Veja como foi o Ato Pelo Fim da Cultura do Estupro em Jaraguá do Sul (+ vídeo)

Por: Elissandro Sutil

06/06/2016 - 10:06 - Atualizada em: 06/06/2016 - 10:56

Homens e mulheres, desde crianças, jovens, adultos e até os idosos, tomaram as ruas de Jaraguá do Sul no último sábado, 4 de junho de 2016, dia de luta que entrou para a história da cidade. Unidos à União Brasileira de Mulheres (UBM), aproximadamente 200 pessoas fizeram parte do Ato pelo Fim da Cultura do Estupro.

O ato teve como motivador o caso reportado na última semana envolvendo uma menina de 16 anos, no Rio de Janeiro. As mulheres são estupradas em igrejas, casas, escolas, ruas e em qualquer lugar inimaginável por homens trabalhadores, por padres, políticos, professores.

Como publicamos anteriormente, em média, mais de duas ameaças registradas contra mulheres por dia aqui na cidade. Em 2015, a Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP) contabilizou 913 casos de crimes cometidos contra a mulher em Jaraguá do Sul.

Só no segundo semestre de 2015, Jaraguá do Sul registrou 426 casos de ameaça,19 estupros, duas tentativas de homicídio doloso e 181 lesões corporais dolosas — e esses são apenas os casos que chegam às delegacias.

Veja a galeria de fotos clicadas por Fernanda Mattos

De acordo com texto divulgado pela UBM da cidade, as violências psicológicas e físicas podem desencadear sérios sofrimentos mentais nas mulheres, como depressão, abuso de substâncias psicoativas, entre outros agravos de saúde mental que terminam por influenciar em todos aspectos da vida de quem é atingida e de pessoas próximas.

O encerramento ocorreu com o pronunciamento de Mariana Pires, Caroline Chaves, Carolina Araújo. Mariana Pires ressaltou o que muitos tentam abafar: “Hoje foi a vez de Jaraguá mostrar sua revolta. A violência existe em diferentes formas, e o estupro é a pior e mais abominável delas. Contra a cultura do estupro! ”

No fim, também foi lida a Carta Aberta à População Jaraguaense em defesa da vida das mulheres, que será enviada para todas as autoridades da cidade cobrando ações do poder público para garantir a proteção das mulheres.

Veja a carta na íntegra:

CARTA ABERTA À POPULAÇÃO JARAGUAENSE EM DEFESA DO DIREITO DA VIDA DAS MULHERES

Nós mulheres Ubeemistas conclamamos a população jaraguense para unirem-se a nós neste ato Pelo Fim da Cultura do Machismo, pois não iremos permitir que atos de violência como o ocorrido na cidade do Rio de Janeiro aconteçam em nossa cidade.

No ano de 2015, em nossa cidade foram registrados nas delegacias da cidade 2.379 casos de violência contra a mulher. Sabemos que pelas estimativas este número deve representar apenas 20% dos casos. Pois é de reconhecimento de pesquisadores e principalmente pelas mulheres que as mulheres não realizam os registros por pena do agressor, seja por vergonha, medo ou dificuldade em realizar a denúncia. Segundo o Portal Brasil, do governo federal 70% das mulheres brasileiras sofrerão algum tipo de violência ao longo de suas vidas.

Para que possamos combater a cultura machista de nossa sociedade necessitamos do comprometimento de todos, famílias, sociedade e Estado. Sendo que o Estado possui o papel fundamental para propor meios e ações que possibilitem a mudança da sociedade. E assim a UBM enumera ações que considera fundamentais a serem executadas em nosso município:

– Criação e implantação da Política Municipal de Política Públicas para as Mulheres;

– Secretaria Municipal das Mulheres, ordenadora da política municipal de políticas públicas para as mulheres;

– Adequações legislativas e aprovação do novo regimento do COMDIM,

– Criação e implementação de uma Política Municipal de Educação sobre Gênero, objetivando o amplo debate nas escolas e fomentando a construção de cidadãos livres da cultura machista;

– Criação e implantação de formas de combate a violência obstétrica com a contratação de Doulas para a maternidade que atende ao SUS, na cidade de Jaraguá do Sul;

– Delegacia da Mulher 24horas, nos 7 dias da semana, com profissionais capacitados ao acolhimento de mulheres cis e trans vítimas de violência;

– Casa de acolhida exclusiva para mulheres cis e trans vítimas de violências para que elas, filhas e filhos sejam protegidas(os) de seus agressores.

– Capacitação permanente para profissionais do SUS, SUAS e Educação sobre violência contra a mulher, criança e adolescentes e população LGBT.

– Planejamento de curto prazo para ampliação das vagas em centros de educação infantil para crianças de 0 a 4 anos. O mesmo para escolas integral para crianças de 4 a 12 anos.

Certas que a sociedade Jaraguaense deseja combater a cultura machista vigente em nossa sociedade. Cidade de mulheres que lutam e trabalham na construção desta  cidade nos colocamos a disposição do poder público para construir todas as Mulheres Ubeemistas do Núcleo Jaraguá do Sul

Jaraguá do Sul, Junho de 2016
Joice Pacheco – UBM Jaraguá do Sul

Fonte: Vermelho
Fotos: Fernanda Mattos