Jaraguá do Sul possui milhares de estudantes, e dentre os alunos do ensino fundamental e médio, 30 deles estudam no Presídio Regional da cidade. Estes estudantes são apenados que têm a oportunidade de se reintegrar socialmente através de aulas de nivelamento e supletivo, por meio do Centro Educacional de Jovens e Adultos (CEJA).
A unidade é uma das quatro que são descentralizadas do Centro, e de acordo com o atual diretor do Presídio Regional, Cristiano Castoldi, o projeto existe desde 2014. O objetivo principal no momento é a ampliação de salas para que mais apenados possam ser beneficiados.
Para dar início aos estudos na unidade prisional o interesse deve partir do apenado, o qual deve apresentar documentação (como RG, CPF e histórico escolar) para efetuar a matrícula. Aqueles que não apresentam histórico escolar, passam por um nivelamento que tem duração de seis meses, e é como se estivessem cursando os anos primários, de 1º a 5º ano. Após esses seis meses é feita uma avaliação para ver se o estudante está apto a cursar o 6º ano.
Eles estudam em três turnos, em nível de ensino fundamental (6º a 9º ano) e ensino médio (1º ao 3º ano), além do nivelamento.
De acordo com a assessora do CEJA, Jaqueline Carvalho Milbradt, seis professores fazem o atendimento na unidade, sendo uma professora de nivelamento, um professor de filosofia e sociologia, uma professora de português para ensino fundamental e outra para ensino médio, uma professora de matemática para ensino fundamental e outra para ensino médio, além da professora que atua no projeto de leitura.
De acordo com um dos apenados que hoje cursa o ensino médio na unidade, a oportunidade de estudo é um privilégio “Temos essa oportunidade de dar continuidade aos nossos estudos, e muitos de nós, de voltarmos a estudar. Além disso, o estudo nos dá outra oportunidade que é fazer diferente quando sairmos daqui, sair com outra visão de mundo, com outros pensamentos”. Ele ainda pontua sobre a importância de ter uma segunda chance “Aqui eu tenho essa oportunidade, e estou aproveitando de verdade, hoje eu vejo a escola de uma forma diferente do que eu via lá fora, devido a isso, quando eu entro na sala de aula hoje eu tenho um objetivo, que é aprender”.
O investimento para que os apenados possam estudar, vem através dos recursos recebidos do Governo Estadual. A nova ala por exemplo, já veio estruturada com salas de aula. A intenção é que a estrutura ganhe mais salas de aula para que esse número aumente. Além disso, a administração também tem como objetivo trazer cursos como o Pronatec. Além dos benefícios intelectuais, esses trinta estudantes ganham remissão, a cada 12h de estudo, menos um dia de pena.
Projeto de leitura
O projeto é do Governo Estadual, e visa incentivar o gosto pela leitura, a qual traz tantos benefícios. De acordo com o diretor, Cristiano Castoldi, o projeto iniciou no mês de setembro e cerca de 120 apenados estão participando, os quais devem escolher um livro que deve ser lido em 30 dias, e posteriormente é feito uma resenha em sala de aula que deve conter entre 15 a 20 linhas. Aqueles que são avaliados com média sete ou maior, além do conhecimento adquirido, ganham redução de pena.
De acordo com um dos apenados que participam do projeto, e além disso, também é o organizador da biblioteca, a oportunidade é de extrema importância. “O conhecimento que os livros nos proporcionam não tem explicação. Além de ampliar nosso conhecimento, faz com que acreditemos que é possível ter uma ação que foque na humanização dos apenados e na reintegração social”. Além disso, ele ainda pontuou sobre a forma de avaliação. “A avaliação é justa, tendo em vista que os participantes do projeto tem que escrever em sala de aula sobre tudo que leram nesses trinta dias, e claro, seguindo fielmente a estrutura de uma resenha, com introdução, desenvolvimento e opinião”.
Outro participante afirma que “A gente nota que quando vemos o investimento que é feito, principalmente na educação, o ambiente fica mais tranquilo. Nossa cabeça muda e muito. A oportunidade de sair da cela pra ir pra sala de aula, ou de poder pegar um livro pra ler, faz muita diferença pra quem está aqui dentro”.
A biblioteca da presídio atualmente conta com 1000 exemplares de literatura infanto-juvenil, romance, espírita e religião.
Quem tiver interesse em fazer doações de livros novos ou usados que estejam bom estado, deve entrar em contato com a assistente social da unidade, Claudia, pelo telefone (47) 3376-0158, para fazer agendamento ou obter mais informações.
Curiosidades
– Atualmente o presídio possui 470 apenados, número que ultrapassa a capacidade máxima;
– Em 2016, cerca de 50 presos votaram para a eleição de prefeito e vereador. Foi o primeiro ano que eles tiveram a oportunidade de escolher se queriam ou não votar. Uma urna foi levada até o presídio;
– Você sabe quem cozinha as refeições do presídio?
Os próprios apenados. São cerca de 22 apenados que trabalham na cozinha, e produzem três refeições diárias. Eles seguem um cardápio que é repassado por uma nutricionista do Governo do Estado. Antes eles passam por um check-up para serem avaliados se estão aptos para o serviço. As funções são separadas por alimento, enquanto um apenado é encarregado de fazer o feijão, outro faz o arroz, tem também o padeiro, e aquele que lava as louças. Além disso, pode haver mudança de cargos, se o apenado demonstrar habilidades com funções, por exemplo;
– Atualmente 185 apenados trabalham, sendo que 12 deles têm permissão judicial para realizar trabalhos externos;
– No ano passado 60 apenados participaram do ENEM. Para este ano o número ainda não foi confirmado. Quem faz o ENEM e soma certa quantidade de pontos, também tem direito a redução de pena;
– Todos os sábados os apenados recebem atendimentos religiosos. Atualmente os atendimentos ocorrem através de igrejas como Assembleia de Deus, Consagração Cristã e Católica. A cada 40 dias um padre vai ao local celebrar a missa.