Paixão pelo Carnaval está na história de Jaraguá do Sul

O médico Álvaro Batalha, precursor do Carnaval jaraguaense, na década de 1930 | Foto Arquivo Pessoal

Por: Elissandro Sutil

10/02/2018 - 07:02 - Atualizada em: 13/02/2018 - 06:58

Quando o assunto é Carnaval, uma das manifestações mais populares no Brasil, as opiniões se dividem. De um lado, há uma parcela da população que critica os investimentos na atração. Do outro, estão pessoas que defendem a contribuição cultural, econômica e social da festa. Mas, incontestável mesmo é a tradição que o evento tem no país, inclusive em Jaraguá do Sul, onde o costume de festejar a data iniciou há mais de 80 anos. De lá para cá, muitas foram as transformações, no entanto, para quem curte, fica a saudade dos tempos áureos.

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Oficialmente, o Carnaval começa hoje em diversas partes do Brasil e vai até terça-feira (13). No entanto, há dois anos o desfile nas ruas não acontece na cidade. A notícia do cancelamento neste ano entristeceu o bloco mais antigo em atividade. Seria na passarela do samba que o “Em Cima da Hora” celebraria seus 30 anos de fundação, completados em janeiro de 2018. Conforme a presidente da agremiação carnavalesca, Iracema Pinheiro, o bloco pretendia contar sua história, resgatando alguns temas apresentados ao longo de três décadas. “Nós teríamos até um bolo gigante em cima de um carro alegórico, símbolo do aniversário. E cada ala representaria nossos desfiles de maior sucesso, um ‘pout-pourri’ dos enredos mais legais”, revela.

Iracema Pinheiro lamenta pelo presente e pelo futuro incerto do Carnaval | Foto Arquivo/OCP

São 14 anos conquistando o primeiro lugar. Para isso, aproximadamente 15 pessoas se envolvem na confecção das fantasias, a maioria familiares de Cema, como é conhecida. Grande parte do material usado, como plumas, penas, arranjos de cabeça e outros são reaproveitados e ficam armazenados aos cuidados dela. Neste ano, cada bloco deveria contar com, no mínimo, 120 participantes, mas a presidente garante que o número de integrantes do Em Cima da Hora seria bem superior. “Nessa época do ano isso aqui (espaço onde confecciona as fantasias) enche de gente querendo desfilar. Gente que nunca participou me procurou falando em reerguer o Carnaval”, conta.

Trabalhando com o Em Cima da Hora desde os primeiros anos de fundação, ela conta que nos anos 80 havia 12 blocos que faziam o trajeto do desfile animando o público, que era bem maior antigamente. Ela cita alguns que fizeram história, como o Bebês de Itu, Saca-Rolha, Bafinho, Pé Quente, Samba no Pé e Sem Preconceito. Cema recorda que quase 20 mil pessoas assistiram ao desfile de rua em 2012. Além disso, os bailes também lotavam, com muita gente brincando e caprichando nas fantasias. “Em um ano, fomos vestidas de Emília (personagem do Sítio do Pica-Pau Amarelo) e concorremos no baile do Baependi, foi muito legal! No Juventus também era muito bom, no parque de eventos… Eram brincadeiras mais sadias”, recorda a carnavalesca.

O bloco campeoníssimo do Carnaval jaraguaense, o “Em Cima
da Hora”, no desfile de 2013, na avenida Walter Marquardt | Foto Arquivo/OCP

É com tristeza e lágrimas nos olhos que Iracema Pinheiro lamenta pelo presente e pelo futuro incerto do Carnaval. Para ela, não existem palavras que descrevam seu sentimento ao ver o Em Cima da Hora desfilando para o público na avenida. “Quando chamam o meu bloco, é uma sensação inacreditável. Eu penso, fui eu que fiz isso para todo mundo ver, me sinto realizada. Nosso Carnaval é saudável e pode ser melhor ainda. Cema acredita que é preciso criar um projeto que fortaleça e ajude os blocos a manterem o trabalho. “Também retomar o tradicional baile de Carnaval com concurso de blocos de salão. Isso chama gente… Talvez o pessoal volte”, declara.

Alegria e brincadeiras nos salões

Há algumas décadas, os bailes eram o ponto alto da festa e ocorriam em clubes e sociedades como Beira-Rio, Juventus, Botafogo, Doering, Vitória e Baependi. Seja na música ou no figurino, o Carnaval de antigamente era diferente de hoje em dia, acredita Terezinha Chiodini, 79 anos. Frequentadora dos bailes do Baependi na década de 1950, ela acredita que o principal motivo para estarem se extinguindo é o fato de as pessoas aproveitarem a época para descansar. “Grande parte da população vai para a praia. Além disso, a música mudou muito. Antes não tinha esses funks, eram só as marchinhas (ela canta algumas, como Bandeira Branca, para recordar), conhecidas até hoje. Nem desfile de rua tem mais”, lamenta.

Terezinha Chiodini (ao fundo, à direita, de camisa xadrez) recorda que os bailes dos anos 50 eram animados e concorridos. A turma de chapéu era do grupo do Zé Marmita | Foto Arquivo Pessoal

Dona Terezinha lembra que, naquele tempo, os bailes do Clube Baependi eram bem concorridos e divertidos. As fantasias, de acordo com ela, não eram muito rebuscadas, bastando um chapeuzinho ou outro acessório. “Era mais simples, mas muito alegre. Era seguro e bem controlado. A diretoria ficava cuidando para não dar confusão. Não havia briga e, quando acontecia algum desentendimento, era resolvido de imediato. Tinha mais educação da parte das pessoas”, comenta. Entre as curiosidades sobre a festa, conta que era espalhado fubá no salão para ficar bem liso e escorregadio para os bailes, que eram animados por bandas populares e famosas, como a Cassino de Sevilha – de origem espanhola, que fez sua primeira turnê no Brasil nos anos 50.

Conforme a historiadora Silvia Toassi Kita, o Carnaval teve início em Jaraguá do Sul na década de 1930, com incentivo do médico baiano Álvaro da Costa Batalha, que atuou no município entre os anos 1933 e 1949. Apreciador da festa, ele costumava ornamentar o carro para desfilar nas ruas. Em 1938, foi criada a escola Estrela D’Alva por Manoel Rosa, o mestre Manequinha.  Sua escola é considerada a mais tradicional do município. Os bailes de carnaval eram realizados na Sociedade de Atiradores, no Salão Buhr, e a partir de 1938 também no Clube Aymoré – primeiro no prédio de Tufie Mahfud e, depois, no prédio escolar da Comunidade Evangélica.

Os foliões de 1935: Geraldo Harnack (E) e Arno Adolfo Germano Müller (D), na época com 17 anos. Segundo Carmen Mueller, filha de Arno, o componente do centro da foto não foi identificado | Foto Arquivo Pessoal

HISTÓRIA DO CARNAVAL

O Carnaval começou por volta de 600 anos a.C. na Grécia, quando o povo comemorava a festa da colheita em homenagem ao Deus Dionísio. Mais tarde, espalhou-se pelo mundo romano e chegou até Veneza, na Itália. Lá, o Carnaval tomou as formas parecidas com o de hoje, com uso de máscaras, fantasias, desfiles e carros alegóricos. Em 1545, no Concílio de Trento, a Igreja Católica reconhece a celebração como uma manifestação popular de rua e o Papa Gregório XIII transforma o calendário Juliano em Gregoriano, marcando a festa sempre antes da quaresma para não coincidir com a Páscoa. Assim, o Carnaval cai sempre no sétimo domingo antes da Páscoa. No Brasil, a tradição chegou em 1723 com os imigrantes portugueses da Ilha da Madeira, Açores e Cabo Verde. O primeiro registro de baile de Carnaval é de 1840. E em 1855, surgiram os primeiros clubes carnavalescos precursores das atuais escolas de samba. Em 1884, aconteceu o primeiro Carnaval de rua no Rio de Janeiro. A primeira escola de samba foi fundada em 1928, no bairro do Estácio, e se chamava Deixa Falar. Atualmente, esta grande festa brasileira atrai pessoas de todo o mundo.

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