das poucas inovações eram painéis solares instalados para geração de energia. Para o escritor natural de São Paulo, jovens dispostos a fazer viagens semelhantes estão mais preocupados com a autopromoção e menos com a dedicação técnica.

Filho de mãe sueca e pai libanês, Amyr Klink nasceu em 1955, na cidade de São Paulo. Aos dez anos, em Paraty, começou sua trajetória com as embarcações, quando comprou a primeira canoa. Em 1983 terminou a construção do seu primeiro barco. E foi com ele que Amyr Klink encarou a travessia do Atlântico Sul.

“Eu acompanhei as buscas por sobreviventes de algumas travessias dessas, e me perguntava o tempo todo o que levava alguém a fazer uma coisa tão imbecil. Engraçado porque eu não mudei de ideia, continuo achando imbecil”, relembrou . “Eu me apaixonei pela ideia de fazer uma travessia usando o mínimo de energia, sem propulsão mecânica, apenas a força dos braço”.

No ano seguinte, o navegador brasileiro partiu da costa da Namíbia, na África, em um barco a remo. A embarcação foi projetada para se comportar como um “joão-bobo”. Caso virasse, voltaria a posição original novamente. Esse detalhe foi importante, já que o barco de Amyr Klink chegou a virar por três vezes na costa africana.

“A comida foi feita por umas meninas de Curitiba. Tinha de tudo, arroz, feijão, tutu, vatapá, bobó. Tudo era feito sem sal e desidratado, para ser preparado com água do mar. Hoje é bem mais fácil conseguir isso. Basta ir ao supermercado. Na época, nós levamos quase um ano para preparar a dieta”.

O jovem remou, sozinho, por 100 dias. Ele havia deixado o porto de Lüderitz, na Namíbia, em 12 de junho de 1984. Enfrentou 22 tempestades, enormes tubarões e conheceu os limites do seu corpo. Quando concluiu a viagem, em águas tranquilas da Bahia, estava 20 quilos mais magro.

“Conversei com velhos marinheiros, pescadores, pessoas que sobreviveram a experiências de naufrágio. Estudei esses casos e vi que a principal causa de morte decorrente de naufrágio não é a falta de alimento e água, que só acontece em dez dias. Grande parte das pessoas morre de pânico no segundo dia. O fator psicológico é muito mais relevante do que outras questões, como a resistência dos rins para processar a água do mar”.

Depois de vencer esse primeiro desafio, o navegador realizou outras expedições. Na virada do ano de 1989, partiu de Parati rumo à Antártica, para uma longa jornada de treze meses. Em 1998, resolveu dar a volta ao mundo pelo trajeto mais curto e escreveu o livro “Mar sem fim”. Em 2002, empreendeu uma viagem por todo o Oceano Atlântico. E, em 2003, fez uma Circunavegação Polar Tripulada, com cinco pessoas a bordo.

“É uma experiência de plenitude, porque você é obrigado a fazer o que normalmente recebe de graça dos outros. Comecei a enxergar todo mundo que trabalhava para mim, quem fazia a comida, arrumava minha cama, costurava os botões, quem cuidava do esgoto. Estar completamente isolado te faz perceber todos os fornecedores de serviços”.

* Informações da Agência Brasil e Diário de Pernambuco.

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Ewaldo Willerding Neto

Jornalista formado pela UFSC com 30 anos de atuação.