A vontade de viajar é uma das coisas que move muita gente nesse mundão. Afinal, conhecer outros lugares é sempre inspirador, não é? Mas além de viajar por turismo, as viagens a trabalho também têm se tornado algo muito comum. Cada vez mais vemos pessoas de todos os lugares apostando nessa experiência e largando os trabalhos “comuns” para viver o inesperado.
E foi pensando nisso que a jaraguaense Amanda Freitas, 23 anos, largou sua rotina como professora de inglês para passar um tempo a bordo, trabalhando em um cruzeiro. Ela já está há dois meses embarcada.
Ficamos curiosos para saber como está sendo essa experiência e resolvemos bater um papo com ela. Confira:
Como surgiu essa oportunidade?
Tudo começou com uma curiosidade, porque sempre fui apaixonada por viajar e queria fazer isso de uma forma que não precisasse gastar tanto dinheiro.
Então, me inscrevi em uma agência de empregos de navio, fiz todos os processos seletivos e os cursos necessários. Iniciei o processo em outubro de 2015 e em junho fui chamada pra embarcar no Costa Diadema, da empresa Costa Crociere.
Com o que você está trabalhando aí?
Em Jaraguá eu trabalhava como professora de inglês do estado, em caráter temporário. Aqui, eu trabalho na função de room service, fazendo delivery de bebidas no spa.
E como é sua rotina?
Eu trabalho onze horas por dia, todo dia da semana. Cada dia estamos em um local diferente, passamos por Itália, França, Espanha, e um dia no mar.
Aqui nós não temos dia off (de descanso) como no Brasil, apenas horas off, então se trabalha todo dia, apenas com horas de folga. Eu tenho breaks intercalados durante o trabalho, fechando um total de cinco horas de folga diárias + o horário de sono.
Como é o navio, quantas pessoas há nele?
Este é o maior navio da frota, é de cruzeiro, de passageiros que estão em férias turistando. Temos uma tripulação de em torno 1500 pessoas e 6000 passageiros, é muita gente.
Temos muitas nacionalidades aqui, na tripulação e de passageiros. Temos uma família brasileira de tripulantes, onde todo mundo se ajuda como pode. Mas ao mesmo tempo fazemos amizades com outras nacionalidades, como filipinos, indianos, indonésios e italianos.
O que você pode aproveitar do navio?
Até quando você fica aí?
Até final do mês de fevereiro, podendo estender o contrato mais dois meses, ou seja, fechando onze meses a bordo. Eu pretendo renovar o contrato.
O que você está achando da experiência?
No início eu odiei porque é muito diferente da realidade em terra, mas depois você acaba amando. Aqui aprende-se a se virar, andar com as próprias pernas e amadurecer.
Eu estou gostando muito, é tudo muito novo, é quase um reality show. Bastante coisa diferente e muita gente legal – mas muita gente que não vale nada também, muita gente que tenta passar por cima de você ou fazer de tudo pra que você se dê mal e ela se saia bem.
Qual a maior dificuldade na sua adaptação?
Minha maior dificuldade aqui é ter hora pra tudo, tudo é muito cronometrado e tem seus padrões. Tenho que tentar fazer tudo certo para não ganhar reclamação.
Aprender a conviver com outras nacionalidades é tenso, aprender outros costumes e se adaptar a tudo isso também é complicado.
Você já conheceu outros países, então, certo? Quais?
Aqui conheci Itália, França e Espanha. O bom de tudo isso é que como ficamos indo e voltando nesses lugares podemos conhecer de tudo, somos quase moradores locais, haha.
E como é o uso da língua aí?
O linguajar aqui que eh muito diferente, com coisas que você acaba adquirindo no seu vocabulário. Como, por exemplo, “brata” que quer dizer muito trabalho. “Mamagaio” quer dizer ficar de bobeira, matando trabalho, haha. “Bombocla” é uma pessoa idiota, e “caput” quer dizer morto, super cansado.
Isso é uma linguagem formada pela mistura de culturas, principalmente filipina, mas é criada em navio mesmo.
Qual a coisa mais divertida que já aconteceu contigo?
A coisa mais divertida que aconteceu comigo aqui foi me perder no navio em horas que não poderia, porque ele é gigante. Ou também dormir no locker em hora de trabalho, porque tem dias que o cansaço é grande.
Das coisas engraçadas, também estão as perguntas dos passageiros: “Como você mora aqui?”, “Você faz faculdade?” e “Como você vai pra casa todo dia?”.
Qual é a parte mais difícil de deixar sua vida aqui? O que sente mais saudade?
A parte mais difícil é deixar o conforto de casa e a família. Sinto muita falta deles e do meu cachorro.
Qual maior obstáculo que você superou para embarcar nessa experiência?
Meu maior obstáculo aqui é a falta da família por perto, dos dias livres pra fazer o que bem entendo, mas acredito que toda experiência é válida.
Você tem alguma dica para quem está querendo apostar neste trabalho?
Quem tem vontade de trabalhar nisso tem que meter a cara e ir, vai começar em cargos baixos, é claro, mas pode crescer muito. E não só no profissional, mas no pessoal também. Pode economizar uma grana boa, vale muito a pena.
Você vê que é capaz de muita coisa que nem imaginava, que teu mundo é muito maior do que aquilo que tem por perto, e que cada dia é uma nova conquista, uma nova experiência realizada.
E outra, você poder apreciar todo o dia um pôr do sol maravilhoso e pensar na vida. Isso não tem preço, você se renova.
Fotos: Arquivo Pessoal Amanda